Lei americana não permite importação de produtos que contenham itens fabricados no oeste da China, onde haveria violação dos direitos humanos. Mais de 13 mil automóveis das marcas Audi, Porsche e Bentley foram afetados. Milhares de carros das marcas de luxo alemãs Audi e Porsche e da anglo-alemã Bentley estão presos em contêineres em portos dos Estados Unidos. O motivo: eles contêm um componente fabricado em uma região chinesa acusada de violar os direitos humanos.

Segundo o jornal britânico Financial Times, a peça em questão provém do oeste da China e, portanto, viola uma lei americana contra o trabalho forçado. Os EUA não permitem importações de produtos fabricados na região uigurde Xinjiang e em outras áreas do país asiático onde possam ocorrer violações dos direitos humanos.

+ Confira os carros elétricos e híbridos mais vendidos em janeiro

“Estamos trabalhando para resolver um atraso alfandegário na entrega de certos modelos de veículos do grupo Volkswagen dos portos dos EUA para os revendedores”, disse um porta-voz da empresa alemã, detentora da marca Bentley. O componente em questão agora será substituído nos veículos para que eles possam ser liberados.

De acordo com o jornal alemão Handelsblatt, cerca de 13 mil carros novos foram afetados.

“A entrega dos veículos continua, mas infelizmente pode haver atrasos”, revelou o mesmo porta-voz. “O motivo é um pequeno componente eletrônico de uma unidade de controle maior, que será substituído nos veículos afetados assim que as peças necessárias estiverem disponíveis”, explicou.

Trabalhos forçados

Supostamente, a própria Volkswagen não tinha conhecimento da origem do componente, uma vez que ele foi instalado por um fornecedor. O fato só foi descoberto por meio de uma denúncia e, depois, comunicado às autoridades dos Estados Unidos.

“Estamos esclarecendo os fatos e tomando as medidas cabíveis”, disse o porta-voz da VW. “Isso também pode incluir o encerramento do relacionamento com o fornecedor se nossas investigações confirmarem violações graves”.

Os uigures, assim como membros de outras minorias e organizações de direitos humanos, têm relatado há anos que centenas de milhares de pessoas em Xinjiang estão sendo colocadas contra a vontade em campos de reeducação, em alguns casos sendo torturadas e submetidas a trabalhos forçados. O governo chinês nega essas acusações.

Questionado pela agência de notícias AFP, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que as empresas alemãs não deveriam ser “enganadas pelas mentiras” sobre a situação em Xinjiang e precisam distinguir “a verdade da mentira”.

VW podem encerrar parceria

A Volkswagen há muito é criticada por suas atividades no oeste da China. Em Xinjiang, o grupo opera uma planta e uma pista de testes em conjunto com o seu parceiro chinês SAIC.

Na quarta-feira, a empresa alemã anunciou que iria conversar com a SAIC “sobre a direção futura das atividades empresariais na província de Xinjiang” .

Na semana passada, a gigante química alemã Basf anunciou que iria vender ações das suas duas joint ventures em Korla, no centro da região de Xinjiang, após a revista Spiegel e a emissora estatal alemã ZDF terem publicado uma investigação conjunta que indicava que empregados da acionista Xinjiang Markor Chemical Industry tinham participado em ações de opressão dos uigures em 2018 e 2019.