Se você, como eu, gosta de uma aventura off road pilotando um velho 4×4 manual e jamais gastaria R$ 180.000 num belo carrão automático para jogá-lo na lama, prepare-se para mudar de opinião. O recém-lançado Land Rover Discovery Sport tem tudo para deixar até os pilotos mais intrépidos de queixo caído. Avaliado pela MOTOR SHOW, em janeiro, num dos ambientes mais hostis do planeta – a Islândia, uma ilha vulcânica ativa e coberta de gelo e neve no inverno –, o novo rebento da família Land Rover atropelou meus preconceitos logo na primeira acelerada. O prazer de dirigir com muito conforto e segurança onde poucos se atrevem a passar, quem diria, também não tem preço.

Mal comparando, pilotar esse elegante crossover da Land Rover em terras congeladas e escorregadias é como voar em céus turbulentos no sossego de uma classe executiva (a primeira classe, claro, seria o Range Rover Sport, bem mais caro e luxuoso). Do lado de fora, o risco é alto e qualquer deslize do piloto pode acabar em acidente. Porém, a tecnologia do Discovery Sport é tão avançada e e ciente que o medo do desconhecido desaparece em minutos. O câmbio automático de nove velocidades trabalha em seu lugar e os controles eletrônicos de tração, estabilidade e até de frenagem aliam-se aos sensores de distância e velocidade para tornar a brincadeira bem mais segura. Só resta aos viajantes curtir os recursos e os mimos da máquina e apreciar a paisagem esbranquiçada pelas janelas. Com uma grande diferença: nessa cabine, quem está no comando e aperta os botões é você.

Pense num tipo de terreno – qualquer um – e haverá uma tecla no painel para ajustar o Discovery Sport ao próximo desa o. Neve, areia, cascalho, lama, grama, aclives, declives e rios de até 60 cm de profundidade, não importa. O
crossover (que a Land Rover chama de SUV compacto premium) encara qualquer encrenca, alternando automaticamente a tração 4×2 e a 4×4 para melhorar o desempenho e reduzir o consumo de combustível pela fera turbinada
de 4 cilindros e 240 cv (versão a gasolina) sob o capô. No asfalto comum e na cidade, o carro também surpreende o dono com seu empolgante desempenho e conquista os olhares dos outros com o design mais despojado que os tradicionais veículos da marca. Mas estou próximo ao Círculo Polar Ártico e, portanto, só a neve me interessa. Vamos a ela.

A aventura começa logo ao desembarcar no aeroporto de Reykjavik (pronuncia-se Reiquiaviqui). A caminho do estacionamento, uma fina camada de gelo no chão e uma grossa coberta de neve sobre os veículos ali parados dão o tom do que será a viagem: muito gelada e perigosa. A neve ca preta e suja quando se acumula no asfalto e serve de inspiração para o que está por vir. Faz frio e os 5 graus Celsius negativos viram 10 ou 15 negativos quando bate o vento. Ao entrar no meu primeiro Discovery Sport da expedição, no dia seguinte, descubro que até um inferno gelado como aquele pode se tornar um lugar agradável.

Nos três dias da expedição que a Land Rover preparou para jornalistas naquela ilha de 103.000 quilômetros quadrados e 320.000 habitantes, dirigi duas versões do Discovery Sport, uma a diesel e outra a gasolina. Esta última será produzida no Brasil, na nova fábrica da marca, no Rio de Janeiro (con ra todos os detalhes do lançamento no site da MOTOR SHOW, em http://bit.ly/1DB2VVp). No total, rodamos 580 quilômetros em dois dias. Nessa época do ano, o sol é preguiçoso na Islândia e a luz natural começa às 10h30 e termina seis horas depois. Lá em cima, São Pedro está um pouco irado e envia para nós a água que falta em São Paulo, só que em forma de chuva e neve. Para um teste drive de um Land Rover, melhor impossível. Alguns trechos são interditados pela nevasca, mas isso não nos impede de seguir adiante.

Alternando o volante com o colega Sérgio Xavier Filho (todos viajam  em duplas e são acompanhados de perto pelas equipes de apoio), acelero com calma, pois a chuva congela no solo e transforma o asfalto numa pista traiçoeira. A máquina, valente, resiste aos ventos laterais de 80 a 100 km por hora. Todo o cuidado é pouco: os pneus adaptados para esse clima aumentam a segurança e permitem velocidades mais altas, mas não fazem milagres se for preciso parar de repente. A nova suspensão traseira multi link, com partes em alumínio, anula as imperfeições da pista, mas elas estão lá. Nas laterais da rodovia, sempre há o risco de se cair numa ribanceira oculta sob a neve.

Ciente dos perigos, chego aos 90 km/h, limite máximo no país. Mas o carro pede mais. Resisto. De repente, avisto um caminhão em sentido contrário e noto que há um monte de neve bem no trecho em que iremos cruzar, mas somente do meu lado da pista. Pior: ela é estreita e não dá para desviar, nem brecar. O instinto fala mais alto e coloco o pé no freio, mas seguro o ímpeto para não transformar o carro numa desgovernada pedra de curling, aquela bocha das Olimpíadas de Inverno. O coração acelera. Pouco antes de cruzarmos, a 70 km/h, lembro já ter derrapado na lama indo bem mais devagar. O deslocamento de ar do caminhão empurra o Discovery Sport para a direita, ele afunda os pneus na neve e sai ligeiramente da rota por um átimo de segundo, para voltar em seguida,  como se nada tivesse acontecido. Ufa! Depois dessa, cruzar um rio gelado pareceu brincadeira de criança. Volto ao Brasil convencido de que, com um carro assim, que comporta até sete passageiros, dá para levar a família tranquilamente nesse tipo de aventura. Que venham os próximos vulcões e lagos congelados.