João Paulo de Oliveira

“Minha intenção era correr no Japão por dois anos e voltar à Europa. Mas as oportunidades lá foram melhores”

A trajetória do piloto João Paulo de Oliveira é uma prova de que o mundo realmente dá voltas. Na adolescência, enquanto muitos de seus adversários atuais já aceleravam em campeonatos nacionais e internacionais de kart, João Paulo tinha como objetivo de vida ocupar o lugar de seu pai no comando da empresa da família. Até então, ele se contentava em apenas cronometrar as voltas de seu irmão caçula, José Ricardo de Oliveira, que corria de kart. “O plano em casa era ele ser o piloto e eu assumir os negócios, mas as funções acabaram se invertendo”, relembra.

Quando tinha 15 anos, João Paulo decidiu também experimentar a brincadeira. No primeiro ano, disputou o campeonato paulista na categoria novatos, terminando em quarto lugar. No segundo, ingressou na Fórmula Ford. Daí em diante, sua carreira teve um crescimento meteórico. Passou pela Fórmula Chevrolet e, um ano depois, foi campeão da F-3 Sulamericana na categoria light.

O resultado lhe garantiu a promoção para a divisão principal, onde foi vice-campeão. Em 2000, foi correr na Europa, onde se sagrou campeão alemão de F-3 em 2003. Seu desempenho despertou o interesse da Honda, que o convidou para desenvolver o chassi Dome na F-3 Japonesa. Único da categoria a correr com um chassi diferente, o brasileiro foi vice-campeão em 2004 e campeão no ano seguinte. Foi o suficiente para que caísse no gosto dos orientais. “Minha intenção era correr no Japão por apenas dois anos e depois voltar para a Europa, para tentar uma vaga na F-1.

Mas as oportunidades lá foram muito melhores”, conta. Mesmo assim, em 2006, o piloto teve a oportunidade de fazer um teste na F-1 com a Williams, por indicação da patrocinadora Petrobras. “Foi uma experiência muito proveitosa. Meu desempenho foi tão bom que eles aumentaram a sessão de 20 para 32 voltas”, orgulha-se.

1 – No cockpit do Fórmula Nippon. 2 – Cruzando a linha de chegada na F-3 japonesa. 3 – Contornando uma curva com o F-3 chassi Dome da Honda, carro com o qual se sagrou campeão japonês de Fórmula 3 em 2005. 4 – Comemorando uma vitória na Super GT, uma das modalidades mais famosas do Japão. 5 – O Nissan GT-R com que compete na Super GT. 6 – Largada da Fórmula Nippon, na qual foi campeão em 2010. 7 – Carro com o qual foi campeão em 2010

Desde então, ele se estabeleceu no Japão como piloto da Nissan, guiando um GT-R no campeonato Super GT-R. Ele também disputa a Fórmula Nippon, equivalente à GP2, mas com motores Honda e Toyota. Como se trata de uma categoria de ponta no país, Oliveira se tornou um ídolo para os fãs do esporte, que, sem conseguir pronunciar seu nome, o chamam de JP “Olbera”. No ano passado, teve seu melhor resultado por lá: foi vice-campeão da Super GT e campeão da Fórmula Nippon.

O brasileiro mora em Tóquio e está muito satisfeito com a vida que leva por lá. No mês passado, durante os primeiros dias da tragédia do Japão, João Paulo noticiou, pelo Twitter, o que se passava a sua volta. “Minha vontade é não sair daqui”, postou no microblog. Resistiu o quanto pode. No dia 14 de março, voou para Cingapura, acompanhando o êxodo dos estrangeiros. “Permaneci por lá enquanto me senti seguro”, afirmou o piloto, que treinava em Suzuka na hora do terremoto principal. Os dois campeonatos do qual ele participa têm futuro incerto e todos os testes pré-temporada foram suspensos.