Reportagem: Luca Cereda
Texto adaptado: Flávio Silveira
Projeções: Marcelo Poblete

“Muitas pessoas desejam um Tesla: o problema é permitir que elas tenham um.” Foi assim que Elon Musk lembrou ao mundo que a marca precisa lidar com a questão do poder de compra dos potenciais clientes – e, inevitavelmente, tornar-se mais “pop”. E a empresa já traçou os planos de expansão: pretende fabricar 20 milhões de veículos ao ano antes de 2030 (14,5 vezes a produção de 2022), com redução de custos de produção à metade e uma gama maior de produtos. Além de – talvez até o final do ano – enfim lançar a distópica e bizarra Cybertruck, oferecerá um carro mais barato, batizado extra-oficialmente de Model 2. Ele pode gerar volumes inéditos para a fabricante baseada em Austin, no Texas (EUA).

Pena que Elon não dê pistas sobre o elétrico “democrático”: só mostrou a silhueta dele, algo entre um hatchback e um cupê. E pediu, implicitamente, por paciência: a revelação do carro ainda está longe.

A falta de indicações concretas sobre os produtos futuros fez as ações caírem e aumentaram expectativas. Então, mostraremos o Model 2 com um pouco mais de criatividade em nossa ilustração que o habitual, já que, com poucos vestígios, reconstruir o carro não é uma tarefa fácil.

As únicas aparições públicas do “Dois”, na verdade, foram na forma de uma “mula” bizarra, com carroceria emprestada de um Mazda CX-30. Só alguns detalhes, como grade, faróis e rodas, permitiram reconhecer o protótipo da Tesla. Mas já nos disse algumas coisas.

A escolha da carroceria de um CX-30 sugere que o Model 2 pode ter algo em torno de 4,40 metros de comprimento (o mesmo que um Jeep Compass). Mas será ele um Model 3 menor, ou de fato um SUV?

Parece que está mais para a segunda opção, e Musk ainda revelou que o modelo “será usado quase só em modo autônomo”. Mas o que mais importa é o preço, supostamente de US$ 25 mil, o colocando em pé de igualdade com a BYD e modelos como Dolphin e Yuan Plus (chamado Atto na Itália).

O Model 2 deve nascer em uma plataforma de nova geração, que permitirá reduzir drasticamente os custos de produção e, consequentemente, os preços.

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A base é o processo de construção independente de “macropeças”, que economiza mão de obra e tempo. A otimização da linha de montagem permitirá que mais funcionários ou robôs trabalhem simultaneamente nos veículos, limitando as ineficiências.

Para ser barato, o Model 2 terá um trem de força um pouco, digamos, menos caro (US$ 1 mil dólares) e “escalável”, sem usar terras raras.

Por fim, o elemento mais decisivo: baterias de nova geração (continuamos à espera das já famosas baterias “4680”, prometidas em 2020 e assim chamadas por suas dimensões: 46 milímetros de diâmetro e 80 de comprimento).

Ela promete duas vantagens:
• menores custos de fabricação (metade por cada célula)
• uma maior densidade energética, com peso e medidas reduzidas.

De alto desempenho e econômica, ela será ideal para a produção de 20 milhões de veículos até 2030. Sem sucesso com o 4680, porém, Musk teria procurado uma empresa coreana para fornecer cátodos com elevado teor de níquel, cruciais para a maior densidade. Atualmente, parece que a montagem de células de “revestimento seco” bastaria para cerca de 50 mil veículos por ano, insuficiente para as ambições expansionistas da marca.

Tudo isto levaria à redução à metade dos custos de fábrica e, consequentemente, à abertura das portas a novos Tesla mais acessíveis – até mesmo a um Model 2 feito na futura gigafactory do México (leia quadro).

Assim, a Tesla pode enfim vir oficialmente ao Brasil (onde a arquirrival BYD chegou com tudo). Mas a estreia deve demorar (talvez em 2026?), dando tempo para as fabricantes generalistas agirem.

Volks, por exemplo, lançará em 2025 o ID.2 por € 25 mil e planeja um modelo mais compacto, de € 20 mil, ou a Renault, que fará os novos R4 e R5. Todos ficarão nessa faixa, que equivale a R$ 100 mil – R$ 150 mil.

México: uma nova rota para chegar ao Brasil?

O “pequeno” Tesla será produzido em diversos locais, incluindo uma “gigafábrica” que será inaugurada em breve no México – país que tem um acordo comercial com o Brasil (e isso pode viabilizar a estreia da marca por aqui).

Ficará perto da nova planta da BMW em San Luis Potosí, onde a Ford monta seu Mustang Mach-E (avaliado nesta edição).

Conforme confirmado por Musk no último Investor Day, a atividade da fábrica mexicana em Santa Catarina (perto de Monterrey), Nuevo León, será “complementar à produção das outras gigafactories”. Que somam cinco, contando também as dos EUA, da Alemanha e da China.

Por um carregamento sem sofrimento

Parece até um drive-in dos anos 1950, mas será um restaurante com estilo retrô e cheio de eletrônica. Enquanto os carros elétricos ficam plugados por toda a área de estacionamento, os donos se divertem e comem. Não há ainda um nome oficial, mas o “Tesla Diner” é uma das muitas visões de Musk que devem se realizar, a julgar pela imagem (um teaser) mostrada no Investor Day.

Na verdade, Musk fala disso desde 2018, mas, como muitos projetos dele, está demorando a se concretizar. Mas parece que enfim a marca pode estar construindo um centro de recarga como esses – que requer uma boa infraestrutura de energia elétrica – no famoso Santa Monica Bulevard, Califórnia.