Um aviso no site da Nissan dos EUA informa que as encomendas do Leaf estão suspensas. Isso porque 20.000 consumidores (mais que o previsto) já pagaram US$ 99 para reservar o primeiro elétrico da Renault-Nissan. A bateria de íons de lítio é seu coração – a energia dela movimenta o carro por cerca de 160 km. São 80 kWh, dos quais 95% são usados para a locomoção (os outros 5% são para proteger as baterias). Para quem roda mais que isso, pode não ser um bom negócio. “Se descobrir que o Leaf não é para você, devolvemos o dinheiro da reserva”, garante a marca.

A carga das baterias leva oito horas. Para isso, é preciso instalar um cabo especí co na garagem. Uma noite na tomada e ele estará pronto para uso. Se rodar demais, você pode efetuar uma recarga extra em tomadas de alta voltagem (em postos). Demora 30 minutos e garante uma carga de 80%, mas isso não é indicado porque diminui a vida útil das baterias e compromete a garantia (oito anos ou 160.000 km). Ou seja, o carro exige planejamento do proprietário. Para auxiliá-lo, o nível da bateria pode ser controlado pelo smartphone, que lembra o motorista de fazer a recarga, avisa quando ela estiver concluída e indica o ponto mais próximo de recarga. Se o usuário for organizado, pode até ligar o ar-condicionado pelo celular.

A lista de equipamentos é boa, com itens como o volante multifuncional (à esquerda). À direita, o inusitado painel e a alavanca do “câmbio”

Em cima do aerofólio, um painel solar armazena energia elétrica para ser usada pelos acessórios

Ao lado, um detalhe do “bocal” de abastecimento do Leaf: a recarga total leva oito horas

Se mesmo com essa necessária adaptação você achar que há lugar para um elétrico em sua vida, bem-vindo! Dirigir o Leaf é quase como dirigir um carro convencional. A primeira coisa que se nota é o espaço amplo. As baterias cam no assoalho, debaixo dos bancos – não comprometem o espaço para cinco pessoas e bagagens (330 litros). O conforto é igual ao de qualquer carro da categoria. Ao volante, você tenta se familiarizar com os comandos e, no lugar da alavanca de câmbio, acha um seletor. É um câmbio automático? Não, é um carro sem câmbio! A transmissão do torque às rodas é feita diretamente pelo diferencial. O botão serve só para mover o carro para frente ou para trás e selecionar o modo de condução, convencional ou econômica.

Pressione o botão start e você não ouvirá nada. Apenas verá um painel iluminado, com indicadores virtuais e a autonomia da bateria. Isso indica que o carro está pronto. Basta acelerar. Arrancadas e retomadas são vigorosas porque os 28,5 kgfm estão presentes assim que você toca o pedal. E eles se mantêm constantes até os 70/80 km/h. Aprendendo a dosar o pé, andando no ritmo do trânsito e usando o controlador de velocidade, a autonomia diminui dentro do esperado e uma simpática árvore no painel endossa sua dirigibilidade ecologicamente correta. Mas se quiser esportividade (que não há) ou tentar rodar a 120 km/h, verá a autonomia despencar. Mesmo com toda a preocupação com a aerodinâmica (Cx de 0,29), a estrada é sempre a pior situação para um carro elétrico.

Abaixo, as pesadas baterias que cam colocadas sob o assoalho do carro. A posição ajuda a melhorar a distribuição de peso entre os eixos e deixam o carro, mesmo com suspensão macia, bem “no chão”

Para carregar o carro na garagem da sua casa, antes é necessário instalar o adaptador acima

As baterias baixam o centro de gravidade, deixando-o bem assentado, ajudam a dividir o peso entre os eixos e garantem rigidez ao chassi. Assim, mesmo com suspensões macias, ele é estável. O volante é leve e o silêncio é absoluto. A energia para os acessórios vem de um painel solar no aerofólio. Mas, para diminuir a demanda, os faróis são de LEDs (50% mais econômicos) e o ar desliga quando atinge a temperatura correta.

Nos EUA, onde o Leaf acaba de ser lançado e as vendas já começaram (para os 20 mil que zeram a reserva), ele custa US$ 32.000. Mas, devido a incentivos do governo, os americanos não pagarão mais do que US$ 27.000 para tê-lo na garagem. Mostrado no Salão de São Paulo, o Leaf ainda não tem data para chegar ao Brasil. Um protocolo de intenções entre a Prefeitura de São Paulo e o grupo Renault-Nissan previa a compra de um lote do modelo para a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Mas, por enquanto, os detalhes ainda não foram de nidos. Para os consumidores, o carro só chega se o governo apresentar uma política de incentivo aos elétricos. Caso contrário, ele custaria caro demais.