Erasmo Carlos pisa fundo em seu carro para fugir dos tiros. Ele olha pelo retrovisor e vê os vilões se aproximando. São mais de “mil faróis” atrás dele. Mas o Tremendão tem a seu favor o potente motor do Volkswagen Karmann-Ghia novo em folha. Ele sente os impactos na lataria e pensa que são seu inimigos jogando mais pedras. Erasmo olha novamente no retrovisor e vê a arma na mâo do vilão. É noite de 15 de janeiro de 1967.

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Poderia ser roteiro de filme de ação com as estrelas da vez: os artistas da Jovem Guarda. Por que não? Dois anos antes, uma cena parecida com essa aconteceu em Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, o filme estrelado pelo amigo de fé, irmão, camarada de Erasmo. Mas a página do Jornal da Tarde dois dias depois, em 17 de janeiro, prova que a perseguição aconteceu. E ninguém estava filmando. E os tiros eram de verdade.

Fac-símile da edição de 17 de janeiro de 1967 com a notícia de quando "quase mataram o Erasmo"
Fac-símile da edição de 17 de janeiro de 1967 com a notícia de quando “quase mataram o Erasmo”

Ao jornal, Erasmo contou o que aconteceu com toda a malemolência de quem é ídolo aos 25 anos. Um rockstar!

“As môças acham que êle é o bom”
O sururu começou em Sorocaba. Erasmo estava na cidade com sua banda para um show no Clube Recreativo Sorocabense. Anos 1960, né? Jovem, ídolo, famoso, bonito, rico, roqueiro e de carro novo: um Karmann-Ghia vermelho. Receita da desgraça. Todas as meninas da cidade suspirando pelo “gigante gentil”. Já os rapazes…

Durante o show, uma troca de provocações entre o ídolo e algumas pessoas na plateia. “Lá em Sorocaba, logo depois que alguém gritou que eu era bobo, cantei Lobo Mau. Eles devem ter ficado com mais raiva ainda. Nessas horas, as meninas dão força pra gente, gritam muito, e os rapazes então ficam enciumados. Ainda mais que depois eu sempre canto uma música dizendo que eu sou bom, tenho muitas garotas, as meninas correm atrás de mim, tenho carro, essas ondas…”

Depois do show, a troca de xingamentos virou desinteligência, e chegou às vias de fato. A briga foi logo apartada pela polícia e o Tremendão embarcou em seu possante e partiu de volta para a capital paulista. “Olho pra trás e vejo mil luzes, mil faróis. A batota toda estava ali para me apanhar, já tinham dado pedrada para valer no meu carro, novinho. Depois que os guardas fecharam a estrada, fiquei mais sossegado”, disse à epoca.

A estrada em questão era a Rodovia Raposo Tavares. Erasmo estava voltando para a capital paulista. De repente, ele vê uma picape no retrovisor e sente as pancadas no carro. Aperta os olhos para enxergar melhor e vê a arma na mão de um dos rapazes com quem acabara de brigar. Ao todo foram seis tiros que atingiram o Volkswagen Karmann-Ghia vermelho ano 1967 de Erasmo. Afundou ainda mais o pé no acelerador e conseguiu fugir.

Ao chegar em São Paulo, foi direto para a delegacia registrar a ocorrência e prestar depoimento sobre o que tinha acontecido.

Fac-símile da edição de abril de 1969 do Jorna da Tarde com a notícia da absolvição de Erasmo Carlos
Fac-símile da edição de abril de 1969 do Jorna da Tarde com a notícia da absolvição de Erasmo Carlos

Teria ficado por isso mesmo, mas Paulo Walter Leme dos Santos, o rapaz da caminhonete moveu uma ação de agressão contra o Tremendão. Dois anos depois, Erasmo foi absolvido no Fórum de Sorocaba.