Você é do tipo que ainda acha que quanto maior o motor, melhor? Bem, esse novo Audi A4 2015 é mais uma prova de que tamanho não é documento. Com um novo motor 1.8 no lugar do antigo 2.0, ele ficou melhor: ganhou no consumo sem perder no desempenho. Seguindo a tendência mundial de downsizing – adoção de motores mais compactos com menor emissão de poluentes – a Audi usa da engenharia e da tecnologia para fazer desse 1.8 um dos melhores motores disponíveis no mercado hoje.
Esse 1.8 turbo não é exatamente novo, pois já equipa há tempos a linha A3. Seu maior segredo está em ter dois sistemas de injeção de combustível. A injeção direta nos cilindros é usada na partida e em situações em que se exige mais do motor, como acelerações fortes e retomadas – e pode realizar duas ou três injeções a cada abertura das válvulas de admissão (que ainda contam com o sistema Valvelift de levantamento parcial das válvulas). Já a tradicional injeção indireta, no coletor, que tem sido abandonada em detrimento da direta, ainda tem vantagens, e é justamente aí que está o pulo do gato desse 1.8. Em situações de pouca carga no acelerador, esse tipo de injeção consegue garantir um consumo mais contido. E o câmbio Multitronic, CVT, ajuda a manter o pé leve. No modo normal, essa caixa continuamente variável (que já equipava o sedã) permite que se conduza o carro tranquilamente sem quase nunca passar de 2.000 rpm (para quem busca esportividade, o modo S simula oito marchas e permite intervenções usando as borboletas; e ainda há o modo manual, em que o motorista assume o controle das trocas).
Essa “inteligência” toda do novo motor 1.8 se comprova nos números. Apesar da discreta queda na potência em relação ao 2.0 (de 180 para 170 cv), o torque se manteve em 32,6 kgfm e, no desempenho, 0-100 km/h e máxima tiveram perdas desprezíveis (8,3 segundos e 225 km/h, contra 8,2 segundos e 226 km/h do 2.0). A grande vantagem, portanto, está no consumo: a marca diz que a redução é de 21%. Nas medições seguindo padrões europeus, enquanto o A4 2.0 fazia 10,6 km/l na cidade e 17,5 km/l na estrada, o novo faz 14,5 e 19,6 km/l, respectivamente. Note que o maior ganho se deu na cidade, onde a injeção indireta ainda é melhor (na vida real, durante o teste, conseguimos marcar 8 a 9 km/l na cidade e 13 a 14 km/l na estrada). Já os números do Inmetro (Programa Brasileiro de Etiquetagem 2015) apontam 8,7 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada.
No mais, em quase 600 quilômetros de test-drive, o A4 se mostrou um belo sedã familiar: o motor não decepcionou nem em subidas de serra com o bagageiro lotado; a direção não é especialmente direta ou comunicativa, mas tem peso correto e boas respostas; o espaço é bom para quatro adultos e uma criança, apesar de o generoso entre-eixos prometer mais; o porta-malas tem boa capacidade e braços protegidos para não esmagar a bagagem; as suspensões, apesar de um pouco ruidosas nos buracos, são confortáveis sem exagerar na maciez; o nível de ruído é baixíssimo; e, para finalizar, a ergonomia é ótima, assim como a localização e a usabilidade dos principais comandos de som e equipamentos.

Essa nova mecânica passa a equipar as duas versões do sedã. A antiga topo de linha Ambition foi aposentada (pelo menos provisoriamente), e agora estão disponíveis apenas a de entrada Attraction (R$ 138.990, já com o novo IPI) e essa Ambiente, avaliada, de R$ 147.990. Ambas são bem completas, com sensores de chuva e estacionamento, faróis de xenônio, volante esportivo, start-stop, ar-condicionado automático, controle de estabilidade e piloto automático, entre outros itens – mas a mais cara ainda soma teto-solar, rodas maiores (18”, contra 17” do Attraction) e bancos dianteiros com ajuste elétrico. Pena que o rádio MMI Plus com o excelente navegador por GPS seja tão caro (R$ 10.700). Mas dá para viver bem sem ele: o sistema de série não é tão bonito e tem tela menor, mas é bem completo e fácil de usar.

Além da já ameaça que enfrenta dentro da própria casa – a do o irmão menor A3 Sedan – o A4 ainda tem a dura concorrência do já nacionalizado BMW Série 3 e do Mercedes-Benz Classe C, que acaba de chegar em novíssima geração (e vira nacional no ano que vem). O A3 é mais apertado, porém mais barato e mais econômico; o BMW é bem mais esportivo e tem motor flex; e o Mercedes tem design mais atual. Nenhum deles vai te decepcionar, claro, mas se você busca acima de tudo conforto e suavidade ao rodar, ficará entre esse Audi e o Classe C. Já se puder esperar pela nova geração do próprio A4, que deve ser apresentada na Europa ainda este ano e chega ao Brasil em meados de 2016, poderá ter uma grata surpresa.

FICHA TÉCNICA

Audi A4 Sedan Ambiente 1.8T
Motor: 4 cilindros em linha, 16V, duplo comando continuamente variável (Valvelift), injeção direta e indireta, turbo, start-stop
Cilindrada: 1798 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 170 cv de 3.800 a 6.200 rpm
Torque: 32,6 kgfm de 1.400 a 3.700 rpm
Câmbio: automático continuamente variável (CVT Multitronic), oito marchas simuladas (no modo sport)
Tração: dianteira
Direção: elétrica
Dimensões: 4,701 m (c), 1,826 m (l), 1,427 m (a)
Entre-eixos: 2,808 m
Pneus: 245/40 R18
Porta-malas: 480 litros
Tanque: 63 litros
Peso: 1.470 kg
0-100 km/h: 8s3
Velocidade máxima: 225 km/h
Consumo cidade: 8,7 km/l
Consumo estrada: 11,3 km/l
Nota do Inmetro: C, categoria extra-grande