Sempre adorei correr na América do Norte. Ganhei meu primeiro GP lá (em Watkins Glen, de Lotus, em 1970) e passei a segunda metade de minha carreira na Fórmula Indy, nos EUA – uma experiência fantástica. Em 1974, a McLaren tinha acabado de ganhar o campeonato de F1 e a Indy 500, e então fui convidado a testar o vitorioso McLaren M16C de Johnny Rutherford no mundialmente famoso Indianapolis Speedway.

Assim que vi o carro, mal podia esperar para dirigi-lo. Infelizmente, apesar de ter sido bicampeão mundial de F1, era novato na Indy e tive que lutar por uma vaga como qualquer um. Fui instruído a pegar leve no início, e não exceder uma velocidade média que era bem baixa, mas pouco depois já estava fazendo curvas tão rápido que só conseguia cumprir a meta tirando o pé nas retas.

Depois, livre dessa amarra, comecei a andar rápido. O carro era sensacional. Nunca na minha vida, antes ou depois, dirigi um carro tão equilibrado. Seu motor era o venerável Offenhauser 2,6 litros 4 cilindros, projeto de 1933 que ganhou a Indy 500 por incríveis 27 vezes, e cuja potência tinha sido incrementada ao longo dos anos (nos últimos com turbo) para insanos 1.000 cv (o dobro do McLaren-Cosworth M23 da F1). Eu simplesmente o adorei!

Johnny Rutherford estava lá no dia do meu teste, assim como A.J. Foyt, o mais lendário piloto da Indy. A.J. não era da McLaren, mas quis me ajudar. Na manhã do teste, deu uma volta comigo no Speedway e lembro de dizer que se o carro saísse de lado, deveria mantê-lo na direção da pista, e não contra-esterçar (opposite lock). Fiquei surpreso. Ele me explicou que, em uma curva inclinada andando a 300 km/h, nunca se conseguirá “andar de lado”.

Tentar essa manobra podia fazer o carro girar e bater de frente no muro, quebrando minhas pernas. Mantendo a direção, o mais provável era bater de traseira, destruindo o motor, mas não minhas pernas. Uma lição que nunca aprendi direito, mesmo disputando a Fórmula Indy de 1984 a 1996. Contra-esterçar era uma reação “programada” no meu cérebro desde os tempos das corridas de kart.

O plano era eu competir na Indy 500 em 1975, em um McLaren-Offy M16C “Texaco Star”, mas recusei. O carro era fantástico, mas corridas em ovais nos EUA nos anos 1970 eram muito perigosas. Dez anos depois, finalmente decidi ir para a Fórmula Indy, pois os carros já tinham chassi de fibra de carbono.

Muitos me perguntam se os pilotos da Indy são “feitos de um material diferente” que aqueles da F1, e respondo que não são. Em toda categoria, os vencedores são os mesmos: são rápidos, claro, mas também inteligentes, dedicados e têm muita tática. São duros na disputa, porém justos.