Quando lembro meu primeiro título mundial pela McLaren, em 1974, parece que foi ontem: as cenas, os sons, os gostos… Mas a grande surpresa é que isso foi há mais de 40 anos. Para um piloto de Fórmula 1 – ou qualquer um com sucesso internacional nos esportes – a longa e complexa jornada da vida é memorável e maravilhosa. Acredito que fui colocado na Terra para dirigir carros de competição. Esse é o talento que Deus me deu, e sinto que meu dever e prazer é trabalhar o melhor que posso para alimentar este talento. Trabalhei duro.

Durante esse longo trabalho aprendi a importância da disciplina, da determinação e da dedicação. Essas lições de vida vão ficar comigo para sempre. E o resultado desse trabalho – combinado com o talento que Deus me deu e um pouco de sorte – foi uma vida maravilhosa. Por um lado, consegui feitos incríveis nas pistas, como ganhar duas vezes o GP do Brasil no meu querido circuito de Interlagos, em frente da minha própria gente. Ou vencer o GP da Itália, em Monza, batendo as Ferrari em sua terra natal.

Ou ainda ganhar o GP da Inglaterra duas vezes, alegrando as equipes inglesas das quais eu fazia parte (Lotus em 1972 e McLaren em 1975). Ou mesmo vencer a Indianapolis 500 duas vezes. E tudo isso valorizando as experiências fora da pista, oferecidas por ser um esportista internacional. Vi o mundo, viajei por todos os lugares, mergulhei em grande variedade de culturas. Conheci jogadores de futebol e estrelas de cinema, presidentes e pop stars. Aprendi com todos eles, amei cada minuto e agradeço a Deus por isso todos os dias.

Competi em tempos dos mais perigosos e vivi para contar a história. Outros tiveram menos sorte e que Deus abençoe todos eles. Tive uma pancada gigantesca – batendo no muro a 370 km/h na Indy em Michigan, em julho de 1996 – mas, apesar de quebrar minhas costas e de ter um colapso pulmonar, consegui lutar pela volta da saúde. Exatamente um ano depois, em setembro de 1997, estava voando com um ultraleve perto de São Paulo com meu filho Luca, que tinha apenas 6 anos. A uma altura de menos de 100 metros, o motor parou e descemos como uma pedra. Se tivesse caído em solo duro, estaríamos mortos, não tenho dúvida.

Mas aterrisamos em um pântano. Quebrei minhas costas novamente, mas Luca não teve um arranhão. Um milagre. No hospital, recuperando de meus ferimentos – mais complexos por quebrar minhas costas pela segunda vez em tão pouco tempo –, meu médico disse para eu não me preocupar com o longo prazo. Para enfrentar cada dia do jeito que ele vier. Ele também falou que “ontem é história e amanhã é um mistério, mas hoje é uma dádiva, porque se chama presente”. Bela filosofia de vida que repito com muita frequência, vivendo essas palavras.