31/10/2016 - 14:06
SUV significa Sport Utility Vehicle (Veículo Utilitário Esportivo). Trata-se, na origem, de uma perua sobre o chassi de uma caminhonete. Por isso, até recentemente, os SUVs eram considerados “comerciais leves” pela legislação brasileira. No início até fazia sentido, mas o gosto dos consumidores por esses veículos robustos aumentou tanto, em todo o mundo, que os fabricantes acabaram transformando-os em carros normais.
Inicialmente, os SUVs mantiveram a robustez e a capacidade off-road, mas ganharam conforto, um item que faltava nos veículos originais. Como é próprio da sociedade de consumo, porém, as aparências passaram a contar mais do que os reais atributos e hoje vivemos uma situação em que quase todos os carros com o mínimo apelo “aventureiro” são chamados de SUVs. Mas isso é errado.
Os primeiros utilitários esportivos tinham a carroceria montada sobre um chassi (duas longarinas que unem os eixos dianteiro e traseiro). Mas esse tipo de veículo é instável, desconfortável; parece um caminhão. Por isso, alguns fabricantes abandonaram a construção sobre chassi e adotaram a carroceria tipo monobloco, que é uma peça de aço única montada diretamente sobre os eixos dianteiro e traseiro. Isso deu a esses carros muito mais segurança e um comportamento dinâmico parecido com o de um automóvel normal. A diferença é que tinham grande altura do solo e também o teto bem alto. E suas linhas eram retas, valorizando mais a praticidade do que a aerodinâmica e a beleza exterior.
O primeiro SUV que se popularizou no Brasil foi a Rural Willys. Era motada sobre o chassi do Jeep Willys, que tinha também uma versão caminhonete. A Rural era chamada de perua e tinha tração 4×4 com reduzida. Nos Estados Unidos, a Rural foi substituída pelo Jeep Cherokee. Outro SUV pioneiro no mercado norte-americano é o Chevrolet Suburban, uma enorme perua montada sobre chassi de caminhonete.
No final dos anos 1990, a BMW revolucionou o segmento, lançando o X5, o primeiro SUV da marca. Ao contrário de carros como o Mitsubishi Pajero e o Nissan Pathfinder, que eram derivados de picape, o BMW X5 ganhou uma plataforma própria. Outro carro notável foi o Porsche Cayenne, que reuniu o desempenho do 911, o espaço de um Mercedes e a capacidade off-road de um Jeep. Então, em 2007, a Nissan deu nome a um novo tipo de carro: o crossover. Com o lançamento do Nissan Qashqai, a marca japonesa mostrou que era possível fazer um carro compacto cruzando as características de um SUV com as de um hatch. E então a indústria passou a produzir crossovers de todos os tipos e tamanhos, unindo características de hatches, sedãs, cupês, peruas, minivans e até conversíveis com as de um Sport Utility Vehicle.
O problema é que muitos departamentos de marketing determinam que qualquer carro desse tipo deve ser chamado de SUV. É verdade que até hoje não existe consenso sobre o que é de fato um utilitário esportivo. Mas como pode, por exemplo, o Dodge Journey ser um crossover e o Fiat Freemont ser um SUV? São exatamente o mesmo carro. Só o logotipo é diferente.
Para alguns especialistas, somente os carros com carroceria sobre chassi e capacidade off-road merecem ser chamados de SUV. Nesse caso, só o Toyota SW4 e o Chevrolet Trailblazer mereceriam esse título, na lista dos 40 “SUVs” mais vendidos do Brasil. Outros especialistas são mais maleáveis e consideram outros aspectos, uma combinação do ângulo dos vidros dianteiro e traseiro, altura da carroceria e capacidade off-road. Prefiro considerar essa última para dizer separar o joio do trigo nessa questão dos SUVs e dos crossovers.
Portanto, mesmo sabendo que o tema é polêmico e posso ser contestado por fabricantes e leitores, digo que só existem 12 SUVs de verdade entre os 40 “SUVs” mais vendidos do Brasil. São eles: Jeep Renegade, Renault Duster, Toyota SW4, Hyundai Tucson, Land Rover Discovery, Mitsubishi Pajero, Chevrolet Trailblazer, Suzuki Grand Vitara, Land Rover Range Rover, Lifan X60, Mercedes GLE e Kia Sorento.
A lista dos SUVs de araque, que na verdade são crossovers (alguns com boa capacidade off-road), é a seguinte: Honda HR-V, Ford EcoSport, Hyundai ix35, Peugeot 2008, Chevrolet Tracker, Nissan Kicks, Mitsubishi Outlander, Mitsubishi ASX, Kia Sportage, Audi Q3, BMW X1, Mercedes GLA, Volvo XC60, Honda CR-V, Land Rover Evoque, Chevrolet Captiva, Toyota RAV4, Hyundai Santa Fe, Volkswagen Tiguan, Dodge Journey, JAC T5, Subaru Forester, Mercedes GLC e BMW X4.
Acrescento na lista dos SUVs de verdade: Jeep Compass, Audi Q7, Volkswagen Touareg, BMW X3, BMW X5, Mercedes GLS e Porsche Cayenne.
Acrescento na lista dos crossovers: Suzuki Vitara, Porsche Macan, Peugeot 3008, BMW X6 e Audi Q5.
Tenho dúvidas sobre o atual Jeep Cherokee, pois ele tem um passado de SUV, mas hoje mais parece uma perua off-road (portanto, seria um crossover). Quanto ao Citroën Aircross, décimo colocado no ranking de SUVs, não é nem uma coisa nem outra – trata-se apenas de uma versão aventureira do C3 Picasso. E o Suzuki Jimny e Troller T4 (24º e 25º colocados, respectivamente), são carros para prática de off-road, os chamados jipinhos.
Não quero ser o dono da verdade e posso mudar de opinião sobre alguns modelos. Mas acho que já passou da hora de pararmos de chamar de “SUV” qualquer carro que tenha posição de dirigir um pouco mais elevada ou que tenha aspecto aventureiro. Seria o mesmo que chamar todos os hatch de cupê só porque é a modinha da vez.
P.S. do dia 05/11 – Conforme eu tinha previsto e escrito, mudei de ideia em relação a três carros, considerando também a distância mínima do solo junto com o design. Subi para a condição de SUVs o Hyundai Tucson, o Lifan X60 e o Kia Sorento (apesar de eles não terem versão 4×4 no Brasil). Desci para a categoria de crossover o Mercedes GLC. Apesar da contestação dos leitores, mantenho minha opinião sobre o Hyundai Santa Fe/Grand Santa Fe, pois não posso considerar um SUV de verdade um carro que tem apenas 185 mm de vão livre do solo. Por outro lado, devido ao design extremamente parecido com o de um hatch elevado, não considerei o Volvo XC60 um SUV autêntico, apesar de seus 230 mm de altura livre do solo.