Civic 2009: o carro que faltou no Salão do Automóvel. Foi essa a impressão que ficou para os visitantes mais atentos da maior mostra de carros da América Latina. Ao lado do novo Fit, um vazio no palco do estande da marca denunciava a ausência. A versão 2009, já vendida no Japão e nos EUA, não veio.

Aqui, o Civic atual, modelo 2008. Compare com a foto maior, do novo sedã que chega no ano que vem: as mudanças no pára-choques e faróis foram sutis

Comentava-se nos bastidores que a tal crise econômica jogou um balde de água fria nos planos da Honda no Brasil. A marca japonesa temeu que a mostra de uma nova versão pudesse comprometer a rápida comercialização das unidades que ainda estivessem em seu estoque. Um estoque pequeno, diga-se de passagem, que supria as necessidades da grande demanda do mercado nacional. Por isso, resolveu abortar a apresentação do modelo 2009 até que todos os Civic 2008 tivessem sido vendidos.

Preocupados com essa possibilidade de “encalhar” os carros, a marca, como não é de seu costume, passou a comercializar o Civic com um desconto bastante significativo para os consumidores. Em São Paulo a montadora chegou a anunciar a versão LXS Flex com mais de R$ 5.000 de desconto, vendendo-a por atraentes R$ 59.990 na versão equipada com câmbio manual. Um ótimo negócio, principalmente se considerarmos que as alterações foram mínimas no modelo 2009.

A grande alteração, alardeada por parte da imprensa especializada, que seria a adoção do motor 2.0 em todas as versões em substituição ao 1.8 Flex que equipa o atual modelo, ficou sem fundamento. O Civic 2009 continuará sendo produzido com o bom motor 1.8 de 140 cv, o mais potente da categoria, como acontece nos demais países do mundo em que é fabricado.

Alguns chegaram a dizer que a Honda utilizaria o motor do esportivo Si, um 2.0 de 192 cv, “amansado” para chegar aos 160 cv, objetivo da marca para o pseudo novo propulsor do Civic 2009. Uma especulação infundada, principalmente se considerarmos que o motor esportivo tem peças e componentes móveis concebidos para performances que jamais seriam utilizadas em um sedã normal. Ou seja, haveria um desperdício de dinheiro na produção desse motor para utilizações mais brandas.

Além disso, a Honda tem mostrado, ao longo dos anos, que não faz esse tipo de adaptação: cada motor é concebido para cada utilização e para cada carro. Por isso, eles têm tantos motores de mesma capacidade cúbica, mas de famílias completamente diferentes, sem peças intercambiáveis. Cada motor tem sua aplicação específica.

O novo Civic 2009 teve, na realidade, só mudanças suaves em seu vitorioso design. O pára-choque dianteiro, juntamente com a grade, sofreu pequenas alterações de design, juntamente com conjunto óptico dianteiro (faróis com nova tonalidade de fundo e piscas na cor âmbar) e lanternas traseiras (agora em acabamento fumê), que oferecem nova e sutil combinação de acabamento que certamente passará despercebida para a grande maioria dos consumidores.

Novos faróis de neblina dão nova cara à versão Si. Rodas de liga com novo desenho completam as alterações externas da linha 2009. Internamente, mudam as forrações para bancos e de portas, além da oferta de Bluetooth e entrada USB para o sistema de áudio. Modificações sutis, que atualizam o modelo para aguardar uma nova versão, que deve surgir no final de 2010, quando a Toyota apresentará um Corolla totalmente novo, com plataforma inédita. Nesse momento é possível, sim, uma nova motorização porque, tradicionalmente, a Honda muda os motores sempre que lança uma nova geração de um carro. A cilindrada deste motor, por enquanto, ainda não se sabe qual será.

Internamente, o Honda Civic ganha novos revestimentos dos bancos e das laterais de portas. O painel continua igual

No mercado nacional, o Civic lidera o segmento. “Nada de braçada” sobre o segundo colocado, o Corolla: no acumulado até outubro, foram quase 55 mil Civic contra cerca de 36 mil Corolla. Vantagem indiscutível. Só para dar uma idéia, o terceiro colocado, Vectra, vendeu no mesmo período menos de 24 mil unidades. A chegada do novo Focus e do Linea deverá dividir mais esse mercado de quase 200 mil unidades/ano. Mas alguém duvida que a Honda continuará dando as cartas nesse segmento?

Os ausentes

Conheça outros carros que, como o Civic, fizeram falta durante o Salão. Tinha até carro escondido, que poucos puderam apreciar

Não dá para reclamar de falta de lançamentos neste Salão, mas houve ausências. Nas páginas anteriores, você conferiu por que o palco da Honda tinha um novo Fit do lado direito e um vazio do lado esquerdo – espaço reservado para o Civic 2009, que não apareceu.

Nas próximas páginas, você confere nossa avaliação da sexta geração do Golf, que a Volks diz que não vai vender no Brasil. Enquanto a marca diz que fez questão de levar os jornalistas para seu lançamento apenas para “ficarem por dentro dos lançamentos internacionais”, o fã brasileiro de automóveis não pôde vê-lo de perto – e nem o belíssimo Scirocco, que avaliamos na edição de agosto passado.

Já a Ford ficou devendo o novo Fiesta e mostrou apenas o conceito Verve, que deu origem ao modelo de produção à venda na Europa, mas que só chega aqui em 2010. A BMW também deixou de mostrar o Mini Cooper que começa a vender no ano que vem, alegando que as marcas BMW e Mini são distintas e não poderiam ser mostradas no mesmo estande. Perdeu a oportunidade de disputar a atenção com Fiat 500 e Smart Fortwo, outras “miniaturas” do Salão.

No estande da Toyota, que não tinha grandes novidades além da Hilux e RAV4 reestilizados, ainda havia esperança de que a Tundra – potencial concorrente de F-250 e Dodge RAM – estivesse lá. Este mês ela começa a ser exportada para diversos mercados latino-americanos, mas o Brasil, segundo a marca, não está nos planos de nenhum dos modelos.

Já o lançamento mais comentado da Ferrari nos últimos tempos, a conversível California, também fez falta – e mesmo assim o estande da marca (como sempre) era um dos mais lotados do Salão. De volta ao mercado brasileiro, a Suzuki não queria mostrar apenas o Grand Vitara e o conceito Kizashi – o jipinho Jimny, que já foi vendido por aqui antes, deveria estar lá, mas dizem que ficou preso na alfândega.E, finalmente, temos o “escondido”: o superesportivo Mercedes SLR McLaren Roadster não pôde ser visto pelos simples mortais, mas estava exposto no mezanino da montadora, exclusivo para os clientes VIP – que levaram para suas exclusivas garagens. Duas unidades estavam sendo negociadas no próprio mezanino, por US$ 1.399.000 (dólares!!) cada.

Flávio R. Silveira

Acima, a Mercedes SLR McLaren conversível, que ficou “escondida” do público no mezanino da marca. Só para clientes VIP. Abaixo o Fiesta, que veio travestido de conceito Verve para um teste de reação do consumidor