Esqueça a decadência da última edição do Salão de Franfkurt (Alemanha) em 2009. No auge da crise econômica mundial, os números de expositores e lançamentos caíram bruscamente. Mas isso é passado. Neste ano, quando se comemora 125 anos do automóvel, o clima foi outro. Nos dias de imprensa, quando eu e mais 1.011 jornalistas estivemos no salão, era clara a empolgação com o número de lançamentos mundiais (89 ao todo), com a área recorde dos pavilhões (235.000 m2) e com 1.007 expositores, 28% a mais que em 2009.

Entre 15 e 25 de setembro, os compactos eram as maiores estrelas: o Renault Twingo já foi vendido no Brasil, mas dificilmente volta; o Fiat Panda é a versão europeia de nosso Uno; e o Volkswagen Up!, além de um grande lançamento para o mundo, deve ser, no Brasil “um novo Fusca” (leia na última página).

Mas claro que os três não brilharam sozinhos. Havia muitos esportivos, sempre disputados pelo público, e outros modelos importantes, como o novo Mercedes Classe B, que chega ao Brasil no ano que vem e será base para uma nova família de compactos da marca (leia a entrevista na página ao lado), e o moderno Citroën DS5 – que não se sairiam mal na seção de esportivos e chegam ao Brasil junto com os “irmãos” DS3 e DS4 no ano que vem (o anúncio foi feito antes do aumento do IPI para importados).

 

Até o fechamento desta edição, estimava-se em mais de 800 mil o número de visitantes. Só nos quatro primeiros dias, foram 350 mil

 

 

 

Panda e Twingo foram renovados e ganharam motores mais econômicos, seguindo a tendência de mercado

 

MERCEDES NO BRASIL

Philipp Schiemmer, vice-presidente global de marketing da Mercedes- Benz, trabalhou no Brasil de 2004 a 2009. No estande da marca no Salão de Frankfurt, ele concedeu entrevista a um pequeno grupo de jornalistas.

A importância do mercado brasileiro aumentou na última década?

Philipp Schiemmer – Em 2004, vendíamos 500 Mercedes importados por ano. Este ano vamos vender 10 mil. Temos perspectiva de crescer mais ainda. Isso por vários fatores. Primeiro, a estabilidade econômica e os juros mais baixos. Além disso, o câmbio mais favorável também ajuda e hoje temos produtos mais adequados para o Brasil, mais competitivos.

O Classe A não foi certo para o Brasil?

Acho que ele veio cedo demais.

Então não é hora de a Mercedes voltar a fazer carros no Brasil, como a BMW pretende?

Estamos estudando. Temos chance de crescer muito as importações e estamos analisando o mercado brasileiro sempre. Produzindo localmente, você consegue economizar o imposto de importação. Mas é preciso ter mais de 60% de nacionalização… aí no CKD sempre sai mais caro.

Mas o CKD é um começo, não?

É um começo. Não falo que o caminho é errado, ao contrário… Sem o CKD, podemos ser competitivos, mas estamos analisando. Temos de ver o produto certo para o Brasil.

O brasileiro prefere hatch ou sedã?

O produto certo para o brasileiro ainda é o sedã. Um carro para a família.Um SUV também tem muito potencial.

A Mercedes achou que não valia a pena fazer carro no Brasil, a Audi achou que não valia a pena. Agora a BMW quer fazer…

Hoje o mercado voltou a ser interessante. Se houver uma chance de voltar a fabricar no Brasil, vamos voltar. Primeiro, precisamos ter os produtos certos. Entre os novos produtos da linha compacta – o primeiro é o Classe B – podem surgir produtos muito interessantes para o Brasil.

O Classe A daria certo hoje?

O Classe A era muito pequeno. A Mercedes precisa ter um carro que sirva para a família e preserve a imagem da marca. O Classe A seguirá uma estratégia de módulos. Com base nessa plataforma, faremos cinco carros. O primeiro é o Classe B. Depois vem o Classe A, um hatch menor, esportivo, dinâmico… Aí vai ter um cupê quatro portas.

Esse é o carro certo para o Brasil?

Tem potencial. Mas depois ainda vamos lançar uma perua esportiva, uma shooting break baseada no cupê. Vamos ficar de olho no mercado sempre. Estamos observando.

