Filho de um dono de concessionária, o sul-africano Jody Scheckter aprendeu a dirigir muito cedo e logo se apaixonou pela velocidade. Não conhecia outra forma de guiar que não fosse com o pé direito sempre embaixo. Por conta dessa ânsia desmedida ao acelerar e de sua agressividade, quando chegou às pistas de competição, acabou se tornando um dos pilotos mais odiados por seus pares e causador de um dos maiores acidentes da história da F1, o que o levou a quase ser banido da categoria. Mas um outro acidente mudaria completamente sua personalidade de bad boy.
Scheckter despontou como um dos melhores pilotos do mundo, apesar de ser sempre lembrado pela imprensa internacional como um competidor de personalidade forte e dotado de um destempero que necessitava de supervisão. Mas era veloz, tinha controle sobre o carro e alcançava resultados. Assim, ganhou sua oportunidade na F1 e uma vaga como terceiro piloto da McLaren para a temporada de 1973. Em sua primeira corrida do ano, liderou praticamente toda a prova até que o campeão Emerson Fittipaldi, da Lotus, tentou ultrapassá-lo e os dois colidiram. “Este louco é uma ameaça para si e para os outros. Ele não pertence à F1”, disse o brasileiro após a batida. E ele estava certo, o que se comprovaria no próximo GP, na Inglaterra.

Após escorregar em uma curva, o piloto bateu a McLaren no muro e rodou descontroladamente pela pista levantando uma nuvem de poeira e destroços após várias colisões. Onze carros foram destruídos e Jody Scheckter era oficialmente o causador do maior acidente da F1 na época. A condução perigosa imposta pelo piloto fez com que seus colegas pedissem a cassação de sua superlicença, mas, para acalmar os ânimos, a McLaren apressou-se em dar-lhe férias forçadas. Ele voltaria apenas no final da temporada daquele ano, envolvendo-se em um acidente com François Cévert, da Tyrrell. Depois de algumas brigas por conta do acidente, a equipe Tyrrell assinou contrato com Scheckter para a temporada de 1974 na vaga de Jackie Stewart. Ele seria companheiro de equipe de Cévert, que, horas antes, estava tentando socá-lo nos boxes. Irônico. Mas era só o começo. Cévert iria mudar a vida de Scheckter por completo. Nos treinos para o GP seguinte, o francês morreu em um terrível acidente e o sul-africano foi o primeiro a chegar aos destroços. Com o choque, depois daquele dia, decidiu mudar seu comportamento. Passou de inconsequente e irresponsável para um piloto técnico e calculista. Além disso, era agora o primeiro piloto da Tyrrell.

Correu ainda pela canadense Walter Wolf Racing e, depois de anos de bons resultados (apesar de estar em uma equipe menor) e com participação ativa em todas as discussões por segurança na categoria, Scheckter chegou à Ferrari. Nessa época, já era um piloto maduro e obcecado por pontos e resultados. Com o novo monoposto T4 em mãos e ao lado do colega Gilles Villeneuve, o Urso, como era chamado, conquistou seu título da F1 no mesmo ano, em 1979. Pelos próximos 21 anos, ele seria o último campeão do mundo a bordo de uma Ferrari, até a primeira conquista de Michael Schumacher. Correu pela escuderia mais uma temporada, mas os maus resultados o fizeram abandonar a categoria aos 30 anos de idade.