24/06/2025 - 15:49
A Tesla finalmente tem um robotáxi. Agora vem a parte difícil. A montadora de carros elétricos implantou seus primeiros táxis sem motorista na cidade norte-americana de Austin, no Texas, no domingo, em um teste em pequena escala do serviço realizado por veículos Model Y. Agora, a empresa enfrenta o grande desafio de executar a ambição do presidente-executivo, Elon Musk, de refinar o software dos veículos para equipá-lo em milhões de Teslas num prazo de cerca de um ano.
Uma expansão tão rápida será extremamente difícil, disseram à Reuters cerca de uma dúzia de analistas do setor e especialistas em tecnologia de veículos autônomos. Esses observadores expressaram uma série de opiniões sobre as perspectivas da Tesla, mas todos advertiram contra a suposição de um lançamento acelerado de táxis autônomos.
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Alguns apontaram para as vantagens que a Tesla poderia explorar para ultrapassar rivais, incluindo a Waymo, da Alphabet,, e uma série de empresas chinesas de automóveis e tecnologia. A Tesla tem capacidade de fabricação em massa e foi pioneira em atualizações remotas de software que podem ser usadas para melhorar o sistema de direção sem motorista. A montadora também não usa sensores radar e lidar nos carros como a Waymo e a maioria das rivais utiliza. Em vez disso, a Tesla confia apenas em câmeras e inteligência artificial dos veículos.
“A implementação pode ser muito rápida. Se o software funcionar, o robotáxi da Tesla poderá dirigir em qualquer rua do mundo”, disse Seth Goldstein, analista sênior de ações da Morningstar, alertando que a Tesla ainda está “testando o produto”.
Em Austin, a Tesla lançou um experimento coreografado envolvendo talvez uma dúzia de carros, operando em uma área limitada, com monitores de segurança no banco do passageiro da frente; “teleoperadores” remotos; planos para evitar o mau tempo; e influenciadores pró-Tesla escolhidos a dedo como primeiros passageiros.
Durante anos, Musk disse que a Tesla logo operaria seu próprio serviço de transporte autônomo e também transformaria qualquer Tesla, novo ou usado, em um robotáxi gerador de dinheiro para seus clientes. Isso será “ordens de magnitude” mais difícil do que testar em Austin, disse Bryant Walker Smith, professor de direito da Universidade da Carolina do Sul, focado na regulamentação da condução autônoma.
“É como anunciar: ‘Estou indo para Marte’ e depois, você sabe, ir para Cleveland”, disse Smith.
Musk disse que a Tesla chegará a Marte, nessa metáfora, muito rapidamente: “Prevejo que haverá milhões de Teslas operando de forma totalmente autônoma no segundo semestre do próximo ano”, disse ele em abril.
Musk e Tesla não responderam a pedidos de comentários.
Dada a abordagem dependente de IA da Tesla, o desafio da empresa será treinar os robotáxis para lidar com “casos extremos” complexos de tráfego, disse Philip Koopman, professor de engenharia da computação da Carnegie Mellon University e especialista em tecnologia autônoma. Isso pode levar muitos anos.
“Veja, quanto tempo levou para a Waymo?”, perguntou Koopman. “Não há razão para acreditar que a Tesla será mais rápida.”
Histórico
Os esforços de condução autônoma da Waymo remontam a 2009, quando o Google iniciou seu projeto de carro sem motorista. Um protótipo da empresa em forma de ovo deu uma primeira volta nas ruas públicas em 2015 – também em Austin.
Desde então, a Waymo desenvolveu uma frota de 1.500 táxis robôs em cidades selecionadas dos EUA. Um porta-voz da Waymo disse que a empresa planeja adicionar mais 2.000 veículos até o final de 2026.
Alguns analistas acreditam que a Tesla pode se expandir mais rapidamente, em parte porque a Waymo ajudou a pavimentar o caminho, superando desafios técnicos e regulatórios.
“A Waymo e outros pioneiros ajudaram a impulsionar a mudança regulatória e conscientizaram os motoristas, pedestres e outros usuários das ruas sobre os veículos autônomos”, disse Paul Miller, analista da empresa de pesquisa de mercado Forrester.
O fato de ser um fabricante de massa também ajuda a Tesla, disse Miller. A Waymo compra veículos Jaguar I-PACE e os equipa com sensores e tecnologia mais caros do que a Tesla integra em seus veículos.
A Waymo não quis comentar sobre o potencial de expansão do serviço da Tesla. O ex-presidente-executivo da empresa, John Krafcik, continua cético. As precauções que a Tesla empregou em Austin revelam que ela não tem confiança de que sua tecnologia seja segura em escala, disse Krafcik.
“E não deveria”, disse ele. “Não é tão seguro quanto precisa ser, e fica muito aquém da abordagem robusta e da segurança bem documentada que a Waymo demonstrou.”
‘Lado errado’ da via
A estratégia “go-fast” da Tesla pode, na verdade, retardar seu progresso e o do setor de veículos autônomos se minar a confiança do público, disseram alguns analistas. Historicamente, a Tesla tem enfrentado problemas legais e regulatórios envolvendo seu sistema de assistência ao motorista Full Self-Driving (FSD), que não é totalmente autônomo.
Em uma recente investigação federal sobre a segurança da Tesla, investigadores examinam o papel do FSD em colisões – algumas fatais – envolvendo chuva ou outras condições climáticas adversas que interferem nas câmeras do sistema dos carros da montadora. Antes do teste em Austin, Musk publicou em sua plataforma de mídia social, X, que a tecnologia do robotáxi da empresa seria pouco diferente de qualquer Tesla, além de uma atualização de software: “Esses são carros Tesla não modificados que saem direto da fábrica, o que significa que todos os Tesla”, escreveu ele, “são capazes de condução autônoma não supervisionada!”
A montadora convidou influenciadores amigos da Tesla para as primeiras viagens e, de modo geral, eles elogiaram a experiência. No entanto, um vídeo publicado por um passageiro mostrou o veículo passando por um cruzamento de quatro pistas com um semáforo – e entrando na pista errada, por cerca de seis segundos. Não havia tráfego em sentido contrário na pista naquele momento.
“Obviamente, estamos do lado errado da linha amarela dupla aqui”, disse o passageiro, Rob Maurer, narrando a experiência em vídeo publicado no X, observando que se sentia seguro, mas que o carro atrás dele buzinou na “manobra confusa”.
Maurer não respondeu a pedidos de comentário. A Reuters verificou a localização do vídeo comparando os prédios, empresas e placas de rua ao redor com o cruzamento da West Riverside Drive com a Barton Springs Road em Austin.