Quando o Toyota RAV4 nasceu, entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, as atenções de todo o mundo automotivo, e de todos os insiders, estava voltada para apenas um país: o Japão. Afinal, de lá vinham as inovações técnicas mais marcantes e os automóveis mais originais, alguns deles até criativos demais.

E o Salão de Tóquio (Tokyo Motor Show) era um evento pela qual se aguardava durante todo o ano, que não se podia perder se você quisesse ver um pouco do que, em curto período de tempo, seria o futuro do automóvel.

Depois de invadir a América do Norte, os veículos japoneses passaram a entrar na Europa e também no Brasil, com a liberação das importações.

Talvez poucos leitores mais jovens saibam que, para preservar os fabricantes “nacionais”, a importação de carros para o Brasil era proibida até o governo de Fernando Collor de Mello liberá-las, o que aconteceu apenas em 1990.

Toyota RAV4
O teste do primeiro RAV4 foi publicado na Quattroruote de fevereiro de 1995. O novo off-road japonês, além de ter sido testado a fundo na estrada, encarou terrenos acidentados

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Toyota RAV4 nasceu diferente de tudo

O Toyota RAV4 – a sigla significa Recreational Activity Vehicle 4 (veículo para atividades recreativas com tração 4×4) – chegou neste período “mágico”. Até então, tanto aqui quanto na Europa, ninguém tinha coragem de propor um veículo sobre rodas do tipo.

Os modelos off-road já estavam na moda, especialmente os do Japão, mas eram desconfortáveis, pesados ​​e difíceis de dirigir.

O novo Toyota superou tudo isso, usando uma fórmula inédita na qual ninguém havia pensado antes. Fora de estrada? Sim, mas concebido de acordo com regras completamente diferentes. Era hora de mudar, começando pelo tamanho e pelo design.

Com só 3,71 metros, o Toyota RAV4 versão duas portas tinha o comprimento de um VW up! ou um Renault Twingo atuais – bem menor que o modelo de hoje.

Era muito pequeno, mas, por outro lado, tinha 1,66 metro de altura, com grandes rodas 215/70 R16 posicionadas claramente à vista nos quatro cantos da carroceria, para dar força e personalidade às suas linhas.

Essa carroceria, por sua vez, foi nitidamente dividida em duas partes, com a cabine, única parte da mesma cor, apoiada em grandes faixas pretas, como se fosse um chapéu. O capô era grande, e a cabine, pequena e recolhida, mas muito iluminada.

Era um quatro lugares em teoria, mas foi melhor interpretado como um 2+2, também devido ao porta-malas reduzido (apesar do estepe pendurado na tampa traseira).

Um carro engraçado

Imediatamente admirado, o RAV4 inspirou simpatia e um grande desejo de fugir da vida cotidiana. O que ele podia garantir porque, sob aquela carroceria intrigante, escondia uma mecânica de primeira linha.

O motor 2.0 a gasolina com quatro cilindros assegurava uma agilidade quase de esportivo, enquanto o sistema de tração integral permanente, construído com o esquema mais requintado da época (três diferenciais sempre engatados).

Isso permitia que passasse praticamente em qualquer lugares, auxiliado também pelos ângulos de ataque e saída de um verdadeiro veículo off-road.

Na realidade, poucos aproveitaram essas qualidades: o RAV4 logo se tornou uma alternativa original aos carros urbanos da época (começava a virar “SUV de shopping”). Era um carro cobiçado pelos solteiros e adorado pelas mulheres.

No ano seguinte, estreou o RAV4 na versão quatro portas, a primeira que foi importada oficialmente ao Brasil, a partir de 1999 (e que durou só um ano, pois em 2000 já chegou sua segunda geração).

O primeiro RAV4 “para a família inteira” ficou bem maior – relativamente, pois ainda tinha pouco mais de quatro metros de comprimento, como um Honda WR-V atual – e ganhou uma cara mais séria.

Perdeu um pouco de sua “energia”, mas passou a atender às necessidades de mais clientes, abrindo um mercado bem mais amplo. Claro que foi um sucesso instantâneo.

Quatro gerações de Toyota RAV4

A comparação que você vê aqui é com a quinta geração, que chegou à Europa no início de 2019 (ao Brasil, em maio, por metade dos R$ 300 mil que custa hoje). Como você pode ver, ao longo dos anos o Toyota evoluiu radicalmente.

