O Nissan Livina é um monovolume, mas poderia ser chamado de perua. Já o Honda Fit, também um monovolume, pode parecer um hatch. A verdade é que para o consumidor pouco importam tais classificações. Os dois são rivais por terem características semelhantes – e brigarem pelo mesmo cliente. Nosso mercado tem preferido o Fit: suas vendas representam cerca de três vezes as do rival, apesar de o Nissan, como veremos, oferecer mais por menos. Isso porque o brasileiro adotou a Honda como referência em qualidade, mas (ainda) não enxerga a mesma qualidade na também japonesa Nissan.

Primeiro, é bom explicar o porquê das versões escolhidas. Básicos, o Livina parte dos R$ 46.790, com motor 1.6 e câmbio manual (da parceira Renault), enquanto os preços do Fit começam em R$ 54.905 – com motor 1.4 e transmissão também manual. Mas, como falamos de carros frequentemente escolhidos para uso urbano e/ou familiar, por que não aposentar a embreagem?

Por isso, decidimos comparar as versões automáticas, que custam a partir de R$ 52.690 (Livina S, novidade da linha 2010) ou R$ 58.905 (Fit LX). Na versão top SL das fotos, o Livina custa R$ 57.390 – ainda assim, mais barato que o Fit das fotos, LXL automático, que ganha, em relação ao LX, só os freios ABS. Há outras opções do Fit, com motor 1.5 e câmbio automático, que começam em altos R$ 65.720. Mas vamos nos ater aos mais próximos em preço: Livina SL e Fit LX – sabendo que por uns R$ 5 mil a menos você leva o Livina S e, por uns R$ 3 mil a mais, o Fit LXL, com ABS. Como escolhemos os automáticos, cam de fora os automatizados (consideravelmente inferiores em dirigibilidade) Novo SpaceFox, (novo) Idea e Meriva.

No Nissan, bancos, volante e laterais de porta são revestidos em couro, o ambiente é refinado e há mais espaço para as pernas de quem viaja no banco de trás. Seu porta-malas também é maior

Fit e Livina, na verdade, pouco têm em comum além da carroceria monovolume e dos bons sistemas de direção elétrica. Ao entrar no carro, já se notam as diferenças. No Livina SL, bancos, volante e portas são cobertos em couro, lugares em que o Fit 1.4 tem tecido. Mas o Honda permite ajustar profundidade do volante e altura do banco do motorista, o Nissan não. Ou seja, no Fit a posição de dirigir é melhor, mas no Livina o ambiente é mais refinado. Em relação aos demais equipamentos, o Fit LX oferece computador de bordo e banco traseiro reclinável e o Livina SL responde com faróis de neblina e freios ABS com EBD. Lembre-se que estamos comparando os equivalente em preço – para detalhes, leia a tabela de equipamentos que mostra o que é oferecido em cada uma das versões.

Carros para uso familiar precisam ter um interior amplo. Apesar dos 28 cm a mais do Livina no comprimento, a sensação de espaço, para o motorista, é maior no Fit – que tem o para-brisas mais distante. Já os 10 cm a mais que o Nissan tem no entre-eixos se reflete-se em uma pequena vantagem no espaço do banco traseiro. O Livina se dá melhor mesmo no porta-malas, maior que o do rival. Mas aqui cabe uma ressalva: apesar de o Fit ter menos espaço, ele tem o interior mais versátil. Debaixo do banco traseiro, há um espaço livre – e este banco ainda pode ser levantado, liberando mais espaço vertical que no rival, ou rebatido, deixando a área do porta-malas plana (no Livina, os bancos rebatidos formam um degrau).

No Honda, o para-brisa mais à frente dá uma sensação maior de amplitude, apesar do menor entre-eixos. Outra grande vantagem do Fit são os bancos: além de o motorista poder rebatê-los, o encosto ainda pode ser levantado

Mas basta acelerar para o Livina mostrar onde está sua maior superioridade. O motor 1.4 16V do Fit, mesmo acoplado a uma boa transmissão de cinco marchas, tem di culdade para empurrar sua carroceria de 1.113 kg. São apenas 101 cv e 13 kgfm de torque, contra 126 cv e 17,5 kgfm do 1.8 16V do Livina, que, mesmo ligado a um câmbio de quatro marchas (também sem opção sequencial, mas com um botão que desliga o overdrive, possibilitando reduzidas), mostra mais vigor em acelerações e ultrapassagens. E ambos têm um problema em comum: o alto ruído do motor quando se esticam as marchas (embora silenciosos em uma condução tranquila). Claro que andar mais, como ocorre quase sempre, representa gastar mais combustível. O consumo do Honda, portanto, é mais baixo, principalmente na cidade, graças ao sistema de comando variável i-VTEC que faz o motor funcionar com apenas 12 válvulas em baixas rotações e com 16 quando se aumenta o giro. Para quem usa o carro mais em estradas, o consumo dos dois é mais próximo, mas ainda com vantagem do Fit.

Finalmente, dentro de uma proposta familiar, as suspensões do Livina agradam mais. Nos dois carros são construtivamente iguais (McPherson na dianteira, barra de torção traseira), mas as do Nissan, embora deixem o carro sofrer mais inclinação em curvas, têm um ajuste mais confortável, enquanto as do Fit, mais rígidas, garantem uma tocada esportiva, mas incomodam um pouco os passageiros em pistas ruins.

No final das contas, o Fit tem melhor posição ao volante, mais versatilidade no interior e consumo menor, enquanto o Livina vem mais equipado, é mais espaçoso e tem desempenho bastante superior. E, se as duas marcas oferecem três anos de garantia total, a Honda leva vantagem na rede, maior que a da Nissan. Mas será o suficiente para justificar o maior preço por menos conteúdo? A decisão é só sua.