O novo Hyundai i30 ganhou linhas de design mais atuais da marca, que já são usadas no Sonata e no Veloster

 O conceito adianta o novo Classe A: o monovolume vai virar hatch para encarar o BMW Série 1 e o Audi A3

 

No estande da Hyundai, Veloster e i40 (Sonata) ficaram apagados perto do novo i30. O hatch ganhou o novo visual interno e externo da marca. Maior, na Europa ele será vendido com motor 1.4 de 100 cv ou o 1.6 do Veloster, com 110 cv ou 128 cv. Deve chegar ao Brasil no ano que vem. Já entre os SUVs estavam alguns que certamente virão ao Brasil, como o Range Rover Evoque, avaliado na edição passada, e o Maserati Kubang, primeiro Maserati do segmento e cujas linhas adiantamos com exclusividade. Embora não confirmado, o Mazda CX-5 é um forte candidato a chegar ao Brasil. Como é feito sobre a mesma plataforma do Mazda3, que será produzido no México, deve ser fabricado na mesma unidade para ser vendido a brasileiros e norte-americanos. Interessante também o Ssangyong XIV-1 que, quando virar modelo de produção, certamente será vendido no Brasil.

Em meio à crise de 2009, elétricos, híbridos e ecologicamente corretos em geral pareciam ser a grande salvação, mas de certa forma, ainda uma utopia. Este ano, já são realidade e foram apresentados sem tanto alarde. Elétricos como Opel Ampera e smart e-drive e híbridos como Peugeot 3008 Hybrid4 são modelos de série, reais. Outros, como o Audi A2, devem logo virar carros de produção.

Pouco mais de 125 anos depois de Carl Benz inventar o automóvel, a Mercedes-Benz é uma das poucas que ainda apostam no hidrogênio. Enquanto a maioria dos fabricantes decidiu concentrar esforços em elétricos e híbridos, ela apresentou o conceito F125! Research Vehicle. A marca tem seus elétricos e híbridos, mas quer reinventar o automóvel. Como diz o pôster do salão: “O futuro é item de série”.

Com porte de Mitsubishi ASX e Kia Sportage, o novo Mazda CX-5 é um forte candidato a ser importado do México, se fabricado lá

 O conceito representa bem a nova fase da marca, que lançou no Salão, para os Europeus, o Korando que avaliamos na edição passada

 

AUDI NO BRASIL

Paulo Kakinoff é presidente da Audi do Brasil. No estande da marca no Salão de Frankfurt, concedeu esta entrevista exclusiva à MOTOR SHOW sobre a possibilidade de voltar a fabricar carros no Brasil, como já fez antes.

A BMW vai anunciar sua fábrica no Brasil para produção, a princípio, em CKD. A Audi já fez carros no Brasil. Algo deu errado na época?

Deu muito certo, mas só foi viável porque o A3 dividia plataforma com o Golf e a fábrica não era de CKD. Quando os dois carros deixaram de compartilhar a plataforma, não fazia mais sentido economicamente, pois o mercado premium no Brasil era reduzido. No ano em que a Audi mais vendeu no Brasil, 2001, foram 11 mil unidades, sendo dez mil do A3. Foi o pico de vendas de um modelo na história das marcas premium no Brasil. Uma fábrica, para ser viável sem CKD, tem que fazer 80, 90 mil unidades.

O A3 Sedan (mostrado na MS 340) terá um preço baixo o suficiente para ter volume, para brigar com sedãs top japoneses?

Depende da motorização. Esse A3 Sedan ficaria entre o A3 atual e o A4. Hoje, o A3 Sportback custa cerca de R$ 120 mil – distante dos nacionais e dos mexicanos. Isso está muito mais ligado à estratégia da Audi no Brasil de oferecer só carros completos mantendo nível de conteúdo. Queremos que o encantamento do cliente de ascender a essa categoria seja renovada a cada dia. Não queremos que vire uma frustração…

Como está o mercado nos EUA para a Audi?

Lá vamos bater nosso recorde este ano, passando com folga das 100 mil unidades.

