“É

como dirigir um Audi”, disse um colega jornalista, enquanto me passava a chave do novo Volkswagen CC. Estávamos em Nice, no sul da França, onde, durante o mês de janeiro, a marca recebeu a imprensa especializada para as primeiras impressões a bordo do modelo. O local não foi escolhido por acaso. Com essa nova geração, o cupê quatro portas foi reposicionado na linha VW. A partir de agora, ele não é mais uma versão do Passat. Com 320 mil unidades vendidas ao redor do mundo, o carro recebeu mais equipamentos, ficou ainda mais sofisticado e abandonou a família, ganhando vida própria, entre o Passat e o Phaeton. Por isso, a elegante Riviera Francesa foi o palco do lançamento global do carro, que, a partir de agora, passa a se chamar apenas CC, de comfort coupé. As mudanças mais evidentes foram no design dianteiro e traseiro, que ganhou sofisticação.

O motor continua o mesmo seis cilindros transversal 3.6 com injeção direta de 300 cv e trabalha acoplado a um câmbio automatizado de dupla embreagem com seis marchas. A tração é 4Motion e funciona por demanda, mas, em condições normais, 90% do torque é enviado para o eixo dianteiro. Ele faz curvas com uma precisão irritante! Não há indício de desequilíbrio. Dependendo da estrada, chega a ser até monótono. O carro é extremamente confortável e o novo tratamento acústico – que envolveu a carroceria, o painel e os vidros – deixou os ocupantes do CC absolutamente isolados do mundo. Não se ouve nada além dos pneus em contato com o solo.

 

A geração anterior (acima) é menos sofisticada. Note como a grade com aletas verticais e os faróis bixênon são mais refinados (abaixo)

Na geração anterior (acima) o desenho das lanternas não é tão bemresolvido. O novo (abaixo), segundo a marca, transmite mais precisão

Para abrir o portamalas, basta deixar a chave no bolso e passar o pé por baixo do carro. Ele comporta bons 532 litros de bagagens

O torque de 36 kgfm se mantém entre 2.400 e 5.300 rpm e o carro roda tranquilo, entregando potência com suavidade. Os bancos são macios – apesar de esportivos – e o habitáculo é mais amplo do que suas linhas sugerem. A única dificuldade é entrar a bordo sem bater a cabeça, principalmente no banco de trás. Mas, uma vez acomodados, os quatro ocupantes têm espaço de sobra. Atrás, há dois bancos individuais com um grande porta-objetos central. Sob encomenda, ele pode oferecer lugar para três. Mas o modelo é ideal mesmo como um cupê 2+2. Quer levar mais gente? Então, vá de Passat sedã.

 

Apesar de excelente, o acabamento não é equivalente ao de um Audi de mesma categoria. Já a dinâmica é comparável. O espaço para quatro pessoas é ótimo

Como se não bastasse tamanha sensação de robustez, eficiência e conforto, a marca encheu o carro de tecnologias comuns em modelos da Mercedes, da Audi ou da Volvo, mas raras de ser vistas em um Volkswagen. Ao menos todas elas reunidas. A assistência eletrônica é tanta que você começa a pensar que sua presença ali, atrás do volante, beira o dispensável. Além das janelas acústicas e com filtro de raios ultravioleta, o carro lê as placas da rua e as reproduz na tela do GPS. Ele ainda detecta a presença de outros veículos, alertando o piloto e até resistindo à mudança de faixa, caso identifique que há uma possibilidade de colisão. Associado a esse dispositivo, chamado de Side Assist, há um outro, o Lane Assist, que tem a responsabilidade de manter o carro dentro da faixa de rolamento. Por pequenos trechos, dá até para soltar as mãos do volante e ele vai jogando o carro, sutilmente, de um lado para outro, para recolocá-lo dentro das linhas pintadas no asfalto. Semelhante aos sistemas do Audi Q3, avaliado na edição passada.

Se o piloto automático estiver acionado, caso você se aproxime perigosamente do carro da frente, ele trata de diminuir a velocidade. À noite, não precisa se preocupar com o farol, que adapta o feixe de luz para garantir a melhor iluminação sem ofuscar no sentido contrário. Sorte o CC ter detector de fadiga, que identifica a sonolência do motorista e avisa (com uma luz espia em forma de xícara de café) que é hora de fazer uma pausa. Se não obedecer, ele fica apitando na sua orelha a cada 15 minutos. Providencial em um automóvel que dá tão pouco trabalho ao motorista! Mas, antes que esse dedo-duro pegue você no pulo, dá para apimentar o passeio.

Pise fundo no acelerador. O câmbio DSG reduz as marchas com rapidez, sem trancos (nem precisa usar as trocas manuais), o V6 ruge alto e o carro mostra sua veia esportiva. Esqueça o quatro portas pacato de minutos atrás. Aproveite do cupê valente que acelera de zero a 100 km/h em 5,6 segundos e chega aos 250 km/h. Sim, ele também tem seu lado valente, capaz e muito empolgante.

Realmente, meu colega tinha toda a razão: é como dirigir um Audi. A rigor, a única diferença entre eles está no acabamento. Apesar de excelente, fica abaixo do parente mais nobre.

Certamente, essa é uma diretriz do grupo. Um VW jamais poderá ser tão sofisticado quanto seu equivalente da Audi. Na Europa, isso é compreensível. Lá o CC V6 custará cerca de € 40 mil ou R$ 80 mil. Já aqui, o modelo (que chega no segundo semestre) não sairá por menos de R$ 200 mil ou € 88.000! E muitos desses itens de tecnologia podem não estar no pacote Brasil. Aí, até mesmo o engenheiro de desenvolvimento de produto da marca, Björn Homann, reconhece: “É um valor bem alto para este carro.”