O casamento entre Fiat e Chrysler, até hoje, não rendeu novos carros, mas apenas versões com logotipos trocados: na Europa, o Dodge Journey chegou como Fiat Freemont, a Chrysler Town&Country virou Lancia Voyager e o Chrysler 300 se transformou em Lancia Thema; Já nos EUA, o Fiat Doblò ganhou a marca RAM. A união serviu, também, para a Fiat vender seu Cinquecento nos EUA e para tirar o grupo Chrysler do buraco – afinal, foi sua crise, em 2008, que começou essa história toda.

Em janeiro de 2012, enfim, o primeiro filho dessa união será exibido ao mundo. No Salão de Detroit (EUA), a maior atração da Dodge, parte do grupo Chrysler, será um novo sedã – este que ilustramos nestas páginas (e flagrado em testes pelo site allpar.com). Ele será apresentado como substituto do Dodge Caliber, mas é muito mais do que isso. Com DNA das duas marcas, trata-se do novo sedã global da Fiat, destinado a ganhar os quatro cantos do mundo – e o primeiro de uma família que terá, ainda, um hatch, uma perua e outros frutos… Além de tudo, este três volumes terá o importante papel de ser o primeiro modelo Fiat vendido e produzido na China, onde inaugurará a aguardada joint venture entre Fiat e Guangzhou (empresa estatal que já tem parcerias com Honda e Toyota).

Baseado no Punto e, apesar das bitolas e do entre-eixos aumentados, o Linea Fiat não convenceu o tradicional consumidor de sedãs médios

O novo sedã será o primeiro carro do grupo Chrysler fabricado sobre uma base mecânica Fiat. A partir da antiga plataforma C da marca italiana, do Stilo e do Bravo, a Fiat investiu cerca de ? 100 milhões para chegar à nova C-Evo, que estreou no Alfa Giulietta. Em 2014, serão fabricados a partir dela cerca de um milhão de veículos por ano. Compacta mas modular, como a maioria das plataformas atuais, ela permite opções como essa forma alongada – batizada de C-Wide – que servirá de base para o novo carro.

Com 4,5 m de comprimento, o novo três volumes vai mirar os japoneses Corolla e Civic, líderes de mercado aqui no Brasil e na lista dos mais vendidos em quase todo o mundo. Haverá pequenas diferenças visuais, claro, conforme o mercado e a marca adotada: logotipo, conjunto ótico e equipamentos de segurança serão adaptados ao gosto local. Nos EUA, as suspensões dianteiras serão McPherson, com traseiras multilink, mas isso, também, pode ser adaptado para redução de custos.

A melhor notícia é que, fabricado no México como Freemont e 500, o novo sedã chegará ao Brasil ainda no primeiro semestre do ano que vem sem pagar Imposto de Importação e sem sofrer o aumento de IPI (em vigor até dezembro de 2012). Com motores 1.4 turbo T-Jet, a gasolina, e 1.8 flex – o E.TorQ produzido no Paraná – seus preços devem partir da casa dos R$ 65 mil.

 

O NOVO SIENA VAI FICAR MAIOR E O LINEA SERÁ BARATEADO. TUDO PARA ABRIR ESPAÇO NA LINHA E ENCAIXAR ESTE NOVO SEDÃ MÉDIO

Para acomodar o novo sedã em sua linha, a Fiat vai reposicionar o Linea. Hoje com preços entre R$ 56.700 e R$ 71.860, o sedã baseado no Punto vai perder as versões mais caras – incluindo a T-Jet, com motor 1.4 turbo, e continuar sendo oferecido entre a nova geração do Siena e o novo sedã global. O valor final do modelo reposicionado deverá ficar em cerca de R$ 45 mil. Uma mudança importantíssima, já que o Linea sempre foi criticado pela limitada largura da carroceria – uma vez que é derivado de um hatch compacto. Por isso, o Linea se sai melhor na briga com Honda City, VW Polo, Ford New Fiesta e outros sedãs pensados para mercados emergentes (leia mais no quadro) ou com porte menor.

Abaixo do Linea, chega a nova geração do Siena, com fermento adicionado. Para combater os “quase médios” com preços de compacto, como Nissan Versa, Renault Logan e Chevrolet Cobalt, o menor sedã da Fiat vai crescer em todas as dimensões. Será um modelo atraente, sem dúvida, que começa a ser vendido no início de 2012. Mas quem deve brilhar no ano que vem é mesmo o novíssimo sedã global.

LOCAL OU GLOBAL?

A estratégia da Fiat com seu novo sedã global é a mesma que tem sido seguida pelas líderes de mercado Honda e Toyota. Se dá tão certo para elas, por que seguir um caminho diferente? Produzir um mesmo modelo em todo o mundo (ou em boa parte dele) é uma forma de reduzir custos de desenvolvimento, além de deixar o consumidor mais satisfeito, já que ele se sente mais importante. Salvo pequenas adaptações para gostos e necessidades locais, as duas marcas japonesas têm vendido, há anos, versões iguais de seus principais modelos, Civic e Corolla, em quase todo o mundo (e também dos irmãos maiores Camry e Accord, além de compactos como o Fit). Entre os modelos globais como ele, além do novo Civic (leia mais nesta edição) e do Corolla, o novo sedã da Fiat vai enfrentar Cerato, Lancer, Chevrolet Cruze, Focus e Elantra. No segmento, há quem ainda siga receitas específicas para países emergentes: Peugeot 408 e Citroën C4 Pallas são dois que, por enquanto, ainda preferem essa receita. Mas essa opção é cada vez mais rara.

 

O FIAT POPULAR

Na Zona da Mata de Pernambuco, nascerá o novo Fiat popular, que, segundo nossas fontes, terá as formas acima. Um terreno de 14 milhões de metros quadrados está se transformando em um uma nova fábrica da marca. Um verdadeiro polo automotivo onde, além da segunda fábrica da marca italiana e de sua primeira pista de testes no Brasil, se formará um enorme polo industrial. A fábrica da Fiat, com investimento previsto de R$ 3,5 bilhões, ficará no município de Goiana, a 62 quilômetros da capital Recife, e terá como principal objetivo atender ao mercado que mais cresce no Brasil, justamente o da região nordeste, onde a economia se aqueceu com fortes investimentos nos últimos anos, incluindo a melhoria na infraestrutura para escoamento da produção com a renovação do Porto de Suape.

Acima, o substituto do Mille. Abaixo, o VW Up!, seu concorrente direto

Além da Fiat, a Volks já confirmou que terá uma fábrica na mesma região, onde será produzida a versão nacional do Up! (foto ao lado), o novo popular que, com preço pouco acima dos R$ 20 mil, vai aposentar o Gol G4 e encarar a nova concorrência chinesa. Para brigar com o Up! e os chineses, o novo Fiat substituirá o Mille, terá cerca de 3,3 m (o VW tem 3,54 m) e levará quatro passageiros. O antigo Palio, que sobreviveu à chegada da nova geração, continuará em linha.

Da fábrica de Goiana deve sair também um novo SUV compacto para encarar o EcoSport e o Renault Duster, feito sobre a plataforma Chrysler do pequeno e valente Jeep Compass.