Cem mil lá mais um tanto aqui… Não seria o caso de produzir no México e vender para americanos e brasileiros sem imposto de importação?

A Audi estuda fábricas em todos os lugares do mundo. Nós, seguramente, teremos uma fábrica nos Estados Unidos. A questão é saber quando e como.

Mas não dá uma certa vontade de voltar a produzir carros no Brasil?

Neste momento não faz nenhum sentido para nós. Mas as regras do jogo podem mudar, as condições, desde o câmbio até a tributação (o aumento do IPI – leia mais nesta edição – ainda não havia sido anunciado) e tamanho do mercado. Mas, neste exato momento, não há nenhum plano de fabricação no Brasil.

Se houvesse, qual seria o carro ideal? Um sedã ou um SUV?

Seria sem dúvida um desses dois, mas seria uma escolha difícil. O sedã é o maior mercado, mas o segmento de SUVs é o que mais cresce.

 

A cor vermelha, como já é tradição, continuou sendo predominante nos estandes de modelos esportivos

OS ESPORTIVOS

Para os fãs de esportivos, a maior atração do salão foi o novo Porsche 911 (série 991). Com distância entre-eixos 10 centímetros maior, o modelo está mais baixo e com a frente mais larga. A marca manteve a tradição do motor seis cilindros boxer traseiro, com um 3.4 de 350 cv e um 3.8 de 400 cv. Destaque para o inovador câmbio manual de sete marchas. (a sétima só pode ser engatada se a quinta ou a sexta já estiverem em uso). Para encarar o 911, a inglesa Jaguar mostrou o C-X16, que servirá de base para um futuro modelo com dois lugares,que não deve ser muito diferente deste conceito.

Já a Ferrari apresentou a 458 Spider, com teto retrátil em alumínio que a deixou só 50 quilos mais pesada. Enquanto isso, a Audi exibiu os novos S6, S6 Avant, S7 e S8, todos com o novo motor 4.0 V8 TFSI de até 520 cv e 66,2 kgfm (biturbo com injeção direta). A também alemã Mercedes, dona do maior e mais suntuoso estande do Salão, além do SLS AMG Roadster (avaliado nesta edição), mostrou o C63 AMG Black Series, o mais potente Classe C já produzido em série. Seu tradicional motor 6.2 V8 foi apimentado para 517 cv e as bitolas foram aumentadas. Já a inglesa Aston Martin mostrou o V12 Zagato. Baseado no “irmão” Vantage, tem um motor 6.0 V12 com 510 cv e 56,7 kgfm de torque. Exclusivo, terá apenas 150 unidades produzidas, e cada uma delas será vendida por exagerados US$ 540 mil.

Entre os esportivos mais ao alcance dos simples mortais, a divisão esportiva da Fiat, a Abarth, mostrou duas versões apimentadas do 500, o 695 Competizione, com 180 hp e a série especial 500C Italia, com motor turbo de 160 hp. Já a Ford destacou o Fiesta ST, versão apimentada do hatch que acaba de chegar ao Brasil (leia mais nesta edição). Seu motor é um 1.6 EcoBoost de 180 cv e 24,4 kgfm de torque, que trabalha em conjunto com um câmbio manual de seis marchas. Segundo a Ford, ele acelera de zero a 100 km/h em menos de sete segundos e alcança a máxima de 220 km/h. Outras novidades são o Mini Cooper Coupé (também avaliado nesta edição) e o Jeep Cherokee SRT8.

(Fabiano Mazzeo)

Audi V8 4.0 TFSI

O novo motor Audi tem um sistema de desativação de cilindros. Não é inédito, mas está sendo aclamado como a salvação dos motores V8

 

 

M5: AGORA TURBINADO

A BMW apresentou a quinta geração do M5, agora o BMW mais potente de todos os tempos. Pela primeira vez em seus 27 anos de história, o modelo usa um motor turbo – nesse caso um V8 biturbo de 4,4 litros com 560 cv, que, apesar de ser apenas 10% mais potente que o anterior, teve o torque aumentado em 30,9% (agora são 69,4 kgfm). O modelo acelera de zero a 100 km/h em 4,4 segundos e a velocidade máxima é limitada em 250 km/h (ou liberada para 305 km/h com o pacote M Driver).

