Walter de Silva “Não existe isso de ter uma grande ideia em um momento de êxtase”

O processo de criação de um automóvel nada tem a ver com inspiração ou mesmo com altas doses de criatividade. “É tudo transpiração. É um esforço constante”, disse o executivo italiano Walter De Silva, o homem mais respeitado no mundo na área e atual chefe de design do grupo VW. “Não existe isso de ter uma grande ideia em um momento de êxtase. O que há é muito estudo, trabalho duro e busca por conhecimento o tempo todo”, afirmou o italiano à MOTOR SHOW, durante conversa com um grupo de veículos de comunicação parceiros da revista italiana Quattroruote.

Extremamente bem-humorado, com uma visão muita prática do próprio trabalho, De Silva faz autocríticas sem problemas – ao mesmo tempo que defende cada projeto desenhado pelo seu “time”, como diz. O último assinado por ele, a sétima geração do Polo, provavelmente o maior e mais bem guardado lançamento internacional do ano, enche o executivo de um visível orgulho. Um carro leve, mais seguro que seu antecessor e com linhas realmente renovadas, mas com um visual simples e bem honesto. Segundo o designer, desenvolver carros com linhas simples e inovadoras é muito mais complicado do que se imagina.

Segundo Walter De Silva, o Audi A5, ganhador do Design Award 2009, é o carro mais bonito entre os que já foram desenvolvidos sob seu comando

Tamanho tempo gasto na busca do design ideal chega a divertir o próprio De Silva. Ele solta uma gargalhada ao dizer que, pelo menos nos últimos dois anos, gastou muito mais tempo em conversas com o comando da Volkswagen do que com a própria mulher. É algo que o faz rir porque ali há um senso de necessidade, de cobrança permanente do próprio executivo, com 59 anos e 35 anos dedicados ao design. Aos amigos mais próximos, confessou que, enquanto desenvolvia o Golf geração VII, nem sequer conseguia dormir à noite. Insegurança? “Assumir riscos é parte do trabalho, sinal de evolução”, disse em entrevista recente à imprensa especializada italiana. É um conceito que tem feito o executivo permanecer em um dos postos mais desejados da indústria automobilística mundial. Como chefe da área na Volkswagen desde 2007, estima-se que ele tenha que supervisionar simultaneamente mais de 100 novos modelos de automóveis das marcas Audi, Bentley, Bugatti, Lamborghini, Seat, Skoda e Volkswagen.

De Silva já esteve no grupo Fiat onde seu grande feito foi o Alfa 156. Um carro de linhas tão belas e bem resolvidas que nunca teve um sucessor. Ninguém conseguiu “melhorar” o estilo criado por De Silva para o carro. Logo em seguida, o executivo se transferiu para o grupo VW e, com o lançamento do Seat Leon, foi acusado de levar o estilo da Alfa para os modelos espanhóis. Uma história superada depois da criação de modelos irretocáveis para VW, Lamborghini e Audi. Para alguns, aliás, ele sofre da “Síndome de Audi”. Se apaixonou tanto pelo produto que só consegue pensar nele. Tanto que o carro mais belo que já desenhou, segundo ele próprio, foi o Audi A5.

É algo, no entanto, que não o impede de ouvir críticas e diferentes visões. Na entrevista exclusiva dada aos parceiros da Quattroruote, da qual MOTOR SHOW participou, questionou-se o fato de alguns modelos de carros da marca VW terem perdido o apelo entre consumidores. Sobre isso, ele discorda e acredita que a companhia tem se posicionado de maneira “atual e renovada” em relação aos concorrentes. Já quando questionado sobre o desenho do New Beetle, lançado há mais de uma década, De Silva, delicadamente, ratifica a crítica sem problemas e diz que já está na hora de o New Beetle parecer menos “um brinquedo” e avançar para linhas mais maduras (a segunda geração do New Beetle chega ao mercado em 2012 ou 2013). A análise racional é tão bem recebida pelo mercado quanto aquela que o designer faz sobre os carros elétricos. “Não dá para acreditar que esses automóveis possam ser ter um desenho muito diferente dos modelos não-elétricos. Para serem uma opção ao consumidor, precisam ser como qualquer outro belo carro.” Palavra de quem respira design há mais de três décadas e já se tornou um mago no assunto.