26/06/2015 - 18:35
Enquanto a indústria automobilística sofre com perdas enormes em 2015, pelo menos um mercado de veículos vai muito bem, obrigado! É o mercado de miniaturas de carros e caminhões. Com três coleções sobre automóveis, caminhões e veículos de serviço que marcaram época no Brasil, a Planeta DeAgostini espera vender perto de 7 milhões de unidades ao longo do período de vida dos produtos, que é de três anos.
Brasileiros de 20 a 70 anos, das classes A e B, vão semanalmente às bancas atrás de mitos como o Volkswagen Fusca 1961, o Chevrolet Opala SS 4100 1976, o Mercedes-Benz L1113 da Kibon, o Puma GTE Coupé 1973, a Willys Rural 1968, o Mercedes LP331 das Casas Bahia, o Ford Maverick GT 1974 e muitos outros veículos que ficaram na memória automotiva do País. Caminhões da Scania, Volvo, FNM, Chevrolet, Ford e Fiat também fazem parte das coleções, bem como joias do quilate de um DKW-Vemag Belcar 1965, de um Scania LBS 85 S Água e de um FNM D-9500 Brasinca.
São 60 modelos da coleção “Caminhões Brasileiros de Outros Tempos” e outras 60 miniaturas de “Veículos de Serviço do Brasil”. Já a coleção “Carros Inesquecíveis do Brasil”, que teria 50 modelos, foi ampliada para 100, devido ao imenso sucesso que está fazendo com o público. As vendas são de dar inveja aos executivos das montadoras que oferecem carros populares por mais de R$ 30.000 em suas configurações de entrada (bem equipados, passam fácil dos R$ 40.000). Não que as miniaturas sejam baratas. Hoje, o preço dessas miniaturas é de R$ 44,99 para os carros de passeio, de R$ 46,99 para os veículos de serviço e de R$ 89,99 para os caminhões. Junto com as miniaturas, a Planeta DeAgostini vende um fascículo de 12 ou 16 páginas contando a história de cada modelo. Todas as miniaturas são na escala 1:43, a preferida dos colecionadores.
Aliás, a parte editorial é fundamental para que o produto seja vendido nas bancas, pois ele acrescenta o elemento cultural. O mercado editorial de revistas + colecionáveis movimenta R$ 1,5 bilhão no Brasil, sendo que só a parte de colecionáveis chega a 12% desse volume. Não é uma operação simples. Para colocar as coleções nas bancas, a editora precisou negociar com cada um dos fabricantes dos veículos, pagando royalties a cada um deles. Mas há casos em que a negociação pode ser diferente. Afinal, quando coloca uma miniatura do caminhão da Kibon ou das Casas Bahia nas bancas, de certa forma a editora está fazendo uma propaganda para essas marcas. Com a Coca-Cola, entretanto, não houve acerto – e o famoso caminhão com as garrafinhas não está presente nessa coleção.
A Planeta nasceu na Espanha e a DeAgostini é italiana, mas hoje o grupo está presente em 25 países e todas as miniaturas das coleções brasileiras são feitas na China, por questões de custo. Segundo a diretora geral Cristina Dias da Silva, que veio de Portugal para comandar a operação brasileira, a empresa arriscou quando decidiu fazer produtos exclusivamente para o Brasil, mas teve uma ótima surpresa. O faturamento das três coleções é estimado em R$ 300 milhões.
O sucesso dessas miniaturas mostra que o público brasileiro tem enorme carinho pelos carros que tinham “personalidade”. O Opala, por exemplo, foi produzido de 1968 a 1992 e reuniu uma enorme legião de fãs. É um ícone. O modelo SS 4.1 que está em uma das miniaturas de maior sucesso tinha motor 6 cilindros de 140 cv e atingia 170 km/h. Já o Puma GTE, uma inesquecível criação de Rino Malzoni, era um cupê com mecânica Volkswagen boxer e carroceria em fibra de vidro. Foi produzido na década de 1970 e fez parte dos sonhos de muitos jovens – e da realidade de adultos que podiam comprá-lo. O Fusca, outro ícone, teve duas fases de produção no Brasil: de 1959 a 1986 e de 1993 a 1996 (essa última, para atender a uma solicitação do presidente Itamar Franco). Mas desde 1950 o Fusca vinha importado da Alemanha e já havia cativado inúmeros corações nos trópicos.
Em resumo, essas miniaturas estão bombando no Brasil porque tocaram na alma do brasileiro aficionado por carros. Não deixa de ser uma lição para a indústria de autoveículos de verdade, pois, ainda que os valores sejam incomparáveis, a Planeta DeAgostini está dando ao público carros que ele quer comprar e por um preço que considera justo. Como as saídas são mensais, uma coleção de 100 carrinhos a R$ 44,99/mês não chega a pesar no bolso. A maior dificuldade que muitos maridos estão encontrando é onde acomodar tantas miniaturas dentro de casa sem irritar suas esposas.