Infelizmente, foi preciso uma tragédia em Méribel, nos Alpes Franceses, para que o mundo entendesse o que levou Michael Schumacher a disputar mais três temporadas da Fórmula 1 (2010 a 2012) como um diletante, somente para “estragar seu currículo”. Ele simplesmente não conseguia viver sem adrenalina – daí sua perambulação por corridas de moto e saltos de paraquedas durante os três anos em que ficou aposentado (2007 a 2009). Por isso, vamos rever certas “verdades” sobre a carreira de Michael na F1 – uma delas, fortíssima na parcela ufanista do Brasil, de que  seus sete títulos mundiais “só foram conquistados porque ele não tinha adversários”. Não mesmo? Vejamos.

Embora o alemão não estivesse nem aí para o pequeno estrago que os 58 GPs pós-aposentadoria fizessem em seu currículo, qualquer análise séria sobre a trajetória de Schumacher no mundo do grand prix deve considerar somente as 250 corridas que ele disputou de 1991 (GP da Bélgica) a 2006 (GP do Brasil). Nesse período, Michael conquistou 91 vitórias (36%), 68 poles, 77 melhores voltas, 155 pódios, sete títulos (1994/95 e 2000/01/02/03/04) e dois vice-campeonatos (1998 e 2006). Foram 24.148 quilômetros e 5.111 voltas na liderança. Ele aposentou-se no auge, como vice-campeão, apenas 13 pontos atrás de Fernando Alonso, mas com o mesmo número de vitórias (7) que o campeão da temporada.

Até o _ nal de 2006, Schumacher derrotou Alonso em 53 corridas e só chegou atrás do espanhol em 32 oportunidades. É verdade que nos primeiros desses 85 confrontos Fernando ainda era um novato contra o campeoníssimo Michael. Mas, em contrapartida, o alemão também era só um jovem recém-chegado à Fórmula 1 quando derrotou o grande Ayrton Senna em 14 das 35 corridas que disputaram, perdendo 20 (em uma, nenhum deles pontuou). Aliás, foi por ter perdido as duas primeiras corridas de 1994, na Williams, que Ayrton teria sugerido a modificação na barra de direção de seu carro, levando-o ao acidente fatal no terceiro GP da temporada, em Ímola. Portanto, um piloto que derrotou Senna ou Alonso em 67 oportunidades não pode ser  “acusado” de não ter tido bons adversários na vida. No ano de seu quarto campeonato, Alain Prost também comeu poeira de Schumacher em duas provas (Bélgica e Portugal). Outro campeão, Nigel Mansell (1992), também perdeu na pista para Schumi – uma delas foi quando Michael ganhou seu primeiro GP, na Bélgica.

Na história da Fórmula 1, talvez só Emerson Fittipaldi tenha tido um início de carreira tão fantástico como o de Michael, em outra época. Além de Senna, mais três pilotos brasileiros sofreram nas mãos de Schumacher. Bastou uma corrida (Bélgica, 1991), pela Jordan, para que o alemão fosse contratado pela Benetton no lugar de Roberto Moreno, que fazia dupla com Nelson Piquet. Mais três GPs (Itália, Portugal e Espanha) e Michael já mostrava ser mais rápido do que Nelson, levando a Benetton a “aposentar” o brasileiro. Nos anos 2000 houve a questão do boicote da Ferrari contra Rubens Barrichello. Mas, se Rubinho abriu para Michael vencer na Áustria em 2002, nas temporadas seguintes recebeu dois presentes do alemão nas mesmas condições.

Os campeões Damon Hill, Mika Hakkinen, Jacques Villeneuve e Kimi Raikkönen também tiveram grandes disputas com Schumacher. Em 1994, ele não pensou duas vezes para tirar Hill da pista no GP da Austrália e sair de lá como campeão (igualzinho Ayrton _ zera com Prost, em 1990).

Schumi faltou ao funeral de sua mãe para correr! Seu lema era vencer ou vencer. Mas até a FIA achou que ele foi longe demais no GP da Europa de 1997 e cassou seu vice-campeonato. Embora tenha chegado só três pontos atrás de Villeneuve, com cinco vitórias na temporada, Michael foi rebaixado para o último lugar do Mundial, atrás de pilotos como Pedro Paulo Diniz, Mika Salo e Nicola Larini.

O maior adversário de Schumacher foi Mika Hakkinen, que ficou com os títulos de 1998 e 1999, na McLaren, mas perdeu a disputa de 2000, ano do primeiro campeonato de Michael na Ferrari. Em seus anos de glória, de 1992 a 2006, Schumacher pulverizou 90% dos recordes da Fórmula 1, atropelou todos os seus adversários e conseguiu ganhar praticamente a mesma quantidade de corridas que a demolidora dupla Prost/Senna somada (92 vitórias contra 91). Por isso, só há uma razão para que algumas pessoas não considerem Michael Schumacher o maior campeão da Fórmula 1 de todos os tempos: preferência pessoal.