A Nissan acaba de lançar um “novo” SUV que, na realidade, nada mais é que o velho, bom e conhecido Kicks Play, totalmente reformulado em seu design. Agora se chama Kait. Esse é um recurso conhecido da indústria automobilística mundial: para não perder uma boa e confiável mecânica, os fabricantes dão cara nova ao carro que já tem em sua rede de concessionárias. Economiza-se estoque de peças e treinamento de mecânicos, por exemplo.

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Kait não é o primeiro

E sempre deu certo: um projeto “requentado” acaba gerando um produto já maduro, com selo de confiança do consumidor e, principalmente, com preços mais interessantes que os de um projeto totalmente novo. Vide o Kait, que conseguiu manter os R$ 117.990 iniciais do Kicks Play, mesmo trazendo vários equipamentos inéditos. Já o Novo Kicks, esse sim fruto de um projeto totalmente novo, chegou bem mais caro, na faixa dos R$ 170 mil iniciais. 

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Mas, claro, há desvantagens nesse recurso. No caso do Kait, o principal deles é o uso de uma motorização não tão moderna quanto a dos principais concorrentes. Apesar de confiável e econômico, seu 1.6 16v dispensa superalimentação, que melhora a performance em menores rotações, bem como a injeção direta de combustível, que poderia deixá-lo ainda mais inimigo dos postos de combustíveis. 

Nissan Kait 2026 – Foto: divulgação

Outros (vários) exemplos

Esse processo de “requentar” carros já existe por aqui desde o início de nossa indústria automobilística, nos anos 60. A Willys, em 1962, lançou o Renault Gordini, que na realidade era uma versão revisada do antigo Dauphine, e obteve muito sucesso. Outro bom exemplo é o do Ford Corcel, que estreou em 1968 e foi mantido com modificações pontuais por cerca de dez anos, até a linha 1978, quando foi redesenhado e passou a ser o Corcel II. Visto de frente e de traseira, era outro carro, mas ainda derivava diretamente daquele primeiro modelo, dos anos 60. 

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E o que dizer do Chevrolet Opala? Nasceu também no final dos anos 60 e, com muitas e muitas modificações, se manteve em linha até 1992. Sua grande renovação visual aconteceu em 1980. Na ocasião, assim como o Kait, parecia um carro totalmente inédito visto de frente e de traseira, mas seu “miolo” (portas, janelas, linha de cintura, ângulo de colunas, balanços dianteiro/traseiro, entre-eixos) mostravam que, na verdade, a base nunca mudou. O Chevette passou por um processo similar ao longo de sua vida, também.

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Ford Ka é bom exemplo

E a história veio se repetindo assim, ao longo de décadas. Em 1997, quando o Ford Ka surgiu no mundo, seu design era inovador e chocou muita gente na época. Mas em 2008, o design inovador já estava e, por isso, a Ford reformulou sua carroceria mantendo a sua mecânica e plataforma, mas trazendo um frescor visual. Parecem ser dois carros distintos, mas basta olhar de lado: as portas de um Ka 1997 servem num modelo 2010 ou 2012 sem muito esforço. Ainda focando nos hatches, o Fiat Palio de primeira geração seguiu em linha até 2016 com outra cara.

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Receita boa, reaproveitada

Por isso, o tiro da Nissan pode ser certeiro: o antigo Kicks de primeira geração, que vinha sendo chamado de “Kicks Play” por conta da estreia da nova geração, já gozava de boa reputação junto ao consumidor brasileiro, que tinha o SUV como uma opção espaçosa, confiável, econômica e fácil de manter. E essa boa reputação, claro, segue com a chegada do Kait, basicamente o mesmo carro. Frente a todos esses casos, o do Nissan só tem uma diferença crucial: a mudança de nome. Até porque lançar um “Novo Velho Kicks” não cairia nada bem…

Nissan Kait 2027 – Foto: divulgação