Receita do novo sedã da Honda: na primeira fase do preparo, pegue um Honda Civic e diminua seu comprimento em nove centímetros – e a largura e entre-eixos em cinco centímetros. Agora, aumente a altura em três centímetros e amplie a capacidade do porta-malas de (poucos) 340 litros para (excelentes) 506 litros.

É hora da segunda fase: em vez de usar a plataforma mais sofisticada do Civic, com suspensão independente nas quatro rodas, use uma (quase) igual à do Fit, mais barata e com eixo de torção na traseira. Aproveite também o powertrain do Fit, com o moderno motor 1.5 de 116 cv e 14,8 kgfm, em vez do 1.8 de 140 cv e 17,7 kgfm do Civic. Para terminar, faça um acabamento mais simples que o do Civic, usando materiais menos nobres – quase iguais aos do Fit.

O resultado desta receita – você pode estar imaginando – é um sedã com bom espaço interno, ótimo porta-malas e desempenho modesto, mas bastante satisfatório. Um sedã “pequeno-quase-médio” que roubaria rapidamente os clientes das versões mais caras de Peugeot 207, Fiat Siena e Renault Symbol, entre outros. Um sedã que, por oferecer um tamanho maior – e a força da marca Honda – chegaria com um preço imbatível. Se era isso que você estava imaginando, quase acertou, a não ser pelo preço.

Na verdade, você já podia ter antecipado isso considerando o preço do Fit – que não fez a mínima questão de ficar alinhado com o dos rivais Meriva e Idea. Já virou tradição da Honda vender sua “etiqueta”: cobrar mais caro que outras marcas, com resultados positivos.

Na verdade, a marca foi muito esperta em distinguir o City do Fit, fazendo-o parecer um míni-Civic. Isso porque, na verdade, ele é sim um Fit com carroceria de sedã. Desde 1996, o Fit tem, em mercados orientais, uma versão três volumes, chamada Fit Aria. Mas seu design era estranho, sem harmonia, e por isso, nesta geração (a terceira), a montadora decidiu separar os projetos.

O interior é bem parecido com o do Civic, mas tem acabamento menos refinado. Entre os itens de série: air bag, direção elétrica, som e ar-condicionado são de série nas três versões, que têm pacotes parecidos com os do Fit. Apenas com uma opção de motor, o modelo pode receber câmbio manual ou automático. Já as borboletas no volante são um opcional da versão top

Apesar de parecer um Civic ele é, sim, um Fit sedã. E isso ficou claro no test-drive que realizamos: com o mesmo powertrain, o mesmo sistema de suspensões e a mesma direção com assistência elétrica, sua dirigibilidade é muito semelhante à do pequeno monovolume.

Dele também tem o consumo baixíssimo, mérito do motor pequeno com comando de válvulas de admissão variável, que funciona com 12 válvulas em baixas rotações e com 16V em altas, obtendo um torque bastante linear (cujo desempenho, no entanto, não empolga nem decepciona). As versões de acabamento são três, com pacotes semelhantes aos do Fit, mas airbag duplo de série em todas as versões.

Entre os pontos negativos, a largura limitada – ele não acomoda três passageiros atrás como um sedã médio (o espaço para as pernas, porém, é bom), mas compensa com o banco reclinável em até oito graus. Também pesa contra ele o alto ruído do motor na cabine, em altas rotações.

Para finalizar, outro ponto negativo, repito, é o preço. Oferece mais que os sedãs pequenos, e pode cobrar mais, mas na faixa em que foi colocado (essa versão intermediária automática custa R$ 65.450) dá para comprar carros maiores e mais potentes, como Sentra 2.0, Focus 2.0, Mégane 1.6 ou 2.0 e Bora 2.0. O mercado dirá se vale a pena levar o City.

A Honda apostou no desenho consagrado do Civic também para o sedã de seu pequeno monovolume. E deu certo!