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Durante a fase de desenvolvimento da picape Duster Oroch havia no mercado uma expectativa muito grande: como seria uma picape média que, ao invés de usar chassi com longarinas, utilizaria uma revolucionária estrutura monobloco? Uma proposta muito boa e inovadora para a época, pois produziria uma picape mais leve, mais barata e com uma dinâmica que se aproximaria a de um carro de passeio. Mas, durante o longo percurso da ideia à execução do projeto, muitos caminhos podem levar ao sucesso ou às vendas tímidas de um modelo. E, infelizmente para a Renault, as decisões tomadas nem sempre foram as mais acertadas.

No caso da Duster Oroch, lançada em setembro de 2015, algumas escolhas do fabricante comprometeram o futuro do modelo, que prometia revolucionar sendo a primeira picape média de carroceria monobloco do mercado nacional. Para a criação dessa nova picape, a Renault partiu do SUV compacto Duster, que já não era um projeto dos mais novos, tanto no mercado brasileiro quanto no europeu. Quando se aproveita coisas de projetos de veículos já existentes, vão se criando limitações para os engenheiros e para os projetistas que desenvolvem esse novo carro. Assim, sistemas de suspensões, freios, direção não podem ser radicalmente alterados, devendo seguir o projeto original.

A Fiat Toro, por outro lado, foi concebida a partir de uma folha em branco. Tudo foi criado da estaca zero. Claro que, nesse caso, projetistas e engenheiros de desenvolvimento puderam trabalhar com liberdade, criando uma mecânica mais acertiva. Nem é preciso dizer que o design trabalhou com muito mais criatividade, sem amarras que limitavam as linhas do novo carro. Algo que não ocorreu com a Oroch, em que o design teve que se limitar a uma mecânica já existente e suas linhas ficaram restritas àquelas já existes no Duster, carro que gerou a picape.

Uma outra falha na hora de compor o conteúdo do carro ficou marcada ao fato da Renault não perceber que o público que compra uma picape média é exigente e busca, além do design atraente e diferenciado, uma mecânica moderna e de alta tecnologia. A Fiat, por exemplo, oferece a transmissão automática como equipamento de série em toda a sua linha. O câmbio manual fica restrito apenas a algumas versões especiais. Claro que só um câmbio automático não basta. Ele tem que ter, também, pelo menos 5 ou 6 marchas para ser classificado como moderno pelo consumidor. Na picape da Fiat, o câmbio automático pode ser de 6 ou 9 marchas. No caso da Oroch, a Renault ofertou apenas um câmbio manual de 5 marchas no lançamento, passando a oferecer o velho câmbio automático de 4 marchas posteriormente. E que, mesmo assim, só pode ser adquirido junto com o (também antiquado) motor 2.0 de 148cv.

Claro que o consumidor desse segmento percebe essas mancadas. E isso se reflete diretamente nas vendas. Só para que se tenha uma ideia, no ano passado (2016), a picape da Fiat vendeu três vezes mais que a picape da Renault, mesmo custando bem mais barato. Devemos considerar ainda que a Oroch foi oferecida para o consumidor nos 12 meses do ano, enquanto a Toro, lançada em fevereiro, foi oferecida para o público em apenas 10 meses do ano. Mesmo assim, vendeu o triplo. O consumidor soube valorizar o design mais moderno e atraente, a mecânica tecnologicamente mais avançada e uma composição mecânica que veio atender as necessidades daquele público que compra esse tipo de carro.

Fiquei uma semana utilizando diariamente uma Oroch Dynamique 1.6 com câmbio manual de 5 marchas. Equipada com o novo motor 1.6 SCe de 118cv/120cv (gasolina/etanol) e 16,2 kgfm de torque máximo, semelhante ao utilizado por Sandero/Logan e igual ao que equipa o Captur. Pelo menos sobre esse aspecto a Oroch está muito bem servida com um ótimo e moderno motor. Agora, a pergunta que não quer calar: por que não se oferece na Oroch o mesmo câmbio CVT oferecido no Captur e, até mesmo, no Duster? Tenho a certeza que essa oferta melhoraria o interesse do consumidor na Oroch. Apesar do design não ser tão empolgante, com um motor moderno e uma transmissão automática CVT, poderiam convencer o consumidor a comprar a picape da Renault ao invés de pagar o alto preço da Toro.

Mesmo com o câmbio manual, a Oroch não consome muito combustível: Segundo o Inmetro, as medidas são 7,6km/l/11,1km/l (etanol/gasolina) na cidade. Já na estrada, os números são 7,7km/l/11,2km/l (G). E o desempenho é satisfatório para uma picape familiar: 0 a 100km/h em cerca de 12 segundos e velocidade máxima ao redor dos 160km/h. Resultados modestos, mas satisfatórios. A Oroch Dynamique 1.6 manual, ano/modelo 2017, é oferecida por R$76.950. A unidade avaliada, com bancos forrados em couro e pintura metálica, custa R$80.250.

Para que a Oroch tenha o sucesso de vendas semelhante ao da Fiat Toro, será preciso uma completa reformulação, principalmente no design, acabamento e em uma mecânica que atenda aos anseios desse consumidor.