Zé Hélio com o navegador Weidner Moreira conquistam a segunda colocação em estreia no Mit Cup

José Hélio Gonçalves Rodrigues pode dizer que chegou ao topo. Mas, em vez de curtir a merecida aposentadoria das pistas, Zé Hélio – como é conhecido nos ralis – decidiu começar tudo de novo. Aos 31 anos de idade, trocou as motos pelos carros e está se readaptando à sua própria pro ssão. “A velocidade é minha vida. Não consigo viver sem ela”, explica.

Duas vezes campeão brasileiro e cinco vezes campeão do Rally dos Sertões, Zé Hélio participou de dois Rally Dakar e recebeu o título de melhor piloto de moto das Américas no ano de 2009. “Quando se corre tantos anos em uma categoria, você acaba perdendo os objetivos. Ganhei quase todos os campeonatos de que participei”, justifica. “A falta de segurança também foi um fator determinante na minha decisão”, completa. Com 19 anos de rali, o piloto contabiliza mais de 100 acidentes, resultando na perda do baço e em pinos de metal no joelho e no ombro.

ZÉ HÉLIO

“A velocidade é minha vida. Não consigo viver sem ela”

Zé Hélio começou a prática de motocross ainda criança, no bairro de Itaquera, em São Paulo (SP). Sua paixão pelas motos começou cedo. “Está no sangue. Brincava com uma motinho pelas ruas de terra ou na casa que tínhamos no Guarujá”, conta. Aos 11 anos, sob in uência de amigos que praticavam motocross, iniciou sua carreira. Com 13, foi campeão paulista de enduro de velocidade e, aos 16, entrou para os ralis. Foi navegador de seu irmão nos Sertões de 1996 e 1997. Juntos, eles conseguiram a terceira colocação na geral. Mas sua paixão pelas motos falou mais alto. Anos mais tarde, abandonou o curso de direito para se pro ssionalizar como piloto.

Em 2011, ao participar pela segunda vez do Rally Dakar, Zé Hélio sofreu um acidente ao colidir em uma pedra no percurso entre Iquique e Arica, no Chile, acabando com suas chances de vitória. Foi sua última prova de moto. Zé Hélio fez sua estreia profissional nos carros durante o Rally Cuesta Off-road, válido pelo Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country, e agora disputa o Mitsubishi Cup ao lado do experiente navegador Weidner Moreira. No mês de março, na etapa de Ribeirão Preto (SP), conquistou a segunda colocação na prova. Nada mau para quem ainda está se adaptando. “Ele é um piloto completo, poucos conseguem atingir essa perfeição”, argumenta o piloto Guilherme Spinelli, diretor de competição da Mit Cup. “Sua presença é motivante”, concorda Detlef Altwig, diretor técnico dos ralis Mitsubishi. Foi nesse clima de boas-vindas que ele nos concedeu uma entrevista exclusiva para falar sobre sua nova fase pro ssional.

À esquerda, no Australasian Safari. Zé Hélio foi o primeiro brasileiro a participar desta competição. Ao lado, na largada do Rally Dakar, na Argentina

Qual a diferença entre a moto e o carro?

A moto é uma coisa para quem gosta muito. Além de você correr um risco alto, é muito mais sofrimento. Na moto você toma chuva, passa frio. Você tem que pilotar sozinho, navegar sozinho e preparar o seu dia seguinte. A gente chega a perder até cinco horas preparando a planilha. No carro, a presença do navegador alivia, porque você não precisa fazer tudo.

A sua experiência com moto auxilia este novo momento?

Sim. A experiência eu tenho, mas ainda preciso aprender muito sobre a durabilidade dos automóveis e aperfeiçoar a minha afinidade com o navegador.

Mas qual está sendo sua principal dificuldade?

Por enquanto está sendo justamente com relação ao navegador. Eu pilotava 100% concentrado, inclusive com tampões de ouvido para não escutar nem o barulho da moto. No carro sempre tem um cara falando na sua orelha! É complicado. Muitas vezes não consigo assimilar o que ele está falando, porque estou concentrado na pilotagem. Aí acabo fazendo alguma bobagem. No Mit Cup estou com um navegador muito experiente, o Weidner Moreira, que está me ajudando bastante.

Como foram as primeiras competições como piloto de carro?

Este ano já fiz duas corridas pelo campeonato brasileiro, e ainda estou me adaptando ao carro. Hoje, no Mitsubishi Cup, a maior dificuldade está sendo a altura da cana-deaçúcar. Nesses pontos, a visibilidade fica prejudicada, exigindo ainda mais atenção do navegador e do piloto.

Você já deve ter passado por situações complicadas nesses 19 anos de carreira nos ralis. Pode nos contar algumas delas?

São muito anos. Já tive situações de todos os tipos (risos). Já parei dentro de tribo indígena, fui atacado por cachorros selvagens no deserto do Atacama (no Chile). No primeiro Dakar, ao tentar desviar de uma duna que era intransponível, fiquei preso à beira de um precipício e quase perdi a moto.

Seu projeto é competir no Rally dos Sertões?

Sim. Acredito que até lá eu esteja preparado. Mas ainda não estou con rmado de carro e, de moto, realmente eu não vou correr mais. Mais para a frente eu tenho um projeto para o Dakar também. Tenho vontade de ganhar todos os campeonatos que ganhei com a moto, só que agora com o carro.

Ze Hélio com seu navegador Kleber Cíncea no Rally Cuesta Offroad: a dupla saiu vitoriosa

Qual seu maior ídolo no esporte?

O francês Stéphane Peterhansel, seis vezes campeão do Paris Dakar nas motos e quatro vezes competindo em carros.

E carro? Qual chama sua atenção?

Atualmente o carro top para mim é o Lancer Racing ou Lancer Dakar.