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A Ford precisava dar uma resposta à Chevrolet sobre o estrondoso sucesso do Opala, lançado seis anos antes. Em 1974 essa resposta estava pronta: a diretoria da Ford brasileira optou por produzir aqui o Maverick, um carro médio oriundo dos Estados Unidos, onde não chegou a ser um sucesso.

Imaginava a direção da Ford que o Maverick  cairia em cheio no gosto brasileiro. Inicialmente, o carro foi lançado na versão cupê duas portas com motores 3.0 de seis cilindros em linha e 90cv, e a versão GT, essa praticamente um puro sangue americano com cambio de 4 marchas e motor V8 de 302 polegadas cúbicas ou 5 litros, quando medido pelo sistema métrico que utilizamos no Brasil.

Se na ergonomia o carro deixava a desejar com suas duas portas grandes e pesadas e um acesso ao banco traseiro muito difícil, quando juntávamos isso ao seu velho motor 6 cilindros (herdado dos Aero Willys), o resultado final era catastrófico.

Nesse segmento o Opala reinava absoluto com um cupê leve, gracioso e com boa performance de seu motor de quatro cilindros. Em contrapartida, quando o assunto era a versão esportiva, o Opala SS com seu seis-em-linha com cerca de 128 cv nos padrões atuais de medição, era espancado e massacrado pelo V8 americano de 5 litros do Ford, que nos padrões atuais desenvolvia cerca de 145 cv. Uma briga de titãs que não ficava restrita apenas às ruas, mas esquentava mesmo era nas pistas de corrida, onde o Maverick quase sempre levava a melhor.

Em meados dos anos 70, eram abundantes os kits americanos que elevavam sobremaneira a potencia dos Maverick GT V8: Coletores com carburador quadrijet, comandos de válvulas mais nervosos, coletores de escapamentos dimensionados, juntas dos cabeçotes mais finas que aumentavam a taxa de compreensão e outros mimos que, quando utilizados conjuntamente, faziam a potencia do robusto V8 beirar a casa dos 200cv dos padrões atuais.

Se a fama do Maverick GT já era de um carro muito veloz, com esses equipamentos importados da terra do Tio Sam eles se tornavam praticamente imbatíveis nas acelerações e na velocidade máxima. Carros que, seguramente, marcaram o seu tempo e sua época daqueles jovens que cresceram ouvindo o som afinado de seu V8. O Maverick GT foi o sonho dos jovens da segunda metade dos anos 70 e nos anos 80.

Mas, claro, que houve algumas aberrações. Em 1975 a Ford lançou o Maverick 4 portas, um verdadeiro horror de design. O pai de um amigo, que estudava comigo no 2º grau, comprou um Maverick V8 e o jovem alardeou essa novidade para os amigos.

Inicialmente pensamos que fosse um GT. A molecada só falava nisso. Até que um dia o japonês foi para a aula com o carro do pai, para exibir ao colegas da escola. Uma aberração: além de um horrível 4 portas o carro tinha banco inteiriço na frente e cambio de 3 marchas com a alavanca de mudanças na coluna de direção. Para completar, tinha pneus finos e calotas horrorosas. Por isso, o que parecia ser um super carro do pai do japonês era na realidade uma catástrofe sobre rodas. Coisas da época…

Mais essas versões pouco comerciais não invalidaram a grandeza do que foi o Maverick GT V8 no cenário automobilístico brasileiro. O carro foi um sucesso nas ruas, tirando suspiros das moças e reverência dos rapazes por onde quer que passasse. Respeito era a palavra de ordem quando um Maverick GT pedia passagem. Um verdadeiro mito de nossas ruas e estradas.

Não é à toa que o carro é referência até hoje no mercado nacional. Um Maverick GT V8 em bom estado de conservação ou restaurado supera fácil a casa dos R$ 100 mil. E o fato de serem raros eleva ainda mais as alturas o seu preço já bastante inflacionado. É a aplicação pratica da lei da oferta e da procura: poucos são ofertados e muitas são as pessoas querendo comprá-lo.

Uma clara indicação de que o brasileiro gosta, respeita e procura pelos GT’s que foram lançados em nosso mercado ao longo desses anos, e que continuaram sendo o sonho de consumo de todos aqueles que gostam de carro.