Abandonando a versão de duas portas na terceira geração, de 2003, ele cresceu progressivamente até atingir 4,60 metros, medida que o coloca no segmento de SUVs médio-grandes (D, na Europa).

Além disso, depois de anos de motores a gasolina e a diesel (só na Europa, por legislação; os japoneses nunca gostaram de usá-lo) mais ou menos bem-sucedidos, o Toyota RAV4 agora é oferecido só como híbrido completo, como a do comparativo feito aqui, ou no máximo, plug-in, como o que está retratado para fins fotográficos nesta reportagem.

Por outro lado, o híbrido moderno nasceu na Toyota naqueles anos dourados da tecnologia japonesa de que falamos no início, quase em paralelo com o design do primeiro RAV4.

Grande, prático e muito confortável, ele esconde a versão mais recente e avançada do sistema híbrido Toyota sob sua carroceria, o que permite marcas de consumo recorde na cidade, e mais do que boa em outras situações.

A versão plugável (entenda aqui a tecnologia em detalhes), que ainda não chegou ao Brasil, agrega a tudo isso uma mobilidade elétrica que permite percorrer cerca de 60 quilômetros sem usar o motor a combustão – ou, por outro lado, oferecer desempenho incomum quando você soma toda a potência entregue pelo motor quatro cilindros com aquela liberada pelos dois motores elétricos, resultando em um total de nada menos que 306 cv (a potência média de sedã esportivo “leve” alemão).

No fim, o Toyota RAV4 tornou-se um carro particularmente racional, a ferramenta ideal, ou quase, para ir do ponto A ao B do modo mais eficiente possível. Nada resta nele daquele projeto original, do espírito anárquico e da ideia extraordinária que deu à luz sua primeira geração.

Hoje, apenas o nome une os dois modelos. Os tempos mudam, e os carros precisam se adaptar.

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Habitabilidade e interioresToyota RAV4

Quase 90 cm mais comprido e mais de 20 cm mais largo que o modelo original, o RAV4 de hoje oferece uma cabine enorme em comparação com a de seu antecessor – que era pequeno, mas explorava sabiamente o espaço disponível.

Você viajava bem na frente, desde que não fosse muito alto, enquanto os bancos traseiros era praticamente improvisados.

Porta-malas do Toyota RAV4

Também neste caso, entre o modelo de ontem e o de hoje não há comparação. No primeiro Tpyota RAV4, ele era praticamente inexistente, e muitas vezes era preciso dobrar os encostos traseiros para se conseguir abrir o espaço necessário para acomodar malas e compras.

Peso aumentado

O tamanho e, consequentemente, o peso, cresceram. Dos 1.290 kg do primeiro Toyota RAV4, que eram distribuídos quase igualmente entre os eixos (com ligeira prevalência no dianteiro), chegamos aos atuais 1.851 kg.

Painel

1995
O layout é típico dos carros da época: instrumentação analógica (velocímetro, tacômetro, termômetro de água e nível de combustível) e claramente visível por dentro dos raios do volante, com os controles principais organizados no console central.

Na parte superior, ficavam os do ar-condicionado (opcional), e, abaixo, os três botões para ativar pisca-alerta, desembaçador do vidro traseiro e travamento do diferencial central. Mais abaixo, o compartimento para o rádio do carro.

Toyota RAV4
O lado direito do painel era equipado com um compartimento bastante prático com porta-copo. No túnel central, em frente à alavanca de câmbio curta, ficava o inevitável acendedor de cigarros

2022
Muitos controles ficam divididos entre os raios do volante, o painel e o console, sobre os quais se destaca a tela da central multimídia. Nesse caso, a instrumentação consiste em uma tela TFT configurável na qual, além da velocidade, aparecem dados de gerenciamento de energia, consumo, assistências ao motorista e mais.

Já o ar-condicionado é controlado facilmente com dois botões grandes no console.

Toyota RAV4
Ao lado da alavanca do câmbio tipo e-CVT, fica o botão do modo de condução. Ainda há o botão EV, que permite percorrer trechos curtos usando apenas eletricidade

Informação e entretenimento

Na época do primeiro Toyota RAV4, ouvir música era uma função do rádio clássico, que ficava instalado na parte apropriada do console. Os primeiros sistemas integrados chegariam apenas anos depois. Na foto acima, a tela sensível ao toque de 8”, que fica localizada na parte superior do painel do sistema multimídia do RAV4 Hybrid.

2022

A última geração do RAV4 nasceu na plataforma TNGA (Toyota New Global Architecture) e está disponível exclusivamente como híbrida.

