A senhora que supervisiona o acesso à maior estrada de gelo da Estônia trabalha em um trailer hermeticamente fechado, que mais parece um veículo saído do período jurássico. Ela nos recebe com a sobriedade típica dos funcionários da antiga União Soviética e olha com desconfiança a placa alemã de nosso Opel Ampera. Sem dizer uma palavra, nos aponta uma placa. São instruções para turistas de como se comportar nas estradas de gelo formadas sobre o mar e os lagos durante o inverno. Em primeiro lugar, devemos ficar a pelo menos 250 metros do carro da frente. Não devemos parar por qualquer motivo. E, nalmente, temos de manter uma velocidade entre 40 e 70 km/h, porque quanto mais se acelera, maior é a ressonância que se cria e maior é o risco de quebrar o gelo.

A coisa estava ficando séria. Assim que ameaçamos partir no silêncio mortal de nosso carro elétrico, a senhora nos para mais uma vez e nos dá um útlimo aviso: devemos desatar o cinto de segurança. Se o gelo se romper e o carro cair na água, é melhor estar preparado para sair o mais rápido possível e subir à superfície antes do congelamento. Acenamos com a mão, demos um sorrisinho, mas achamos aquela possibilidade bastante desagradável. Olhamos à frente e vimos a estrada de mais de dez quilômetros que liga a terra firme à ilha de Vormsi. Ao nosso lado, um barco quebra-gelo que avança sobre o mar. Nosso medo era meio infundado, já que os acidentes aqui são raríssimos.

Mas não viemos para nos aterrorizar com uma zeladora nem nos maravilhar dirigindo na estrada branca que cruza o mar. Nossa intenção era experimentar a primeira rede pública de recarga para carros elétricos do mundo. A república báltica, com o objetivo de difundir o máximo possível os veículos com baixo impacto ambiental, criou uma rede nacional de distribuição e, ao mesmo tempo, lançou um programa de incentivo sem precedentes: uma ajuda estatal de 50% na compra de carros elétricos – com teto de € 18 mil.

Por enquanto, os carros que usufruem do desconto são o Mitsubishi i-Miev, o Citroën C-Zero, o Nissan Leaf, o Peugeot iOn, o Toyota Prius Plug-in e o “nosso” Ampera. Tecnicamente, o Opel – versão europeia do Chevrolet Volt – não é um elétrico puro, já que suas baterias são carregadas também por um motor a combustão. Mas como esse motor não tem ligação com as rodas e não atua movendo o carro mesmo que as baterias estejam vazias, o modelo pode receber o incentivo.

A rede conta com 165 pontos de recarga com distância máxima de 60 quilômetros entre eles. O custo de cada recarga vai de € 2,5 a € 5, mas há ainda uma taxa fixa de € 30 mensais. A intenção de Toomas Ilves, presidente da Estônia, é tirar a Noruega do posto de país mais eletrificado do mundo e colocar a Estônia na vanguarda tecnológica europeia (aqui, aliás, o wi-fi público e gratuito já é uma realidade). Sua iniciativa mostra que, com decisão e foco, o transporte com energias alternativas pode ser viável. Basta que o governo decida dar seu apoio, com infraestrutura e incentivos.