Acima, Carlos Cunha a bordo de um Astra realizando a manobra do salto, que é uma das principais de seu show

Fazer manobras audaciosas que levem o público ao delírio é a profissão de Carlos Cunha. Sempre muito envolvido com automobilismo, o piloto já foi campeão da Stock Car Light e participou do Rali dos Sertões. Agora faz os shows de abertura de cada etapa da Stock Car, além de realizar apresentações em eventos pelo Brasil inteiro com sua equipe. Dono de um currículo impressionante, teve seu nome escrito no Guinness Book seis vezes, sendo que em duas delas superou seu próprio feito, como no caso do recorde de percurso em duas rodas (que de 33 km, passou a 218 km) e de velocidade em duas rodas (que aumentou de 137 km/h para 155,84 km/h).

Sua equipe é composta por cinco pilotos e um mecânico. Todos treinados por Carlos Cunha, que é o autor da maioria das manobras

Há 33 anos fazendo o show que hoje leva o seu nome, Carlos Cunha diz que as manobras foram a sua base no automobilismo. “Comecei em 1973, quando a Dodge me convidou para fazer uma apresentação. De lá para cá, nunca mais quis parar”, diz Cunha. Atualmente com uma equipe de quatro pilotos e um mecânico, o piloto é quem desenvolve a maioria das manobras do show. Durante as três décadas do Carlos Cunha Show, nunca houve nenhum acidente em público, mas, mesmo assim, o piloto reconhece que por ser uma prática em que o risco está muito presente, é preciso que a equipe esteja em total sintonia, e isso, segundo ele, só é possível com muito treino. “Trabalhamos no limite. Qualquer erro pode se transformar num acidente grave”, afirma.

O mais novo integrante do show é o jovem Thiago Souza, de 26 anos. Antes de entrar para a equipe, ele corria de Jet Ski e conquistou os campeonatos Paulista e Brasileiro, entre outros. Ao ver que estava chegando na idade de se aposentar, recebeu o convite de Carlos Cunha, e encarou o desafio. “Percebi que Thiago já tinha adrenalina no sangue”, justifica o piloto. A primeira apresentação do estreante foi na última etapa do Brasileiro de Stock Car do ano passado, em Interlagos. A par de todas as manobras do show, Thiago teve que treinar durante um ano intensamente para entrar na pista. “Fiquei muito ansioso para começar a apresentação. Não tive medo, mas um frio na barriga sempre dá”, confessa Thiago antes de entrar na pista pela primeira vez.

Na seqüência, Carlos Cunha anda em duas rodas, manobra que é uma de suas principais especialidades. Ele já chegou a percorrer 218 km deste modo. Abaixo, Carlos sai do carro, sobe na porta e comemora com o público que assistia ao seu show em Interlagos

“Trabalhamos sempre no limite. Qualquer erro pode se transformar em um acidente grave”, afirma Carlos Cunha

Com a grande bagagem que tem nas pistas, Carlos Cunha coleciona histórias. Boas ou ruins, sempre são lembradas de um modo divertido pelo piloto, que tem orgulho de ser protagonista da maioria delas. Entre os diversos episódios vividos nas pistas, um que marcou muito foi um acidente sofrido em 1998, quando ainda disputava o campeonato de Stock Car Light. Em um dos treinos que fazia para testar o carro, Cunha perdeu o freio no final da reta oposta do antigo circuito de Interlagos, quando já estava próximo dos 200 km/h. O acidente foi inevitável e seu carro capotou muitas vezes. “Enquanto eu capotava, vi um filme de minha vida. Me arrependi de muitas coisas e passei a pedir a Deus uma segunda chance”, conta.

O carro foi parar em cima do muro da curva do lago. Por estar alto, acima do nível da pista, o piloto achou que havia morrido e que sua alma estava subindo aos céus. “Lembrei do filme Ghost naquela parte em que a alma do personagem começa a subir vendo seu corpo ficar na terra”, diz. Ele só percebeu que ainda estava vivo depois de escutar a voz de outro piloto, que havia parado para socorrê-lo.

“Fiquei muito ansioso para começar a apresentação. Não tive medo, mas um frio na barriga sempre dá”

Thiago Souza, de 26 anos, que era piloto de jet ski e fez sua estréia na equipe de Cunha em Interlagos, no dia em que a equipe de MOTOR SHOW realizava esta reportagem

Outro momento de muito medo para Cunha foi quando bateu o recorde de salto. Toda a imprensa esperava ansiosa pelo feito do piloto, algumas emissoras transmitiam o evento ao vivo e as arquibancadas estavam lotadas de espectadores ansiosos para ver o salto, que deveria ser de 31,42 metros. Mas ventava muito, e com tais condições climáticas, o piloto estava prestes a desistir, pois o risco de o vento interferir no salto era muito grande. “Em um lapso de coragem, entrei no carro, acelerei e saltei. Quando cheguei no chão o pneu estourou, mas felizmente consegui controlar o veículo antes que ele batesse no muro. Foi um alvoroço. Todos vibraram muito. Mesmo assim prometi para mim mesmo que nunca mais iria saltar essa distância”, conta.

Hoje um piloto já consolidado, Carlos Cunha encarou outro desafio ao se dispor a apresentar um programa de televisão aos sábados de manhã, onde passa dicas de direção e mostra tudo que acontece no mundo do automobilismo. Para ele, o segredo de ser um bom motorista é pilotar o carro, e não dirigi-lo. “Ao pilotar você estará sempre com as duas mãos no volante e atento a tudo que acontece ao seu redor, como se estivesse em uma corrida. A única diferença é que você não poderá correr”, compara.

Difícil de acreditar, mas o acidente mais grave de sua vida foi fora do carro e bem longe da pista. Em 1993, durante um show de música, Carlos Cunha foi ao banheiro, escorregou, levou um tombo e fraturou o crânio. Depois de ficar duas semanas internado, perdeu quase todos os movimentos do corpo. “Tive que reaprender a andar. Pela medicina, eu nunca voltaria a fazer o que faço. Creio no poder de Deus e acredito que novamente ele me salvou. Se ainda estou na ativa, devo isso a Ele”, relembra o piloto que, depois do acidente, já fez mais de mil apresentações. Além disso, no começo do ano passado Carlos Cunha teve um infarto. Novamente, os médicos disseram que ele não poderia voltar a fazer shows, mas mesmo assim hoje se sente apto e preparado para muitas outras apresentações, como essa que presenciamos e registramos no autódromo de Interlagos.

O entrosamento dos pilotos é nítido na manobra em que quatro carros derrapam ao mesmo tempo sem um tocar no outro. A seqüência abaixo mostra a manobra em que um carro derrapa na frente do outro, parando poucos centímetros antes de baterem os pára-choques