30/07/2025 - 9:55
A BYD disparou nesta quarta-feira (30) um comunicado afirmando que as fabricantes de automóveis instaladas no País estão “implorando“ ao governo federal que “aborte a inovação” do setor por contestarem a redução temporária dos impostos “para quem ousa oferecer carros melhores por um preço mais justo”.
Diz ainda que os consumidores brasileiros “foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso” e que a BYD entrega produtos que essas empresas “não conseguem nem sonhar em oferecer”.
O comunicado é um revide ao movimento de Volkswagen, Stellantis, General Motors e Toyota, que se uniram para barrar o pleito da BYD por redução de alíquotas de importação de veículos desmontados (CKD) ou semidesmontados (SKD) e ameaçam ir à Justiça se a Camex (Câmara de Comércio Exterior) beneficiar a montadora chinesa.
A BYD pleiteia uma redução tributária para o imposto de importação para 10% até julho de 2026, quando, segundo a empresa, suas instalações em Camaçari atinjam a fase de produção plena. Até 2028, a BYD promete 70% de conteúdo nacional.
As concorrentes consideram que ela já usufrui de incentivos fiscais que, como valeu para as demais no passado, estejam condicionados à fabricação completa dos veículos, e não somente montagem. Atualmente, o imposto de importação de veículos elétricos é de 25% e chegará a 35%, em julho de 2026.
Ao contrário da carta da BYD, que não conta com a assinatura do Vice-presidente sênior da montadora, Alexandre Baldy, o comunicado das fabricantes enviado ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia 15, é assinada por Ciro Possobom (Volkswagen), Evandro Maggio (Toyota), Emanuelle Cappellano (Stellantis) e Santiago Chamorro (General Motors).
Leia íntegra da carta da BYD:
Por que a BYD incomoda tanto?
Empresa que trouxe carros tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis é atacada por concorrentes obsoletos
Dizem que o futuro chega de repente. Mas, às vezes, o que chega de repente é o e-mail. O da vez foi uma carta enviada por quatro das maiores montadoras brasileiras ao Presidente da República, implorando para ele abortar a inovação. É isso mesmo: pedem, com todas as letras, que o governo impeça a redução temporária dos impostos para quem ousa oferecer carros melhores por um preço mais justo.
Assinada por representantes da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors, a carta tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu. O problema não é o meteoro, claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso.
Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam. Não foi por acaso que uma concorrente reduziu o valor de um modelo elétrico em mais de 100 mil reais depois da chegada da BYD. Por que antes custava tanto?
A carta fala em “concorrência desleal”. Porque nada é mais desleal do que alguém jogar o jogo — e ganhar. Nada mais injusto do que montar um carro no Brasil sob o regime autorizado pelo governo, com data marcada para nacionalizar a produção, e ainda assim entregar um produto que as “locais” não conseguem nem sonhar em oferecer.
A reação da Anfavea e seus associados, infelizmente, não é novidade. Trata-se do velho roteiro de sempre: diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como conhecemos. É uma espécie de chantagem emocional com verniz corporativo, repetida há décadas pelos barões da indústria para proteger um modelo de negócio que deixou o consumidor brasileiro como último da fila da modernidade.
A ironia é que enquanto as cartas se empilham em Brasília, os consumidores já tomaram sua decisão. Basta olhar os comentários nas redes sociais da própria Anfavea: “Lutar por carro mais barato vocês não lutam, agora querem nosso apoio pra que?”. Ou ainda: “Sempre vou dizer o seguinte: se a Anfavea está tão incomodada, é porque o outro lado vale a pena”. Os brasileiros querem andar para frente e não seguir em marcha a ré.
A redução temporária de imposto que a BYD pleiteia segue uma lógica simples e razoável: não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais, movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos. Isso não é nenhuma novidade, outras montadoras já adotaram a mesma prática antes de ter a produção completa local.
E a BYD está fazendo isso. Em menos de um ano e meio, já está finalizando a primeira etapa das obras da fábrica em Camaçari (BA), no mesmo local onde outra montadora, que também era tradicional, desistiu do Brasil. Apenas o galpão de montagem final já é mais do que a metade do tamanho da antiga fábrica inteira. E o contrato com o Governo da Bahia já previa essa fase inicial de montagem enquanto o restante da estrutura é finalizado. Nada foi alterado. Tudo dentro do planejamento desde o começo.
O incômodo das concorrentes não tem a ver com impostos, nem com montagem, nem com empregos. Tem a ver com a perda de protagonismo. Com o fato de que um novo player chegou oferecendo mais e cobrando menos. Com o fato de que a tecnologia finalmente deixou de ser um luxo para poucos e virou realidade para muitos.
O que a BYD propõe ao Brasil não é um atalho nem uma esperteza fiscal. É uma visão de futuro com veículos mais limpos, mais seguros, mais conectados e com custo-benefício justo. Ajudar o Brasil a acelerar essa transição é um movimento estratégico não só para a marca, mas para o país.
O Presidente deveria ouvir essas cartas — e usá-las como prova de que está no caminho certo. Porque se os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando.
BYD AUTO DO BRASIL