Quando o carro-conceito F800 Style foi apresentado com destaque pela Mercedes no Salão de Genebra, em março deste ano, o mundo viu naquele protótipo a função de antecipar as linhas de design do novo CLS. Da mesma forma, quando o concept Shooting Brake foi mostrado recentemente no Salão de Pequim (leia reportagem nesta edição), deixou ainda mais claras as intenções de estilo da marca para o seu sedã. Mas o que nem todos notaram é que, além de dar pistas sobre o futuro do belíssimo cupê quatro portas lançado pela marca em 2004, os conceitos Shooting Brake e F800 Style – que pode ser revisto em detalhes nesta reportagem (em prata nas fotos) – revelam também como será a próxima geração de compactos que a Mercedes produzirá em substituição aos modelos Classe A e B. A nova família, que foi anunciada pelo vice-presidente de marketing da marca, Philipp Schiemer, durante o salão suíço, já tem quatro carrocerias definidas – sedã, hatch, SUV e monovolume – e pode ganhar mais um elemento, um coupé-cabriolet.

Acima, o concept F800 Style, inspiração para o CLS 2011 e também para o “baby CLS”, o novo sedã mostrado abaixo

Para o hatch, que será produzido na Hungria, a ideia, segundo o executivo, não é competir com o Audi A1. “Esse segmento não nos interessa. Queremos ficar um degrau acima”, afirmou. Já o sedã, ao que tudo indica, será fabricado no Brasil, terá as medidas de nossos sedãs médios e deverá custar, aqui, entre R$ 90 mil e R$ 100 mil. Schiemer não confirmou, mas deu pistas concretas ao ser questionado sobre as chances de a fábrica mineira ser vendida. “A fábrica de Juiz de Fora merece uma segunda chance. Talvez com um produto de grande volume, que aproveite a capacidade ociosa. Há a possibilidade de um produto mais acessível que o CLC”, afirmou.

Na verdade, será uma terceira chance. A planta mineira já abrigou a produção nacional do Classe A, paralisada em 2005, e, atualmente, produz só o CLC, feito sobre a antiga plataforma da Classe C, que deve ser descontinuado em breve. Considerando que sua capacidade é de cerca de 75 mil unidades, a ociosidade a que Schiemer se refere é, de fato, preocupante. Mas a marca está tratando disso. Segundo funcionários, a fábrica está sendo preparada para abrigar uma linha de montagem de caminhões que dividirá espaço com o novo sedã e, possivelmente, com mais um desses pequenos. Fornecedores nacionais são sondados sobre a produção de peças para um monovolume.

De qualquer forma, será a primeira vez que a Mercedes disponibilizará um três volumes abaixo do Classe C e a marca não cogita, com isso, se popularizar. A ideia é rejuvenescer seu consumidor, ganhar volume e ter uma linha com menor emissão de CO2. Por isso, podemos esperar um carro moderno e equipado. Uma fonte ligada à marca garante que o sedã nacional será uma versão menor do novo CLS 2011. “Quando falo em CLS, falo não só no design, mas no que ele representa – esportividade e dinamismo.

Não será um sedã conservador”, afirmou. Na Europa, o modelo está sendo chamado, inclusive, de “baby CLS” ou CLA. Alguns arriscam o nome BLS, porque apostam que sua plataforma virá do novo Classe B. O que não é verdade. A nova família terá uma plataforma única e seus motores deverão ser fruto da recente aliança entre a Mercedes e o grupo Renault/Nissan. Entre as unidades em estudo conjunto estão motores três e quatro cilindros turbo a diesel e a gasolina, esses últimos os prováveis eleitos para o mercado brasileiro, além de motores seis cilindros para a Infiniti, marca de luxo da Nissan.

Acima, a perua Shooting Break: uma evolução do concept F800 (abaixo), mas com para-choques e faróis mais realistas. À esquerda, seu interior, bem mais próximo de um modelo de produção

Atualmente a Mercedes já oferece, no Brasil, um modelo três volumes mais próximo à faixa dos R$ 100 mil. O C180 Kompressor, com motor 1.6 de 156 cv, foi lançado há pouco por R$ 119.900. Sua missão é encarar o 320i, que a rival BMW comercializa por atraentes R$ 112.500 com motor 2.0 também com 156 cv de potência. Ambos os modelos são sucesso absoluto. Com a chegada do sedã nacional, a marca da estrela terá condições de baixar ainda mais seu valor de entrada. O “baby CLS” terá as medidas próximas às de um Honda Civic e deverá custar pouco acima dos quase R$ 90 mil pedidos pela Honda para sua versão top de linha, que deixa muito a desejar na lista de equipamentos (leia comparativo nesta edição), o que certamente não acontecerá com o Mercedes.

Ou seja, a marca cobrará mais pelos itens extras e, claro, pela grife. Uma excelente opção, analisando o mercado de hoje. Obviamente, até o lançamento do sedã, o que deve acontecer no final do próximo ano, teremos uma realidade diferente: a Honda terá um novo Civic, a Toyota deverá ter novidades para o Corolla, além de outras marcas que devem entrar na briga. Ainda assim, a Mercedes irá acenar com o almejado produto bom, bonito e barato. Alguém duvida de que fará sucesso?

Com preço entre R$ 90 mil e R$ 100 mil, o novo sedã pretende conquistar mercado com a modernização da imagem da marca

Os motores do novo carro podem vir da aliança com a Renault/Nissan

Nas fotos acima, o concept exibido em Genebra: ousadia em nome da jovialidade