26/06/2025 - 10:16
A fabricante chinesa de veículos elétricos Xpeng não tem exportado carros novos como usados, de acordo com informações de um executivo da Xpeng divulgadas pelo jornal governamental com sede em Xangai The Paper, nesta quarta-feira.
O setor automobilístico da China inflacionou as vendas de carros durante anos por meio de uma crescente prática apoiada pelo governo que consiste no registro de carros novos recém-saídos da linha de montagem que depois são enviados para o exterior como veículos “usados”.
Tang Zhikun, gerente geral do centro de negócios internacionais da Xpeng, falando nos bastidores de um fórum do setor em Xangai, disse que um grande número de carros novos nacionais está sendo exportado dentro da categoria de veículos usados “zero quilômetro” para mercados estrangeiros, como o Oriente Médio, o norte da África e a Ásia Central, de acordo com a reportagem do The Paper.
Tang disse: “Temos, de fato, mais sorte por termos sido muito comedidos no ano passado e não termos feito isso”.
As autoridades de muitos mercados estrangeiros estão endurecendo a regulamentação sobre essa prática e banindo gradualmente as importações de carros “zero quilômetro” por meio de legislação e certificações, disse Tang na reportagem.
A Xpeng não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A China tem enviado carros novos direto da linha de montagem como “usados” para o exterior desde 2019, informou a Reuters na terça-feira.
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Carros novos como usados?
A prática chinesa de vender carros novos como veículos usados com grandes descontos, para se livrar do estoque, deve acabar, disse o jornal oficial do Partido Comunista do país em um artigo publicado no início do mês.
O Diário do Povo, que frequentemente sinaliza as posições dos principais líderes do Partido Comunista da China em uma variedade de questões, apelou à repressão da prática de “carros usados com quilometragem zero”. O apelo surge apenas algumas semanas após o presidente da Great Wall Motor, Wei Jianjun, condenar publicamente o assunto e o Ministério do Comércio da China se reunir com montadoras chinesas para discuti-lo.
Embora o Ministério do Comércio da China não tenha tornado pública sua posição, o Diário do Povo adotou um tom duro, denunciando a inflação nos dados de vendas e pedindo “ações regulatórias duras” para restaurar a ordem do mercado.
“Essa forma disfarçada de corte de preços perturba a ordem normal do mercado, e é um exemplo impressionante da ‘involução’ da indústria automobilística”, disse o Diário do Povo, usando um termo popular na China que descreve uma corrida para o fundo do poço motivada pela concorrência excessiva.
“Quando as regras de concorrência de mercado forem devidamente aplicadas, os ‘carros usados com quilometragem zero’ não poderão durar muito — ou por muito tempo.”
A China enfrenta crescentes pressões deflacionárias, à medida que as tarifas norte-americanas agravam o clima pessimista na segunda maior economia do mundo. Empresas de setores que vão do fast food à alta costura têm reduzido preços, em meio a preocupações com o excesso de oferta e a fraca demanda das famílias.
Guerra de preços
As guerras de preços chegaram à indústria automobilística chinesa nos últimos anos, em parte pela queda no consumo doméstico e pelo excesso de capacidade, o que deixou muitas empresas com dificuldades para atingir as metas de vendas.
Embora a venda de carros usados com quilometragem zero seja vista por muitas montadoras chinesas como uma forma eficaz de limpar um estoque cada vez maior de veículos não vendidos, com consumidores nacionais e estrangeiros atraídos por grandes descontos em modelos ainda novos, o jornal estatal listou uma série de efeitos negativos causados pela prática.
“Para os fabricantes, essa tática de vendas pode ajudar a reduzir o estoque no curto prazo, mas comprime as margens de lucro, aumenta as perdas e dificulta o investimento na qualidade e inovação dos produtos — prejudicando, em última análise, o desenvolvimento sustentável”, diz o artigo.
“Para os consumidores, o que parece um bom negócio em termos de preço traz riscos ocultos: perda dos benefícios do primeiro proprietário, possível degradação da bateria e depreciação mais acentuada na revenda”, continuou, acrescentando que a prática prejudica a concorrência justa, distorce os dados do setor e atrapalha os mercados de carros novos e usados.
O Diário do Povo destacou que os fabricantes de veículos elétricos precisam ir além da “adoração aos dados”, competindo em volume, a fim de se concentrarem na qualidade do produto e na inovação tecnológica. O artigo não citou nenhuma montadora específica.
O jornal também listou medidas que as autoridades reguladoras chinesas devem adotar para impedir a venda de carros usados com quilometragem zero, incluindo o fortalecimento da supervisão do registro de veículos usados, o estabelecimento de um sistema de rastreamento do ciclo de vida do veículo e o controle rigoroso da prática de revenda imediata após o registro.