O capacete é o rosto do piloto quando ele está correndo.” É assim que Sid Mosca define a importância da pintura deste equipamento de segurança.

O artista foi o pioneiro na personalização de capacetes e tem uma clientela invejável que inclui nomes famosos como Ayrton Senna, Rubens Barrichello, Ingo Hoffman, Emerson Fittipaldi, Felipe Massa e até a FIA, que em 1999 encomendou 50 capacetes para comemorar os 50 anos do mundial de F-1.

Seu contato com as cores começou por influência de um primo, que tinha uma oficina de funilaria e pintura. Muito interessado no assunto, Sid aprendeu a profissão e anos mais tarde montou sua própria oficina.

Mas o gosto pelo automobilismo o aproximou das pistas.

Na década de 70, Sid começou a competir na categoria Divisão 1, a mesma em que corria o então novato Ingo Hoffman. Não demorou muito para se destacar, não pela performance – apesar de julgála muito boa dentro de suas possibilidades -, mas sim pela aparência externa de seu carro.

À esquerda, o capacete encomendado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para a comemoração dos 50 anos do Mundial de Fórmula 1. Dentro de sua oficina, Sid coleciona autógrafos de alguns de seus mais ilustres clientes, como Rubens Barrichello (abaixo) e Ayrton Senna à direita, que teve seus capacetes pintados por Sid durante toda a carreira

Ingo Hoffman foi o primeiro a encomendar uma pintura para seu capacete e para o Fusca com o qual competia na época. O capacete de Ingo fez tanto sucesso que outros pilotos começaram a procurar os serviços de Sid.

Mais tarde, quando já tinha investido na carreira, Wilson Fittipaldi o procurou para desenvolver uma nova pintura para o Copersucar.

“A cor prata fazia o carro sumir na pista, por isso resolvi pintálo de amarelo. Os irmãos Fittipaldi adoraram”, relembra. Depois de dar uma nova cara ao carro, Emerson se interessou em mandar o capacete para Sid pintar.

Naquela época, ele já tinha o desenho elaborado.O fundo era azul, mas as faixas laranja eram fitas adesivas. “Ele tinha muito carinho pelo desenho original, e não quis mexer no tom de laranja. Mas insisti para desenvolver um fundo mais moderno”, conta. Sid pôde ver a satisfação do piloto quando o encontrou no GP Brasil de F-1. “Ele estava cercado por jornalistas e fãs,e fez questão de vir me cumprimentar. Disse que só não me beijaria porque eu era homem. A partir daquele momento, minha carreira deu uma guinada, e até hoje faço as pinturas para o Emerson, mas agora ele me dá total liberdade”, diz o artista.

Para Sid, cada trabalho tem uma história, e uma das que mais marcaram sua vida foi pintar a Lotus de Michael Andretti em apenas 24 horas.

Depois de o carro ter pego fogo em um treino aqui no Brasil, a equipe procurou alguém que conseguisse pintá-lo em um prazo muito curto. “Mobilizei minha equipe, que na época contava com cinco profissionais, e passamos a noite trabalhando. No dia seguinte, ninguém acreditava que tínhamos conseguido”, recorda. O feito lhe rendeu até um certificado de grande apreciação assinado pelo projetista Colin Chapman. Depois desta experiência, Sid ficou bastante conhecido na F-1, e acabou pintando bólidos como Brabhams e Jordan.

“Você não imagina a emoção que dá ver alguém ganhando um título mundial com uma criação sua na cabeça. Eu adoro o que faço”

Mesmo assim continuou atendendo, com o mesmo profissionalismo, pequenos pedidos de garotos que começavam a correr de kart e queriam formar sua identidade visual. Um deles foi o tricampeão mundial Ayrton Senna.

O capacete de Ayrton foi desenvolvido para ele competir no mundial de kart com mais três brasileiros. O regulamento exigia que o capacete dos pilotos fosse das cores do país de origem. Por isso, Sid fez quatro capacetes iguais para os representantes brasileiros. Mas Senna foi o único que adotou o layout por toda a carreira.

“Você não imagina a emoção que dá ver alguém ganhando um título mundial com uma criação sua na cabeça”, revela o veterano. Sid ainda participa ativamente de todos os projetos da oficina, mas quem põe a mão na massa é seu filho, Alan Mosca. Em sua oficina, estão expostos a Sauber, o Fórmula Renault e o Formula 3000 de Felipe Massa e a Jordan de Rubens Barrichello, sem falar nos diversos capacetes que completam a decoração.

Sobre o segredo do sucesso, Sid dá a dica “O importante é fazer o que a gente gosta, e eu adoro o que faço.”

A pintura personalizada deste calhambeque foi um dos últimos trabalhos do estúdio; Sid com os capacetes de Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet (na prateleira superior) e os de Luciano Burti e Rubens Barrichello (na vertical); sua coleção de carros que decora a oficina