O motor é o conhecido ciclo Atkinson de 2,5 litros a gasolina, que foi revisado em muitos aspectos para melhorar sua eficiência. Os engenheiros japoneses aumentaram o curso dos quatro cilindros e a taxa de compressão para um recorde de 14:1.

Ele é combinado a dois motores elétricos: o primeiro, de 88 kW, é dedicado a movimentar o carro, mas também a recuperar energia durante desacelerações e frenagens.Toyota RAV4

O segundo carrega a bateria (se necessário) e reinicia o motor quatro cilindros. A eficiência particularmente elevada desta solução permite ao RAV4 percorrer, na cidade, quase 19 km/l, com média cidade/estrada superior a 15.

Na versão AWD, há um terceiro motor elétrico de 40 kW, que movimenta diretamente as rodas traseiras. A bateria de níquel-hidreto metálico tem capacidade limitada (1,6 kWh) e garante mobilidade reduzida no modo elétrico.

A tração nas quatro rodas, por fim, serve essencialmente para melhorar a partida e ter uma maior tração na neve e no gelo – mas certamente não é para trilhas.

Como era o “cockpit”do Toyota RAV4
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Não há muitos pontos em comum entre o primeiro e o último dos RAV4 fabricados. 1. Velocímetro e conta-giros, grandes e bem visíveis atrás do volante, davam um toque de esportividade ao primeiro modelo. Na versão atual, os principais indicadores são dedicados ao funcionamento do sistema híbrido e à medição do consumo. 2. Rodas com 16” no ancestral e 18” no bisneto (19” na versão plug-in das fotos). 3. A chave clássica foi substituída por uma do tipo presencial. 4. Os painéis das portas tinham uma alça bastante prática, que viraram um detalhe de design na versão atual. 5. As lâmpadas halógenas deram lugar a faróis de LED altamente eficientes

O interior do modelo original era pequeno, e certamente muito menos inovador do que o exterior, embora não lhe faltasse originalidade. Para chegar ao volante, bastava abrir a porta e sentar – não era preciso se abaixar nem se levantar, e isso era novidade na época.

A posição de guiar mais esportiva, com as pernas parcialmente estendidas e um pequeno volante vertical (ajustável em altura), era também uma solução inesperada em um carro para uso todo-terreno.

A cabine era dominada pelo console, onde ficavam os controles principais. Os bancos dianteiros eram bem feitos, enquanto nos traseiros era possível acomodar dois adultos – mas entrar e sair não era uma tarefa nada fácil.

Toyota RAV4
O estepe na traseira caiu em desuso por questões de praticidade e segurança

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RAIO-X do Toyota RAV4

1995

Diferentemente dos veículos off-road da época, o Toyota RAV4 tinha carroceria monobloco, motor transversal e suspensões independentes: tratava-se de uma verdadeira revolução em uma categoria em que a estrutura de longarina e os eixos rígidos ainda pareciam ser uma necessidade absoluta.

O motor era o do Toyota Carina, com menos potência para melhorar o torque em baixas rotações. Com duplo comando e quatro válvulas por cilindro, ele produzia 129 cv, o suficiente para um desempenho respeitável.

O movimento era transmitido às rodas por meio de um refinado sistema com três diferenciais, sendo o dianteiro e o central colocados em um único bloco sob o motor, a partir do qual partia o cardã que levava o torque às rodas traseiras. Para melhorar a tração, havia um sistema de travamento manual do diferencial central.

SEPARAÇÃO Na traseira, a mola helicoidal e o amortecedor não são coaxiais
ORIGINALIDADE Na época, em um carro fora de estrada, ter motor transversal não era uma característica comum

Não só no asfalto

Opcionalmente, o primeiro Toyota RAV4 podia vir equipado com um diferencial traseiro do tipo Torsen, que pode fazer o travamento progressivo das rodas em até 100%.

A suspensão dianteira era MacPherson, enquanto atrás havia um novo padrão de multilink (braços múltiplos: dois transversais, com uma biela oblíqua e um suporte longitudinal) projetado para garantir excelente estabilidade na estrada.

Por outro lado, os braços muito longos proporcionavam uma ampla movimentação vertical das rodas, permitindo boa aderência mesmo nos terrenos irregulares.

Os balanços reduzidos garantiam ângulos de ataque (37°) e saída (42°) de um verdadeiro carro off-road. O ângulo central, por sua vez, era de 30°, com uma altura mínima do solo de 20,5 cm.

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