Nesses quase dez anos no jornalismo automotivo, vi diversas transformações no mercado. Boa parte delas foi positivas: os carros ficaram mais conectados e seguros, mais econômicos e equipados, mais rápidos e sofisticados. Outras, porém, me decepcionaram. A decadência das peruas é uma delas. Principalmente aqui no Brasil, aparecem em número cada vez menor, na oferta dos fabricantes e nas ruas. Sofreram um massacre. E os grandes culpados por isso são os crossovers – nos tempos atuais, substitutos de SUVs e, principalmente, das peruas.

O processo que levou a isso foi claro. De modo simplificado, em busca de maior conforto e menor consumo, os antigos SUVs trocaram a tradicional construção de carroceria sobre chassi por monoblocos (tudo integrado). Emprestaram plataformas de sedãs, perderam a tração 4×4, foram ficando mais urbanos. Assim nasceram os crossovers: Honda CR-V, Toyota RAV4, Hyundai ix35, Ford EcoSport, Renault Duster, Dodge Journey, BMW X1, Mercedes-Benz GLA… para citar só alguns exemplos – além de alguns que estão para chegar em breve, como Honda HR-V e Peugeot 2008. Esses modelos e seus similares, em parte ainda chamados de SUVs, passaram a conquistar os consumidores – e, junto com os SUVs legítimos e alguns poucos outros crossovers (ou versões desses citados) realmente capazes no off-road, passaram a detonar as vendas das peruas . Espaçosos e versáteis como as peruas tradicionais e quase tão confortáveis e estáveis quanto elas – que fique bem claro aqui o “quase” – os crossovers ainda oferecem o bônus do visual aventureiro, jovem. Assim, massacraram de vez as pobres peruas.

O mercado, as equipes de marketing e, acima de tudo, o próprio consumidor, foram os grandes responsáveis por essa transformação dos hábitos de consumo – que ocorre em escala maior em mercados como o nosso, menor em outros, mas que hoje parece um caminho sem volta. Minha conclusão é que as peruas foram bastante injustiçadas. Afinal de contas, são, sem dúvida, muito mais econômicas, estáveis e confortáveis  que os crossovers de mesmo porte – e, além de tudo, ainda são mais baratas. Mas, infelizmente, ninguém mais quer saber delas (além de mim e alguns outros poucos saudosistas). Pobres peruas.