Durante muitos anos, o consumo de combustível declarado pelos fabricantes de automóveis no Brasil tinha uma distância absurda da realidade enfrentada pelos motoristas nas ruas e estradas. Por isso, em meados da década passada, o Inmetro decidiu colocar ordem na bagunça e instituiu uma etiqueta de eficiência com cinco faixas de cores, sendo verde para classificação “A” e vermelha para classificação “E”. Isso já existia nos eletrodomésticos. O PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular) estreou em 2008, com apenas cinco montadoras e 54 carros (considerando as versões).

Na semana passada, quando divulgou a tabela de 2016, o Inmetro comemorou a adesão de todas as montadoras (35), que submeteram 795 versões de automóveis ao teste de consumo de combustíveis e emissões de gases poluentes. Das grandes marcas, a única que estava de fora era a Chevrolet (justamente a que tem o carro mais vendido do Brasil). Ainda no primeiro semestre, outros 131 carros serão incluídos, o que totalizará 926 veículos analisados.

Para que os números sejam parecidos com os praticados pelos motoristas no dia-a-dia, os valores em km/l são medidos em condições padrão de laboratório e ajustados para simular condições mais comuns de utilização. O índice de correção aplicado é o mesmo para todos os carros. Essa fórmula mostrou ser um sucesso, pois hoje não temos mais que comprar um carro que oficialmente faz 20 km/l na norma usada pela maioria das montadoras (NBR7024) e depois verificar na prática que ele não passa de uns 8 km/l.

Porém, mesmo com números próximos da realidade, um carro pode ser mais econômico ou mais gastão devido a vários fatores. Fatores como trânsito, clima, altitude, pneus, vidros (abertos ou fechados), ar-condicionado (ligado ou desligado), motor (potência e torque) e câmbio (manual ou automático) influem nos números de consumo. Mas o maior responsável pelo consumo de um carro ainda é o próprio motorista: a maneira como se dirige faz toda a diferença. Por isso, os números do PBEV devem ser usados como referência para motoristas que não dirigem como se estivessem numa pista de corrida e que não se esquecem de trocar a marcha quando o motor está gritando.

A tabela deste ano traz muitas novidades: novas categorias (Micro Compacto e Picape), a inclusão dos carros a diesel, o tipo de pneu usado no teste, a emissão total de CO2 (antes era só o CO2 fóssil), o consumo combinado cidade/estrada e a tabela de Consumo de Combustível (litros/100 km) junto com a de Quilometragem por Litro (km/l), que é a medição preferida dos brasileiros. Mas vamos ao que interessa: os números.

O carro mais econômico do Brasil agora é o Peugeot 208. Graças ao seu novo motor 3 cilindros 1.2, o modelo francês tirou o título do Volkswagen Up TSI. O Peugeot 208 conseguiu uma média de 15,9 km/l de gasolina. Na cidade, ele fez 15,1 km/l e na estrada alcançou 16,9 km/l. Sua classificação é A tanto no ranking geral como na categoria Compacto. O Up tem um consumo combinado de 14,8 km/l e continua como campeão na categoria Subcompacto.

A nova categoria Micro Compacto tem o Fiat Mobi Easy com a melhor marca (13,5 km/l), mas seu teste foi feito sem ar-condicionado. Com o ar ligado, o campeão da categoria é o Chery QQ (12,9 km/l). Ambos conseguiram nota A no geral e na categoria. Aliás, somente 12 carros fizeram teste sem ar-condicionado, uma condição que gasta menos combustível. São eles o furgão Mercedes Vito, a picape Rely e 10 modelos da Fiat: Mobi Easy, Palio 1.0 (duas versões), Uno 1.0, Siena 1.0, Doblò 1.4, Doblò 1.8, Fiorino 1.4 e Strada 1.4 (duas versões). Os demais 783 veículos foram testados com ar ligado, o que é mais comum num país de clima quente como o Brasil.

