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Da caótica capital paulista, fugimos rumo ao norte. São 1.340 km até o destino, a pouco conhecida Cavalcante, no norte de Goiás, quase em Tocantins. Será nossa base para explorar a região, incluindo a cidade de Alto Paraíso e a vila de São Jorge, portas de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no coração do Brasil. O caminho é uma reta só.


A Amarok encara o cerrado. A Estrada São Jorge-Alto Paraíso tem paisagens incríveis

Nas rodovias paulistas, com muitas cidades, carros e radares, seguimos a 120 km/h na Amarok Dark Label escolhida para essa aventura, com seu 2.0 diesel biturbo rodando bons 11 km/l. Em Minas Gerais, surgem pastos enormes, as cidades ficam escassas e a BR-050 segue ótima. O pé direito pesa e a Amarok engole os quilômetros mais rápido. Logo chegamos a Goiás, o cerrado já todo tomado pela agricultura.


A Cachoeira de Santa Bárbara é uma das mais famosas da região. Nas estradas em meio ao cerrado, frágeis pontes de madeira, flores que vivem na seca e sertanejos em burros de carga

O asfalto continua liso, as pistas ficam ainda mais vazias e os radares somem de vez. Subidas e descidas se sucedem, sempre retas, e até carros 1.0 rodam a 150 km/h – velocidade na qual a Amarok segue a 3.000 rpm, com pouco ruído de vento (e o consumo vai a 9 km/l). Só depois de atravessar pela GO-436 e DF-130 as miseráveis cidades-satélite de Brasília e incontáveis quilômetros de plantações de soja e sorgo, o Brasil começa a aparecer como encontrado há 500 anos.


A Cachoeira da Capivara tem “piscinas de borda infinita” e vista exuberante.  Uma lagarta hipercolorida. O Poço encantado  é uma das cachoeiras com acesso mais fácil. A loja de produtos artesanais do povoado quilombola Kalunga  é bem interessante 

A paisagem fica crua, selvagem e árida. O solo seco, o ar poeirento e as árvores retorcidas mostram um Brasil selvagem, em grande parte intocado. É noite e sinto falta de faróis de xenônio em um trecho com faixas apagadas e aves e outros bichos cruzando a pista. Quatorze horas depois, chegamos a Cavalcante. Achou muito? Pernoite antes no Hotel e Restaurante Sonho Verde, km 128 da BR-050 (oito horas de São Paulo).


Em Cavalcante, a Cervejaria Aracê tem empanadas chilenas e cerveja artesanal. Acima, a Amarok mostra sua valentia nas duras trilhas da fazenda Veredas. Ao lado dela, a placa na saída da cidade avisa que tem chão pela frente 

Se até aqui a Amarok se mostrou confortável e ágil para uma picape, agora é hora de mostrar sua força e valentia. Cavalcante tem altitude que varia de 360 a 1.600 metros e mais de 100 cachoeiras, a maioria com acesso por terra. Nem todas são boas, mas a tração integral da Amarok garante total aderência, não deixando sequer uma roda patinar, e as suspensões mantêm tudo magicamente confortável.

A mais famosa das cachoeiras de Cavalcante é a magnífica Santa Bárbara, no Quilombo Kalunga, onde descendentes de escravos fugidos das minas de ouro formaram comunidades e viveram isolados por 200 anos, tão remota é a região. É preciso pagar um guia (R$ 70 por carro) e entrada (R$ 20), mas dá para ficar lá o dia todo, almoçar no vilarejo e conhecer também a cachoeira da Capivara.


A Feira do Produtor Rural acontece aos sábados em Alto Paraíso. Tem produtos naturais e esotéricos, além de roupas indianas e comidas feitas com flores e outros ingredientes do Cerrado

Ainda em Cavalcante, a Cervejaria Aracê tem produção artesanal – incluindo uma receita com baru, fruto do cerrado – e empanadas. Não deixe de ir ao Vale das Araras (www.valedasararas.com.br), rota de aves onde fica a cachoeira de São Bartolomeu, e à Fazenda Veredas, com cachoeiras e poços (www.pousadafazendaveredas.com.br). O acesso a essa última é difícil e só os 4×4 mais valentes, como essa Amarok, encararam.


Na região moram estrangeiros, hippies (como os donos da Kombi “cósmica” acima) e esotéricos. A proximidade do paralelo 14, dizem atrai discos voadores (esse, de mentira, é atração no centro de atendimento ao turista de Alto Paraíso)

Se não quiser arriscar, estacione o carro antes da trilha de subida do morro e exercite as pernas. De Cavalcante são 100 km de asfalto até a vizinha mais famosa, Alto Paraíso de Goiás. Entre as duas cidades, o Poço Encantado (www.cachoeirapocoencantado.tur.br) tem acesso fácil, restaurante (o escondidinho de carne de sol é imperdível) e chalés com vista para a cachoeira.


Acima, a Amarok em frente a uma casa típica, de Adobe (tijolo feito com terra do local) e uma das muitas aranhas que vivem nas pedras (fique atento!). Para quem viaja com crianças, a Cachoeira das Loquinhas tem fácil acesso e diversas quedas d’água e poços de águas esverdeadas. O Vale da Lua tem rochas de formação curiosa

Em parte devido à proximidade do paralelo 14 – o mesmo de Machu Picchu –, em parte pela paisagem surreal e o isolamento, Alto Paraíso é uma cidade cuja população mistura estrangeiros, esotéricos, hippies e outras “sociedades alternativas”. Há lojas de artesanato, restaurantes e pousadas por toda parte (e por isso é uma “base” mais recomendável que Cavalcante para os menos aventureiros).

No sábado de manhã a Feira do Produtor Rural é autêntica e imperdível – com destaque para a barraca que vende tapiocas, tacos e outros pratos feitos com flores e frutos do cerrado. Mais 36 km levam a São Jorge, vilarejo na entrada do Parque Nacional (com muitos atrativos para quem gosta de caminhadas). Apesar de menor que Alto Paraíso, tem boa estrutura e atrações como o Vale da Lua, com suas curiosas formações rochosas, e as Cachoeiras das Loquinhas, dos Cristais e Almécegas – para citar só alguns destaques entre inúmeros atrativos naturais da região.


A simpática Vila de São Jorge cresce rapidamente. Tem lojas de produtos artesanais e boa estrutura turística. É a melhor porta de entrada para quem vai visitar o Parque Nacional

Como sempre, exploramos também o “lado B” da Chapada. Pelo norte do Parque Nacional, percorremos mais de 100 km em vazias estradas de terra entre Cavalcante e Colinas do Sul. A vista das montanhas é exuberante e dirigir em meio ao cerrado selvagem, mais bruto, é uma experiência única. Na volta, de novo encaramos os 1.340 km até São Paulo de uma vez só.

Saindo cedo, são quatro horas até o Hotel e Restaurante Sonho Verde, novamente a melhor opção para almoçar e descansar. Aproveitamos para lavar o para-brisa, retirando milhares de borboletas e outros insetos que o limpador da Amarok não deu conta de limpar. Mais 850 quilômetros nos levam de volta a São Paulo, nossa parada final – e um verdadeiro choque cultural depois de um contato tão intenso com a natureza desse Brasil selvagem.