O gerente de produto para o BMW M5, Jörg Hermann, falou à MOTOR SHOW sobre a nova geração do esportivo. Questionado sobre a opção da marca de fazer, pela primeira vez, um M5 com motor turbinado, ele contou que no início do desenvolvimento do carro, a marca tinha dois objetivos. Primeiro, a BMW queria números de performance melhores do que os da geração anterior, mas sem abrir mão da eficiência, ou seja, com bons números de consumo de combustível. Hermann diz que a marca teve sucesso na empreitada: “A nova motorização V8 biturbo conseguiu ser 10% mais potente, com 30% a mais de torque, e ainda assim ser 30% mais econômica”, explicou.

Seguindo a tendência da indústria mundial, Hermann disse que os motores turbo são um caminho sem volta e devem estar em muitos modelos futuros da marca. Apesar de dizer que não previria isso há cinco anos, o executivo explica que, “com o avanço da tecnologia e a busca cada vez maior pela economia de combustível, os motores de cilindradas menores equipados com turbocompressores estão se mostrando cada vez mais eficientes. Só resta agora a M3 para completar o ciclo”.

Aproveitando a deixa, questionamos Hermann sobre os planos futuros da divisão M, responsável pelos esportivos da BMW. “Nós temos objetivos claros de sempre criar veículos que proporcionem o maior prazer de dirigir possível para o motorista, mesmo em produtos que ofereçam grande espaço interno, como é o caso do X6M ou mesmo do novo M5.” Mas teria sido esse o maior desafio na criação da nova geração do M5? Não, segundo Hermann: “A quinta geração do M5 é o BMW de produção mais potente da história da marca, e isso, por si só, foi um grande desafio.” Ele ainda afirmou que a meta era bater um determinado tempo de volta no circuito de Nurburgring, na Alemanha, mas não revelou qual era, exatamente, a meta.

Diferentemente das Ferrari, Lamborghini e cia., criar um carro como o M5 traz ainda outro desafio. “Precisávamos garantir que o carro tivesse a máxima esportividade, mas sem abrir mão do conforto e do espaço interno”, explicou Hermann. Parece que todas as metas foram cumpridas…

(Fabiano Mazzeo)

Com lugar para dois passageiros, o Twizzy tem 2,4 m de comprimento e 1,2 m de largura. Bem menor que um smart, dispensa o uso de capacetes, já que tem airbag. As portas são opcionais

 

O FUTURO CHEGOU

Observe os carros desta página. São veículos pensados para as grandes cidades, para uso urbano e, por isso, com emissão zero de poluentes. Mas são sonhos de designers, veículos conceito, certo? Não exatamente. A Renault adiantou o futuro e começa a vender ainda este ano o Twizzy, ao lado. Serão oferecidas duas versões do pequeno elétrico: a primeira, de ? 6.990, é indicada para quem não tem carteira de habilitação, tem apenas 5 cv e atinge a velocodafde máxima de 45 km/h; a segunda, de ? 7.690, tem 17 cv e atinge 80 km/h. Com autonomia de 100 quilômetros, ele é carregado em uma tomada convencional em três horas e meia. Há um porta -malas para dez litros na dianteira e outro, para 31, na traseira. A bateria não faz parte do carro e é alugada por ? 50/mês.

A Renault chegou primeiro, mas não é dona da ideia. Na verdade, o pioneiro desse conceito, mesmo que movido a gasolina, é o smart – que, no salão, ganhou uma versão totalmente elétrica. E outras marcas estão trilhando o mesmo caminho. A Opel, divisão europeia da General Motors, mostrou o RAK e, um pouco maior e mais veloz, mas também para dois passageiros e elétrico. Segundo a marca, ele “tem um potencial real de produção”. Também com o mesmo conceito, a Audi exibiu seu Urban Concept, construído com plástico reforçado com fibra de carbono, espaço para dois passageiros, recarga em uma hora e velocidade máxima de 60 km/h. E a Volks não ficou fora desse novo segmento – mas assim como a Audi, trata-se apenas de um conceito. Batizado de NILS, ele, no entanto, leva apenas um passageiro. Tem um motor elétrico com até 34 cv.