Danica Patrick já enfrentou comentários de que teria feito o “teste do sofá”. Hoje é uma respeitada piloto da Indy Racing League e está entre as mais bem pagas do mundo

As mulheres são responsáveis por 42% das vendas de automóveis. Mas 70% de todos os carros vendidos no País sofrem influência – ainda que indiretamente – do sexo feminino. É a esposa, a filha ou a mãe, quem, de fato, decide a compra. Segundo o departamento de marketing da Volks, se tem uma mulher junto na concessionária, será dela a palavra final. Por isso, a indústria está se esforçando para agradá-las. Revestimentos macios, pedais mais moles, porta-objetos, detectores de obstáculo, posição de dirigir elevada, ar-condicionado bi-zone são alguns itens desenvolvidos para atrair a atenção dessas mulheres que já não têm receio em dizer que gostam e entendem de carro.

A modelo Tânia Oliveira é uma delas. A moça parece já ter nascido gostando de carros. “Desde pequena eu trocava as bonecas pelos carrinhos”, conta. Ainda hoje as miniaturas de veículos são seus presentes favoritos e seu tempo livre é dividido entre a cadela maltês Yuki e seu Ford EcoSport. “Cuido do meu carro como se fosse um bicho de estimação.” Leitora assídua de revistas especializadas, ela garante que seu interesse pelos automóveis vai muito além do design. “Valorizo o conjunto, tenho um carro preferido em cada categoria, mas meu sonho é um Audi Q7.”

“Meu pai tinha um Fusca 1974 branquinho. Quando ele vendeu o carro, chorei mais do que ele. Mas vou comprar outro. Quero um modelo 1969 de cor tradicional ou um Fusca do Itamar pintado de rosa com bancos brancos

Tânia Oliveira é modelo, e panicat do programa Pânico

Já a consultora tuning Cátia Marisa Tappi Monreal nem ligava para carros até os 26 anos de idade, quando o amor pelo marido a fez descobrir esse universo. “Ele trabalhava em uma loja de acessórios e me deixava sozinha nos fins-de-semana. Eu ficava feito louca, fumando e chorando”, lembra. Essa vida de tortura durou até o dia em que ela assistiu ao filme Velozes e Furiosos 2 e percebeu que seus conflitos conjugais desapareceriam se ela se envolvesse mais com os assuntos do marido. Deu certo. Atualmente, Cátia e seus dois carros modificados são presenças constantes em eventos tuning e ela administra, com o marido, a loja de personalização que o casal montou.

“O preconceito acaba sendo favorável para a mulher. Como sabemos que não podemos cometer erros, porque teremos nossa competência questionada, acabamos nos esforçando mais, estudando mais e nos tornamos profissionais mais completas. Muitos homens acabam se acomodando e acreditando que aquilo que sabem já é suficiente e isso é um grande erro.”

Maria Ivete Gallas já trabalhou como treinadora de futsal da seleção do Irã, já foi motorista de ônibus e atualmente é monitora dos motoristas da empresa Carris, do Rio Grande do Sul

Muitas mulheres estão transformando o gosto pelos carros em profissão e se deparando com uma dura realidade: o preconceito existe e vem, em maior parte, das mulheres. A taxista Vanessa Felippe, por exemplo, decidiu investir na profissão após a morte do pai, de quem herdou o primeiro táxi. Hoje, o trabalho é um de seus grandes prazeres ao lado dos três filhos. “Eu amo o que faço, mas ainda existe preconceito, principalmente por parte das mulheres”, lamenta.

“Fui trabalhar como taxista depois da morte do meu pai. Não dava certo deixar o carro na mão de outro motorista, então resolvi aceitar o desafio. Hoje eu simplesmente amo o que faço”

Vanessa Felippe é taxista em São Paulo (SP)

Ninguém melhor para falar desse assunto do que Maria Ivete Gallas, que foi jogadora de futsal e chegou à treinadora da seleção iraniana. “Treinei a seleção quatro meses, disputamos os jogos islâmicos e ganhamos medalha de ouro”, orgulhase. Maz foi como funcionária da Carris, empresa de transporte coletivo na cidade de Porto Alegre, que Ivete fez carreira. “Entrei como motorista e depois de seis anos recebi uma promoção”, conta. Como monitora (uma espécie de chefe dos motoristas), ela comanda cerca de 130 homens. “No começo eles me aceitavam apenas por hierarquia. Mas com caráter, respeito e paz fui resolvendo a situação. Há muito tempo, já aprendi a lidar com preconceito”, diverte-se.

“Eu tinha vergonha de andar com o carro tunado, mas, como sempre gostei de ser diferente, resolvi experimentar. Adorei!”

Cátia Marisa Tappi Monreal é consultora tuning

A empresa GR Park também decidiu enfrentar essa barreira e recrutou modelos para trabalharem como manobristas. “A mulher é mais cuidadosa, trata melhor os clientes. Nosso índice de reclamação caiu muito”, conta Giuliano Gandolfi, um dos proprietários do valet. “Os homens nos aceitam melhor, fazem brincadeiras; as mulheres costumam olhar com desconfiança. Mas a verdade é que ninguém reage normalmente”, conta a modelo Daniele Sachetti.

“Quando eu tinha 14 anos, cheguei em casa e minha mãe me deu um cesto de roupas para passar. Foi aí que falei: ‘não quero isso pra mim!’ Acabei trabalhando em uma oficina no bairro sem ganhar nada, só para aprender. E coloquei na minha cabeça que só sairia de lá para uma empresa grande. Oito meses depois, fui trabalhar em uma concessionária Volks”

Rosely da Silva é sócia de uma oficina mecânica, consultora do Programa Mulheres, da TV Gazeta, ministra cursos de mecânica para a Porto Seguro e está escrevendo um livro sobre a sua vida

Ninguém reage normalmente. É isso que sente Aparecida do Amaral, de 46 anos, ao revelar sua rotina. Ela passa seu dia rodando com modelos pré-série e protótipos na pista de testes da Ford. Seu trabalho é identificar possíveis ruídos internos, problemas com bancos, retrovisores. “Quando o carro começa a ser vendido é gratificante saber que ele não tem um determinado problema porque você o identificou na pista”, orgulha-se.

A profissão de Rosely da Silva também é identificar problemas. Mecânica de automóveis, ela é sócia do noivo em uma oficina, consultora em programas de TV, ministra cursos de mecânica e está escrevendo um livro sobre a sua vida. “Quando eu tinha sete anos, olhava pela janela do quarto e via uma oficina que ficava com a luz acesa até tarde.

“Já passei por algumas situações engraçadas principalmente com picapes grandes e utilitários, que têm o freio de mão no painel. Eu tentava desbrecar o carro e acabava abrindo o capô…. Fiz o treinamento e hoje dirijo qualquer tipo de veículo, mas os clientes nunca reagem normalmente”

Daniele Sachetti é modelo-manobrista do estacionamento GR Park

Eu achava aquela profissão diferente, bonita”, relembra. A menina cresceu, foi babá, bancária, doméstica, costureira e, contrariando a mãe, consolidou sua carreira na mecânica. “O pessoal costuma dizer que eu sou do avesso!”

Do avesso ou não, Rosely e todas essas corajosas profissionais estão abrindo um caminho sem volta no mercado de trabalho e as mulheres só têm a agradecer a elas pela oportunidade.