Na festa de comemoração pelo centenário de mercado brasileiro, a General Motors soltou um breve anúncio que surpreendeu a comunidade do antigomobilismo: “Em um século, saíram das fábricas da GM do Brasil produtos que marcaram época e se tornaram ícones da nossa cultura. A partir de 2025, esses clássicos estarão de volta às ruas como os Vintages Chevrolet, uma série limitada de veículos restaurados e customizados pela própria GM”.

Deu a entender que faria como a Jaguar Land Rover, que há quatro anos opera uma clínica de restauração dentro da fábrica de Itatiaia. Na planta fluminense, recursos como cabine de estanqueidade, teste de rolos e pista de rodagem servem tanto a modelos novos, como Evoque e Discovery Sport, quanto a antigos, como o Defender.

Mas não foi bem assim.

Nove meses depois, a GM revelou os primeiros produtos do Chevrolet Vintage. Ocorre que quem restaurou e customizou o Monza 500 EF 1990, o Omega CD 1994 (equipado com kit Irmscher, que eleva a cilindrada para 3.6 litros), o Opala 1979 com roupagem esportiva SS e a S10 do Rally dos Sertões 2004 foram oficinas selecionadas pela empresa, que escolheu os modelos do programa e supervisionou o processo.

Se quiser aproveitar a efeméride do centenário, a GM tem apenas dois meses para descortinar os outros seis exemplares escalados para o projeto – um Chevette, uma C10, um Kadett, uma 3100 Brasil, uma D20 e outro Opala. Todos serão ofertados em leilão, ainda esse ano.

Mesmo reconhecendo que o mercado de antigos é bilionário e que “a paixão pelo antigomobilismo cresce em todo o Brasil, impulsionada por uma nova geração de colecionadores e de veículos neoclássicos”, a empresa não garante sua entrada efetiva no segmento.

“A intenção não é criar uma nova unidade de negócio dentro da empresa, mas dependendo do resultado do leilão podemos dar sequência ao Vintage em 2026”, avisa Fabio Rua, vice-presidente da General Motors América do Sul.

Por ora limitado a uma ação de marketing decorrente dos 100 anos de presença no mercado brasileiro, o Chevrolet Vintage ratifica uma das principais queixas do setor: a indisponibilidade de peças de reposição.

“As montadoras sempre ignoraram o mercado de antigos, e a consequência disso é a atual quase total escassez de peças originais. Nos EUA, você acha tudo. Tem até carroceria de Camaro. Aqui é raro encontrar um farol, que quando tem disponível custa uma fortuna”, reclama uma das oficinais envolvidas no projeto, que exigiu anonimato.

“A própria GM não consegue oferecer um padrão para suas peças. Um friso original, por exemplo, vem num tom de cinza numa caixa e mais claro em outra. Daí você compra uma terceira unidade e ela não se parece com nenhuma das duas que você já tem”, adverte.

Na réplica de Opala SS apresentada na última quarta-feira (1), a ausência da tampa original do bocal de abastecimento sintetiza a reclamação do restaurador, que também aponta uma desconexão da equipe de engenheiros e designers da marca com o mercado de clássicos.

“Uma restauração leva tempo, e muitas vezes temos que aceitar que certas condições de originalidade não serão possíveis com a oferta disponível de peças. O nível de exigência foi desproporcional ao que a própria empresa oferece”, conclui.