A mais tradicional prova do automobilismo brasileiro e latino-americano mudou de data: não acontece mais no final de janeiro, em data próxima ao aniversário da cidade de São Paulo (fazia até parte do calendário de comemorações), e sim no mês de novembro. A Brasileiras, que agora é chamada de Brasil, passou a ser uma prova internacional e faz parte do campeonato mundial Le Mans Series, criado pela entidade francesa Automobile Club de l’Oest, criadora e organizadora das 24 Horas de Le Mans, utilizando o regulamento e as exigências técnicas idênticas às pedidas na mais famosa prova de resistência e velocidade em circuito fechado do mundo. Apesar da vantagem folgada no certame, a Peugeot, que havia vencido cinco provas das seis realizadas (faltou Le Mans, que a Audi levou…), precisava do resultado de Interlagos para sagrar-se campeã. E a marca francesa veio ao Brasil com todo seu arsenal e não deixou por menos: fez dobradinha faturando o primeiro e o segundo lugares.

A peugeot precisava desse resultado no brasil para se sagrar campeã

A Peugeot sagrou-se campeã na categoria principal, disputada por protótipos especiais de competição, com o 908 HDi FAP equipado com um inusitado motor V-12 diesel biturbo de 700 cv (veja box). Porsche com o GT3, Ferrari com a F360, Chevrolet com Corvette e Aston Martin com o DBR9 foram alguns dos grandes fabricantes presentes nas categorias GT1 (Corvette/ DBR9) e GT2 (Porsche/Ferrari), os carros de turismo mais potentes e evoluídos, mas que não brigavam com os protótipos.

Outra novidade nessa foi o horário: a largada, que antes era a meia-noite, foi transferida para o meio-dia, tendo sido disputada até que se completassem as mil milhas (cerca de 1.600 km). Como o Peugeot imprimiu um ritmo muito forte à corrida, a prova, que costumava ter duração entre 11 e 12 horas, terminou em rápidas 8 horas e 50 minutos. Um recorde!

A Ferrari de Chico e Daniel Serra e Chico Longo, sexto lugar na GT2 (fotos 1 e 2), e o Porsche de Raul Boesel, quinto na mesma categoria (foto 3). O Peugeot HDI vitorioso (foto 4) e sua equipe no pódio (foto 5)

Destaque às equipes brasileiras que deram trabalho às européias. Xandy Negrão, Xandinho e Andreas Mattheis chegaram em segundo lugar na GT2 com uma F-360 GT, atrás apenas do Porsche vencedor, um 911 GT3 RSR. Nessa mesma categoria, a equipe Stutgart Sportcar/ Dener Motorsport fez quinto lugar com o Porsche GT3 (997) com os pilotos Raul Boesel, Nono Figueiredo e Marcel Visconde. Em sexto, chegou o F-360 GT pilotado pelo trio Chico Serra/Daniel Serra/ Chico Longo.

Diferentemente das outras edições, a prova de 2007 teve sua largada ao meio-dia e, por isso, não varou a madrugada. As 20h50 as mil milhas já tinham sido percorridas pelo Peugeot

O supermotor

Apesar de funcionar no ciclo diesel, esse motor Peugeot tem todo o refino de um propulsor de competição. É um V-12 a 100º de 5,5 litros, confeccionado em alumínio, com 48 válvulas, duplo comando por cabeçote, dois turbos Garrett roletados, um para cada bancada de cilindros, dois intercoolers, injeção direta common-rail e dois filtros de particulados no escapamento. Essa “jóia” produz 700 cv (a 7.000 rpm) e um torque de 120 kgfm. Tudo isso empurrando os pouco mais de 900 kg do 908. Para comparação, um caminhão moderno com carreta de três eixos produz cerca de 80 kgfm para puxar 40 toneladas! Por que diesel? Esses motores produzem mais torque e potência com menores índices de consumo, fatores que interessam nas provas de longa duração.

Peugeot x Audi

A Brasil passou a ser uma prova internacional e faz parte do campeonato mundial Le Mans Series. Mas, na verdade, há dois campeonatos Le Mans Series sendo disputados em paralelo: um europeu/sul-americano e outro norte-americano/canadense.

Em 2007 o campeonato europeu/sulamericano foi composto por sete etapas, sendo seis delas na Europa – Monza (Itália), Valencia (Espanha), Le Mans (França), Nurburgring (Alemanha), Spa (Bélgica) e Silverstone (Inglaterra) – e uma na América do Sul, em Interlagos (Brasil).

A Audi, apesar de disputar apenas o campeonato norteamericano, resolveu participar de Le Mans em função do prestígio mundial da prova, se confrontando diretamente com a Peugeot. Por isso é que o tão aguardado confronto entre os diesel Audi R10 e Peugeot 908 HDi ocorreu apenas nas 24 Horas de Le Mans. Foi uma luta de apenas um round em que a marca alemã saiu vencedora e a francesa teve que amargar um segundo lugar (foi a única prova perdida no campeonato, que reúne outros grandes fabricantes europeus de carros esporte). Só saberíamos quem realmente é melhor se ambas as marcas disputassem um mesmo campeonato e não apenas uma prova. O que, por enquanto, não aconteceu.