A marca Lexus foi fundada pela Toyota nos EUA em 1987. Nessa época, a Mercedes já comemorava cinco anos de sucesso de vendas de sua Classe C, que, hoje, contabiliza a venda de mais de cinco milhões de unidades em todo o mundo. O que isso significa? Na prática, muito pouco. Além da tradição e do status da estrela no capô (que por si só podem decidir a compra emocional de um Mercedes), o Classe C 280 deste comparativo não mostrou ter muitos atrativos para desbancar o ES 350. A começar por suas dimensões e pelo espaço interno.

O Lexus tem 4,85 metros de comprimento e 2,78 m de entreeixos. A carroceria do Mercedes, apesar de ter crescido consideravelmente nesta nova geração, ainda fica atrás com 4,58 metros, dois quais 2,76 metros são reservados ao entreeixos. Na largura, ambos os modelos ficam devendo um pouco mais de espaço para os ombros, mas o ES 350 se dá melhor também nessa medida. Na verdade, ele perde para o Classe C apenas na altura. Em números, ele é até 2 cm mais alto, mas, devido ao desenho da carroceria e à disposição do habitáculo, o interior do Lexus parece mais claustrofóbico. A cabeça de um motorista de estatura média fica muito próxima do teto, causando desconforto não encontrado no Mercedes.

O Classe C, apesar de recentemente remodelado, ainda tem design muito comportado para o segmento

Os apliques prateados do Mercedes são mais elegantes e de bom gosto. E a posição de dirigir é mais esportiva. Entre os equipamentos de série, destaque para o bluetooth (operado através de uma espécie de mouse, juntamente com o resto do sistema multimídia com comando de voz), faróis bixênon e ar três zonas

A bordo, a primeira impressão que se tem do Lexus não é das melhores. “Pensado” para o gosto do consumidor norte-americano, os detalhes de plástico que imitam madeira são de gosto bem duvidoso para os padrões brasileiros. E, ao olhá-los, é difícil não torcer o nariz. O alumínio usado no Mercedes é, sem dúvida, bem mais agradável. Mas o Lexus logo mostra que tem outros atributos para “conquistar” a admiração do consumidor, como o pacote de equipamentos. Claro que modelos que custam mais de R$ 200 mil têm que oferecer uma lista de itens bem completa. E é o que acontece com os dois oponentes deste comparativo (confira tabela à esquerda, com os principais equipamentos). Mas o Lexus, apesar de faltas imperdoáveis como as do Bluetooth e do sensor de estacionamento, compensa o deslize ao trazer airbags de joelho (além dos dianteiros, laterais e de cortina também disponíveis no Mercedes) e ao oferecer mimos ao usuário como uma cortina no vidro traseiro que bloqueia o sol e refrigeração nos bancos dianteiros.

A primeira impressão que se tem a bordo do Lexus não é das melhores, em razão dos apliques plásticos que imitam madeira. Mas aos poucos o modelo mostra refinamento: botão de ignição (dispensa a chave), airbag de joelho, refrigeração dos bancos, cortina corta sol… mas a falta do sensor de estacionamento é imperdoável

V6 3.0 de 231 cv a 6.000 rpm se impõe de forma violenta. O câmbio automático de sete marchas (único no mundo) é fluido, ágil e bem escalonado e garante aceleração vigorosa (para chegar aos 100 km/h ele demora 7s3) e retomadas incrivelmente ágeis, aproveitando de maneira impecável o excelente torque de 30,6 kgfm que permanece estável das 2.500 às 5.000 rpm. O Lexus, em contrapartida, prima pela suavidade. Tem um motor maior, de 3,5 litros com 284 cv a 6.200 rpm, mas que parece, em princípio, mais manso que o do rival.

O espaço disponível no Lexus é muito maior que o do Mercedes, mas na altura o ES 350 é mais claustrofóbico

De qualquer forma, seus 35 kgfm de torque a 4.700 rpm estão sempre disponíveis ao comando do acelerador e, ao lado do câmbio automático de seis marchas com opção seqüencial, garantem uma aceleração progressiva e confortável, com um consumo de combustível impressionantemente baixo. Acelera de zero a 100 km/h em cerca de 7 segundos (o mesmo que o Mercedes) e atinge a máxima de 220 km/h gastando, em média, 11 km/l. O silêncio do habitáculo (que já era incrível no modelo anterior e perseguido por todos os construtores de sedãs de luxo, melhorou ainda mais nessa nova geração) é tamanho que o motorista nem percebe quando o ponteiro do velocímetro se aproxima dos 200 km/h. Uma delícia, seja quando está sendo conduzido na estrada lisinha, seja nas esburacadas ruas das grandes cidades.

Os ombros dos passageiros traseiros ficam um pouco sacrificados tanto no Mercedes quanto no Lexus. Carros dessa categoria deveriam ter habitáculos mais largos

Apesar de a suspensão do Mercedes contar com amortecedores ativos, que modificam suas forças de acordo com a necessidade, a filtragem das irregularidades parece ser melhor no Lexus, que, além disso, raspa menos em lombadas e buracos. Já no comportamento em curvas, ambos são impecáveis, balançam pouco, têm excelente aderência e direção precisa e direta, comportando-se como verdadeiros esportivos. E, é bom que se diga, freiam dignamente.

A carroceria maior do Lexus permite que os passageiros usufruam de mais espaço a bordo, mas a opção por um teto em arco contribuiu para uma limitação do vão acima acima da cabeça

São dois modelos recém-atualizados que têm tudo para agradar ao consumidor exigente desse segmento. Quem prima pelo conforto sem abrir mão do desempenho tende a ter uma surpresa muito agradável a bordo do Lexus. Mas um Mercedes é sempre um Mercedes e, nesse caso, custa R$ 5 mil a menos, o que pode já ser argumento suficiente para os fãs incondicionais da marca. Pena que a Classe C seja ainda tão conservadora em suas linhas… Se fosse um tanto mais arrojada, combinaria muito mais com a sensação de velocidade e fortaleza que se tem ao volante.