Sem grandes alterações desde 2000, os carros da Copa Nextel foram totalmente reprojetados para 2009. “Do modelo velho ficou apenas a lanterna traseira da bolha do Peugeot 307”, resume o engenheiro da JL Racing, Gustavo Letho. Com a missão de desenvolver o novo carro, Letho passou três meses na Itália desenhando a parte estrutural do chassi, sob supervisão de Nicola Scimeca, ex-engenheiro da Dallara.

De acordo com o projetista, o novo bólido foi elaborado levando em consideração as opiniões de chefes de equipes, pilotos e da organização da categoria. “As premissas do projeto foram segurança, performance e redução de custo.” A inspiração para o novo modelo veio de categorias como a DTM e a Nascar. “Nossa principal referência foi a DTM, mas nas devidas proporções. Lá um carro custa cinco milhões de euros e o nosso teria que custar R$ 148 mil”, conta Letho.

A estreia do novo carro aconteceu em Interlagos. Antes de acelerar para valer, os pilotos tiveram apenas algumas sessões de treinos durante a semana. “Toda mudança precisa de um período de adaptação, infelizmente este tempo já está valendo o campeonato”, lamenta Robson Fernandes, chefe da equipe Panasonic Racing, que teve o carro de seu piloto Ricardo Zonta desclassificado depois de ter cruzado a linha de chegada em primeiro lugar. O motivo foi o capô ter se soltado durante a prova e o piloto não ter parado para repor a peça, fato que aconteceu com outros nove pilotos. Para a segunda etapa, a fabricante reforçou a fixação da peça.

Outra reclamação foi a temperatura no cockpit que, segundo relatos, chegou a de 60ºC durante a prova. Isso porque o escape do motor foi reposicionado, à frente do piloto. “É como se você entrasse em uma sauna seca a 50ºC vestindo macacão, sapatilhas, luvas, balaclava e capacete e ficasse lá dentro pedalando por 50 minutos em uma bicicleta ergométrica, com o coração a 140 batimentos por minuto”, exemplifica o piloto Felipe Maluhy. Para resolver esse problema, a JL voltará a utilizar as saídas duplas de escape que eram usadas na temporada passada. Mesmo assim, segundo o piloto Ricardo Zonta, o novo carro é bastante estável, principalmente nas freadas. “Agora ele se comporta como um verdadeiro carro de competição”, opina o piloto.

Deu zebra!

Entre os 32 competidores que alinharam no grid de Interlagos, o pole era o estreante Paulo Salustiano. Quase sem nenhum patrocínio no carro, o piloto surpreendeu a todos com o excelente desempenho na classificação. Na corrida não foi diferente, já que saiu vitorioso.

Você esperava vencer a primeira etapa do campeonato?

Não, de maneira nenhuma. Quase deixei de participar da prova por conta de um calote que recebi de um patrocinador. Acho que agora ele deve estar bastante arrependido (risos).

Você se considera uma zebra?

Com certeza. Nem eu mesmo esperava a vitória. Diante de tantos pilotos bons e mais experientes, eu era apenas um estreante em fase de adaptação. Foi uma grande surpresa fazer a pole e ganhar. Foi maravilhoso.

Você acredita que este resultado irá atrair mais patrocinadores?

Apesar do patrocinador que me deu o calote não ter voltado atrás, com a vitória está aparecendo muita coisa nova. Acho que para as próximas etapas meu carro já estará com as cores de um novo patrocínio.

Qual sua impressão do novo carro?

Ele está muito mais gostoso de guiar, possibilitando ao piloto ser mais agressivo. O do ano passado era mais manhoso. Este tem comportamento parecido com o de um monoposto.

Você passou por um momento difícil na carreira, quando foi pego no exame antidoping. O que realmente aconteceu?

Esse assunto para mim é passado. Infelizmente acabou acontecendo comigo. Regras são regras e elas existem para serem cumpridas. Graças a Deus, dei a volta por cima. Mas fiquei bastante chateado com tudo o que aconteceu. O Renato Russo (piloto que denunciou o uso de substância proibida por alguns colegas da categoria, entre eles, Salustiano) é um grande piloto, mas infelizmente ele devia agir mais e falar menos.

Quais são suas expectativas para as próximas etapas do campeonato?

Gostaria muito de dar continuidade ao que aconteceu em Interlagos, mas preciso manter os pés no chão para não perder o foco no campeonato. Sei que ainda preciso aprender muita coisa e, para isso, vou me dedicar bastante para obter outros bons resultados. Estou mais motivado com tudo o que aconteceu, mas o título ainda é um sonho. Vou dar um passo de cada vez. Meu foco para esta temporada, que virou um sonho bem possível próximo de ser realizado, é lutar pelo play off.

 

Por dentro do novo carro

CRASH-BOX

É feito de um composto de fibra de carbono, com núcleo de alumínio. A peça é toda estudada e calculada para diminuir a desaceleração de um impacto

CÂMBIO

Agora é fornecido pela marca inglesa Xtrac, a mesma fornecedora de câmbio de algumas equipes de F-1

BANCOS

São os mesmo utilizados na Nascar

IMPAXX

Usada na Nascar, esta espuma tem o objetivo de proteger os pilotos em batidas laterais, como a do acidente fatal de Rafael Sperafico em 2007

RODAS

Para facilitar as trocas de pneu e garantir mais emoção no trabalho de boxe, as novas rodas, fornecidas pela OZ, são de cubo rápido

CHASSI

Continua sendo tubular, mas a diferença para o do ano passado, além do desenho, é o material. Agora é usado molibdênio, um composto mais resistente e leve

BOLHA

A aerodinâmica no novo carro é mais equalizada e os recursos estão principalmente no fundo do carro, que agora tem um estrator dianteiro para dar mais pressão aerodinâmica na frente. Outra novidade é que o molde do modelo antigo derivava dos carros de rua. O que não acontece mais. Na Stock 2009, as carrocerias foram desenhadas em cima do chassi e, por isso, puderam partir de uma geometria igual (centro), como pode ser observado na imagem ao lado. Isso garante que os ângulos de ataque do capô, sejam iguais na bolha do Vectra (à direita) e do Peugeot 307