A Renault planeja fabricar mais um SUV no Brasil. A plataforma? Exatamente a mesma do Duster. O visual? Virá do belo e refinado Captur, modelo que a marca está lançando na Europa sobre a plataforma do Clio europeu. Em princípio, o carro está cotado para ser importado ao Brasil com preço das versões topo de linha do Duster e do EcoSport, quase alcançando modelos como Kia Sportage e Hyundai ix35. Mas, segundo nossas fontes, a marca tem ambições maiores: em cerca de dois anos, o modelo deverá passar a ser produzido na planta de São José dos Pinhais (PR), que acaba de ganhar uma enorme ampliação de sua capacidade produtiva – que levou à paralisação total das linhas de produção durante 60 dias, algo um tanto raro na indústria.

Inicialmente, a ideia de ter dois modelos com base semelhante disputando o mesmo segmento pode parecer estranha, mas faz muito sentido. Ela surgiu depois que a “tempestade” do EcoSport causou muito menos estrago do que se imaginava. A marca já estava procurando estratégias de marketing para combater o rival e a agência de propaganda pensava em como se defender de um carro com a história de sucesso do Ford chegando totalmente renovado. Isso porque brigar com um automóvel em seu ciclo final de vida é fácil, mas uma novidade eficiente e moderna assusta até mesmo os executivos mais confiantes. O tempo fechou e a paisagem à frente era nebulosa. Mas as profecias falharam: o novo Eco foi lançado e o Duster não passou a vender menos por conta disso.

Em dezembro de 2012, os modelos fecharam o mês praticamente empatados. Em seu pior momento em 2012, o EcoSport teve 1.638 unidades vendidas. Foi em agosto, o mês do lançamento da nova geração. A Renault, nesse mesmo período, vendeu nada menos que 5.049 Duster. Nos meses seguintes, o novo Eco se recuperou e ganhou 5.048 novos clientes, fechando dezembro com 6.686 exemplares vendidos. Seria normal imaginar que boa parte desses consumidores migraram do Duster – mas o modelo da Renault se manteve na briga pela liderança do segmento, mês a mês, e terminou dezembro com 6.524 unidades comercializadas. “O que estamos vendo é muito cliente sair da concessionária, ir conhecer o concorrente e voltar para comprar o Duster”, a rmou Frédéric Posez, diretor de marketing da Renault, no fim do ano passado. Seria decepção com o SUV recém-lançado? Na verdade, a tese que já é quase um consenso dentro da própria Renault é de que os consumidores dos carros são distintos. Eles não  são assim tão concorrentes como parecia inicialmente. O Duster, com sua cara de mau, e o Eco, com visual de bom-moço, atendem a interesses distintos e, em um mercado emergente de mais de 3,8 milhões de carros, podem perfeitamente conviver lado a lado.

Foi exatamente aí que o Captur surgiu como uma oportunidade. Se existe um consumidor de SUV que tem gosto mais urbano e quer um modelo mais gracioso e acolhedor, e se o Duster não empolga esse cliente, por que não atendê-lo com o novo modelo que estava sendo desenvolvido na França? Assim, o carro apareceu aqui no Salão do Automóvel, ainda como conceito, para testar a reação do público (e da crítica). Uma vez aprovado, ele foi diretamente para a fila de modelos nacionais. Algumas centenas de engenheiros da marca no Brasil já trabalham na adaptação da carroceria francesa para a plataforma B0 de Duster, Sandero e Logan e, até 2014, esse carro se tornará realidade. Na Europa, onde é produzido sobre a base do Clio, o Captur terá apenas tração dianteira, mas aqui poderá surgir a versão 4×4 com o uso da mecânica do irmão. As medidas internas devem ser aumentadas, e o carro, que lá terá 4,12 m de comprimento, aqui deverá chegar bem perto dos 4,20 m do EcoSport – pouco menor que o Duster. O acabamento será certamente superior e mais refinado e ele oferecerá uma série de possibilidades de personalização, inclusive com cor diferenciada para o teto. A motorização ainda não está definida: pode ser a tradicional dupla 1.6 (115 cv) e 2.0 (142 cv) ou se concentrar apenas no propulsor maior. Os preços devem começar em cerca de R$ 65 mil (que é o que custa hoje um Duster Tech Road 2.0) e chegar até a faixa dos R$ 75 mil – pouco menos que o valor cobrado por um EcoSport Titanium 2.0.