Na categoria Médio, o melhor consumo é o do Nissan New Versa 1.0, que fez a média de 13,9 km/l. Vale registrar também a ótima marca de 18,0 km/l do Toyota Prius, mas esse carro é híbrido (usa um motor elétrico e outro a combustão). Ambos também têm nota A no geral e na categoria.

Nas outras 10 categorias, nenhum carro conseguiu nota A no ranking geral (alguns têm nota C ou até D), embora ostentem a etiqueta verde da categoria. Isso já criou muita polêmica entre as montadoras, que, evidentemente, preferem colocar no vidro dos carros a etiqueta da categoria e não a do ranking geral.

Na categoria Grande deu Audi A3 Sedan 1.4 (12,7 km/l), que tem nota B na geral. Na Extra Grande o melhor é o Mercedes C 180 (também 12,7 km/l e B na geral), mas vale o destaque para o Ford Fusion Hybrid (15,9 km/l). O campeão da categoria Utilitário Esportivo Compacto é o Suzuki S-Cross (12,5 km/l e B na geral). Deu empate na Utilitário Esportivo Grande: Toyota RAV4 2.0 4×2 (C na geral) e Volvo XC90 (D na geral) conseguiram os mesmos 10,9 km/l de gasolina.

O melhor Fora de Estrada é o Range Rover Evoque (13,5 km/l e C na geral), enquanto o campeão da categoria Minivan é o novo Citroën Grand C4 Picasso (10,3 km/l e C na geral). O menor consumo na Comercial é do Fiat Doblò 1.4 (10,0 km/l e C na geral), mas ele não tinha ar-condicionado. Com ar ligado, o menor gasto é do Renault Kangoo Express (9,4 km/l e C na geral). Também deu Fiat em Carga Derivado, mas de novo sem ar-condicionado: Uno Furgão 1.4 com 11,8 km/l (B na geral). Com ar, vitória da VW Saveiro 1.6 Trendline (11,7 km/l e B na geral). Na nova categoria Picape, a Fiat venceu com a Toro 4×2 Diesel: fez 11,5 km/l (nota C na geral).

Finalmente, na categoria Esportivo, houve um empate entre o Mini Cooper e o Audi TT Roadster: ambos fizeram 11,1 km/l e têm nota  na geral. Como curiosidade, vale o registro, aqui, do pior desempenho entre os 795 carros medidos: o Lamborghini Aventador fez uma média de apenas 4,3 km/l de gasolina, sendo 3,3 km/l na cidade e 6,8 km/l na estrada, nas condições do teste. Imagina pisando fundo!

Infelizmente, as montadoras deixaram de fora do crivo do Inmetro sete carros bastante procurados pelos consumidores: Renault Clio, Chevrolet Cobalt, Citroën C3 Picasso, Fiat Strada 1.8, Chevrolet S10 Diesel, Ford Ranger Flex e Toyota Hilux Flex. Resta saber se esses veículos estarão entre os 131 que serão medidos ainda este ano ou se são apenas “fujões” que não querem declarar seus verdadeiros números de consumo.

Para encerrar esse festival de números, temos finalmente a estreia do Chevrolet Onix, que é atualmente o carro mais vendido do Brasil. Curiosamente, ele tem o mesmo consumo com motor 1.0 e com motor 1.4 (12,3 km/l, ambos com nota B na classificação geral). Entretanto, quando equipado com câmbio automático, a eficiência do Onix 1.4 piora bastante e sua média cai para 10,8 km/l.

É importante que os consumidores passem a valorizar o selo do Inmetro e fiquem de olho mais no ranking geral do PBEV do que na classificação por categoria, pois ela pode ser enganosa. Afinal, isso reflete diretamente no bolso. A diferença entre comprar um carro pequeno nota A (13,0/15,1 km/l cidade/estrada) e um carro do mesmo porte nota E (8,3/10,8 km/l cidade/estrada) pode representar uma economia superior a R$ 1.800/ano para quem roda apenas 40 km/dia. Em cinco anos, essa economia passa de R$ 9.000, o que pode representar até 30% do valor do veículo.