07/10/2025 - 17:00
O Kia Soul sempre foi um daqueles carros sem muito segmento definido: alguns apostavam em um hatch, outros diziam que ele era um crossover, e tinha até quem colocava ele no mesmo naipe de monovolumes. De qualquer forma, o modelo fez sucesso mundo afora não só por essa proposta “fora da caixinha”, como também pelo visual que agradava. Não por menos, era chamado pela Kia de “Carro Design”.
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Kia Soul, o conceito

Sua primeira aparição deu-se no Salão de Detroit em 2006, inda na fase de conceito, mas já com o nome oficial de mercado. O visual já adiantava 80% do que veríamos nas concessionárias algum tempo depois, já que sua estreia com as linhas definitivas ocorreu no Salão de Paris em 2008. Na época, a Kia declarava que era um modelo focado nas Américas, e queria atingir um público-alvo mais jovem e descolado.

Desenhado sob liderança do “mago” Peter Schreyer, que fez sua fama na Audi e VW, o Kia Soul utilizava a plataforma PB, mesma do nosso HB20 ou Creta. Por isso, e também pela aposta de motores pequenos (inclusive o 1.6 16v do nosso HB20), sempre foi um carro com relativo baixo custo de produção e, consequentemente, preços não muito altos no mercado. Nos EUA, foi porta de entrada da Kia por muitos anos.

Kia Soul chega ao Brasil
Enquanto emplacava bem nos EUA, sua chegada ao mercado brasileiro ocorreu em meados de 2009, já com o motor 1.6 16v e bom pacote de equipamentos. Como vinha da Coréia do Sul, acabava tendo preço mais salgado que o dos rivais (Honda Fit, Nissan Livina, Renault Sandero e até Ford EcoSport), o que já criava um impasse. Outro era a ausência da tecnologia flex no seu motor, já que os primeiros lotes bebiam só gasolina. Passou a beber etanol só no início de 2011, prestes a mudar o visual.

A primeira reestilização vinha no final de 2011, para a linha 2012, quando o Soul passou a trazer linhas mais esportivas e urbanas, perdendo as partes em plástico preto em prol de black piano e cores metálicas. As rodas cresceram, os pneus ganharam perfis mais baixos, e o interior passou a oferecer mais luxo. Enquanto isso, a Kia já sofria com a falta de fábrica no Brasil e novas leis de impostos sobre carros importados. Os preços ficaram maiores, e as vendas encolhiam.

Um dos motivos é que, dependendo da versão, com o preço do Kia Soul era possível comprar um hatch médio na concorrência, inclusive um Hyundai i30, também coreano. VW Golf, Ford Focus e outros similares entravam na jogada, enquanto o próprio segmento do Soul crescia com a estreia de Citroën Aircross ou Renault Duster.
Ainda assim, essa primeira geração, incluindo a reestilização de meia-vida, foi o maior sucesso do Kia Soul no mercado brasileiro: quase 35 mil emplacamentos entre 2008 e 2014, dos quais pouco mais de 30 mil ainda estão em circulação, de acordo com dados do Denatran. Parece bastante, mas a concorrência, de fabricação nacional e preços mais condizentes, sempre o ultrapassou nas vendas.

Nova (e caríssima) geração
A segunda geração, muito baseada na primeira, desembarcou por aqui no segundo semestre de 2014, meses depois do lançamento mundial. Era basicamente uma releitura, mais moderna, da primeira geração, mantendo base mecânica, motorização e outros parâmetros. Na ocasião, a Kia do Brasil mudava os planos, e posicionava o Soul como carro premium, rival de Audi, BMW, Mercedes e afins, por quase R$ 90 mil.

O resultado prático? Números do Denatran indicam pouco mais de 1.800 carros emplacados no Brasil entre 2014 e 2019, seu último ano de vendas por aqui. Fracasso total. A Kia oficializou a saída de linha do Soul no nosso mercado no início de 2020, ainda que tenha tentado vender a terceira geração por aqui no meio da pandemia de COVID-19, com valores estratosféricos, dignos de SUVs médios intermediários. Se já não ia bem, piorou.
EUA: sucesso
Nos EUA, a coisa foi totalmente diferente: o Soul vendia bem, obrigado. Teve seu auge em 2015, quando, segundo a própria Kia, teve mais de 147 mil exemplares vendidos por lá. Números próximos disso foram obtidos em 2014 e 2016, também, num momento que o modelo já enfrentava o ostracismo aqui no Brasil.

Fim de linha do Kia Soul
Agora, oficialmente, a Kia confirmou que a produção do Soul, ainda na terceira geração, deve se encerrar agora em outubro. Os EUA eram um dos poucos países que ainda tinham o modelo no catálogo, com vendas ainda razoáveis, de aproximadamente 52 mil unidades em 2024 (número da própria fabricante). No total, foram mais de 1,5 milhões de carros comercializados nos Estados Unidos, país do seu maior sucesso.

A saída de linha do Soul se deve às novas estratégias da Kia: a marca coreana prefere focar em modelos híbridos ou 100% elétricos, sempre apostando numa receita de SUV mais tradicional, e deixando de lado a pegada hatch/monovolume. Além disso, essa atual geração já passa dos seis anos de estreia, então tem seu ciclo encerrado também pelo tempo de produção. Ela não terá sucessor, encerrando de vez a carreira do “Carro Design”.