Qual amante brasileiro da velocidade não conhece o Velocitta? Localizada em Mogi Guaçu, no interior paulista, a pista promove, entre outras corridas, a principal categoria do automobilismo brasileiro, a Stock Car, além de track days e eventos corporativos.

O traçado de competição tem 3.493m, 12 curvas, 17 postos de sinalização e grid com 32 colchetes de largada. São oito boxes para quatro carros cada (equipados com portões automáticos) e torre de direção de prova.

E talvez não tenha ninguém que conheça melhor o circuito como Guiga Spinelli. Apesar de administrar a pista de asfalto, o piloto de 51 anos tem uma história na “terra”, sendo cinco vezes campeão do Rally dos Sertões.

Velocitta – Crédito: Divulgação

As origens

As raízes do rali para Guiga vieram de seu avô e também de um tio, que chegou a ser navegador.

“Como meu pai sempre brincou. Ele chegou a pagar duas faculdades. Uma que não serviu pra nada, que foi a de desenho industrial que fiz na PUC do Rio e a segunda foi concertando carros que eu estragava, que acabou virando minha profissão.”

Guiga Spinelli – Crédito: Divulgação

Guiga afirma que não foi algo planejado e que o rali brasileiro entre o final da década de 1970 e 1980 era forte e que talvez tenha vivido o seu melhor momento. Na época, havia campeonatos em São Paulo, no Rio de Janeiro e brasileiro, com muitas equipes oficiais, da Fiat, Volkswagen e GM. As competições ocorriam com Gol, Fiat 147 e Chevette, por exemplo.

Ao completar 18 anos, em 1990, ele tirou a carteira de motorista e a de piloto.

“Dias depois já tinha uma corrida de rali em Nova Friburgo, que é a cidade natal da minha família.”

Guiga fez uns ajustes mínimos no carro, que o regulamento de segurança exigia, colocou uma gaiola e foi pra pista. Correu o rali de regularidade com sua namorada no sábado e com o seu mecânico no domingo. Seu primeiro carro foi um Puma conversível, presente de seu pai.

“Eu, mal intensionado, queria correr de rali. Mas correr de Puma era complicado. Então vendi e comprei um Escort XR3. Meu pai ficou muito decepcionado.”

Mas logo depois ele adquiriu um Gol de corrida, que foi da equipe oficial da Volkswagen em 1985. Em 1991, fez o seu primeiro campeonato carioca e brasileiro. No entanto, ao longo do tempo, ele viu que era difícil pagar as contas e resolveu parar.

Até que… Mitsubishi

Até que em 1996 a Mitsubishi criou um programa com o carro na época em que eles tinham à venda, o Colt. E Guiga começou a assessorar um piloto que estava migrando da pista para o rali. Então, começou o seu vínculo com a marca japonesa.

“Na estreia ele tomou um susto logo no primeiro dia e caiu em uma ribanceira. Ficou pendurado e falou que não era para ele e disse: o carro é seu, me paga quando puder.”

Foi quando ele voltou a correr com o apoio de uma concessionária da Mitsubishi no Rio de Janeiro e acabou ganhando o campeonato brasileiro, de Colt.

Guiga chamou atenção e em 1999 a marca o levou com outro piloto para correr o Rally dos Sertões. Ano seguinte, o Guiga foi convidado a gerenciar a equipe, onde ficou por 16 anos até a Mitsubishi desmanchar o departamento.

Ao longo do tempo ele conquistou os campeonatos do Sertões, com L200, Lancer e ASX.

Guiga chegou a participar do Rally Dakar, a partir de 2009, na América do Sul. Ele pilotou Pajero, Lancer e ASX pela equipe brasileira da marca.

Velocitta – Crédito: Divulgação

Velocitta

A história do Velocitta se conecta com os caminhos do piloto em 2000. A Mitsubishi desenvolvia um chassi tubular pioneiro no Brasil, mas não tinha lugar adequado para teste.

“Um lugar que simulasse ao máximo o que ele enfrentaria nos ralis. Nessa, a gente testava os carros de rali numa pista da Pirelli, que era em Valinhos (SP), uma pista de terra, logicamente, só que um piso muito bom. E em Piracicaba (SP), num autódromo de terra que tinha lá. Só que faltava uma condição mais severa.”

Foi então que a equipe buscou por uma fazenda para arrendar em um raio de mais ou menos uns 100 km de São Paulo. Durante a busca apareceu uma fazenda que hoje se chama Fazenda Velocitta, em Mogi Iguaçu.

“Ela estava fora desse raio de 100 km, mas apareceu com uma condição de venda muito boa. Então, a Mitsubishi comprou para testar.”

A marca também começou a utilizar o local para testes de durabilidade dos carros de produção.

“Só que aí, na hora de fazer o teste no asfalto, os carros saiam da fazenda. Mas assim os carros ficavam vulneráveis e poderiam ser descobertos.”

A Mitsubishi decidiu asfaltar um pedacinho da fazenda para realizar esses testes de rua. Depois, Eduardo Souza Ramos, dono da HPE Automotores, representante oficial da Mitsubishi no país, em vez de fazer um trecho, decidiu desenvolver um circuito. Mas ele buscou fazer com critérios homologados. Ela começou com 1,5 km e foi crescendo.

“Ela nasceu muito de uma paixão do Eduardo para uso junto à Mitsubishi, mas sem intenção de ter corridas, sem intenção de abrir para o público.”

Velocitta – Crédito: Divulgação

Guiga conta que fazia testes em curvas e dava palpite. Até Gil de Ferran, que era amigo do Eduardo chegou a ajudar.

Mas foi apenas em 2012 que o autódromo teve sua primeira corrida oficial com a Porsche Cup, já como circuito homologado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para até Fórmula 3.

Depois disso, foi criada uma divisão de competição em Mogi Guaçu.

“Eu estava sempre próximo do autódromo, mesmo sem ser o responsável pela gestão. Sempre palpitando.”

A Stock Car foi realizada lá pela primeira vez em 2017. No mesmo ano Guiga saiu da Mitsubishi e montou a sua própria empresa, a Spinelli Racing, fora do Velocitta.

“O Eduardo falou: Guiga, agora você tem a sua empresa em Mogi Guaçu e você conhece melhor o automobilismo do que qualquer pessoa que está aí na gestão do autódromo. Traz sua empresa para dentro, assume a gestão e tenta criar algumas coisas.”

Em 2018, o piloto assumiu a gestão do Velocitta, colocou em prática ideias fora do automobilismo e foi para o mundo corporativo criar experiências.

“O diferencial do Velocitta é que ele está dentro de uma fazenda, tem pista off-road, tem lago… Fomos criando conexões do automobilismo e outras atividades.”

O Velocitta

Atualmente, o Velocitta tem as seguintes competições recorrentes: Stock Car, Porsche Cup, Campeonato Brasileiro de Endurance, TCR (Tourism Car Racing) e Nascar Brasil.

Há também lançamentos de carros, convenção de concessionários e eventos com empresas do setor, como de pneus, além de empresas fora do setor.

80º Porsche Club Driving School – Crédito: YO! Studio