Em Marrocos, norte da África, Essaouira e Marrakesh são ligadas por estradas asfaltadas, algumas razoáveis, outras boas. Mas elas não faziam parte do nosso test drive – não faria sentido. Afinal, fomos até o país porque, em 1969, os caminhos mais desafiadores daquele cenário de areia e pedras foram vencidos pelo protótipo Avlar, que daria origem ao primeiro Range Rover. Hoje, o talvez mais nobre dos SUVs chega à sua quarta geração. Por isso, fugimos das estradas boas. Para conferir o resultado de quatro décadas de evolução do Range, fomos exatamente aonde tudo começou, em meio a dunas e pedras.

Quando se fala em design, o Range Rover é como o Porsche 911: um clássico que evolui com sutileza. Vindo de clientes tradicionais – gente como a rainha da Inglaterra, Elizabeth, e a cantora Madonna – o pedido era um só: não mudem, melhorem. Objetivo cumprido: a mudança visual foi discreta, mas eficaz. Houve ganhos em aerodinâmica e beleza, mas sem mudar as características clássicas – mantidas em detalhes como as falsas fendas nas portas, sem função prática, e o teto “flutuante”.

Design admirado, é hora de guiar. Deixamos o hotel de Essaouira e, em vez de seguir para Marrakesh, partimos em direção ao mar. Descendo um pequeno barranco, com ridícula facilidade, fugimos da estrada. Seguimos por uma trilha na praia, cruzando dezenas de dunas e um paredão de pedras antes de voltar à estrada – e à civilização. E, acredite, tudo foi fácil demais para o Range. Mesmo com erros graves de quem nunca havia guiado em dunas, o carro atolou poucas vezes. Para sair da situação, todas as vezes, bastou simplesmente engatar a ré. Detalhe: o SUV estava calçado com os pneus originais e calibrados, exatamente como depois andamos na estrada a 160 km/h com silêncio e segurança.

Nas dunas, deu para notar claramente como o Range ficou mais leve, graças ao uso de um novo monobloco de alumínio, uma de suas maiores evoluções. Comparando a nova versão diesel V6 com a antiga V8, a redução chega a 420 kg. Considerando só a carroceria, ele está respeitáveis 300 kg mais leve. Ao volante, isso faz diferença. Com seus 2.330 kg, ainda é bem pesado, mas consegue não passar isso para os pés e os braços do motorista.

Nas pedras, deixei a nova geração do sistema Terrain Response no novo modo automático. Você ainda pode, é claro, escolher altura da suspensão, acionar a reduzida e escolher o tipo de terreno, como antes, e deixar o carro cuidar do resto. Mas o modo automático decide tudo isso sozinho – o que deixa tudo ainda mais fácil. Agora o Range passa por alagamentos de até 90 cm, graças ao novo “snorkel” embutido no capô, que “respira” o ar por um discreto vão acima dos faróis.

As duas versões V8 têm o novíssimo sistema Dynamic Response, que ajusta as suspensões de modo constante, reduzindo a rolagem da carroceria em curvas. O isolamento acústico está ainda mais perfeito e a direção ficou mais precisa e direta, embora um pouco isolada. Com o motor a gasolina, acelera de zero a 100 km/h em 5s4 (menos que um Porsche Cayenne GTS).

Na cabine, o luxo, que já era absoluto, aumentou. Há mais espaço para as pernas e uma nova configuração opcional traseira chamada Classe Executiva, de dois lugares – e, entre eles, um console com geladeira e os controles de inclinação, aquecimento e refrigeração das “poltronas”, que contam com massagem e sistemas multimídia individuais. Há ainda couro de primeiríssima qualidade e novos sistemas de piloto automático adaptativo, monitor de tráfego cruzado e de ponto cego e um sistema de som Meridian com 29 alto-falantes e 1.400 watts.

Defeitos? A interface do sistema de controle comandado pela tela central sensível ao toque, poderia ter ficado mais intuitiva e bonita, assim como a dos mapas do navegador. Ambas são inferiores às dos concorrentes, principalmente Audi e BMW. E o consumo de combustível desse V8 de 510 cv avaliado é excessivo.

No Brasil, o sobrenome Vogue será mantido (embora na Europa represente apenas uma das configurações do utilitário). O “pacote Brasil” não está definido, mas é certo que teremos a princípio apenas as versões topo de linha a diesel (TDV8, por cerca de R$ 500 mil) e a gasolina (V8 5.0 Supercharged, por aproximadamente R$ 480 mil). Não se surpreenda se vir alguns ricaços trocando sedãs de luxo como o BMW Série 7, o Mercedes Classe S e o Audi A8 por um Range Rover.