Assim como ocorre com as montadoras, o mercado brasileiro de pneus entrou em um imbróglio entre os fabricantes nacionais e os que importam para o país.

Mas, afinal, o que vai acontecer? Vai ficar mais caro? Vai ter menos oferta? Para entender o que está acontecendo, a MOTOR SHOW ouviu duas associações que representam os respectivos fabricantes.

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Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos

Tudo começou com a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), que solicitou ao governo federal um aumento na alíquota do imposto de importação para pneus de passeio e de carga de 16% para 35%.

Segundo a associação, a medida tem como objetivo conter “o surto de importação desleal de pneus da China e de outros países da Ásia no mercado brasileiro”.

Dados da entidade, levantados com base nas informações de importação da Receita Federal, mostram que 50% dos pneus importados da Ásia entram no país com preços inferiores ao das matérias primas usadas no produto e 100% das importações estão abaixo do custo de produção industrial.

“Essa concorrência desleal está ameaçando empregos, coloca investimentos futuros em risco e traz desorganização da cadeia produtiva, afetando também produtores de borracha, de têxteis, de produtos químicos e de aço, insumos usados largamente na produção de pneus”, diz Klaus Curt Müller, presidente da Anip.

Nas contas da Anip, entre 2017 e 2023, as vendas de pneus da indústria nacional (para passeio e carga) caíram 18%, enquanto as importações cresceram 117%.

“Este avanço se deu por conta dos preços desleais. Enquanto grandes mercados como EUA, Europa e México ergueram barreiras para proteger suas indústrias, o Brasil virou ponto de desova do produto vindo especialmente de países asiáticos.”

Empregos afetados

A associação destaca também que a entrada de produtos fora do país afetaram os empregos. A indústria de pneus instalada no país emprega 32 mil trabalhadores diretos e 500 mil indiretos. Dos diretos, 2.500 funcionários já estão em suspensão ou redução da jornada de trabalho (lay-off).

“O Brasil levou muito tempo para construir uma cadeia industrial de pneus, o que é estratégico para um país de dimensão continental que utiliza intensamente o modal rodoviário, e agora todo este esforço está sob ameaça.”

No entanto, o presidente da Anip enfatiza que a entidade e os fabricantes não são contra as importações.

“Se medidas emergenciais não forem tomadas para garantir uma concorrência saudável corremos o risco de assistir a uma desindustrialização do setor.”

Atualmente, o Brasil tem hoje 11 fabricantes de pneus com operações no país. São 21 plantas industriais, distribuídas em sete estados. Este conjunto foi responsável pela venda de 52 milhões de pneus no mercado local em 2023. As fabricantes instaladas no país investiram nos últimos dez anos cerca de R$ 11 bilhões em suas unidades.

“Os novos ciclos de investimentos estão sob análise neste momento. Essa situação afetou a atratividade do país para investimentos.  Com isso, perdemos investimentos par outros países.”

Importadores discordam de “invasão” de produtos de fora – Crédito: Freepik/@fxquadro

Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus

Para a Abidip (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus), a Anip quer entrar no vácuo das recentes decisões protecionistas do governo para emplacar aumento de tarifa sobre pneus importados.

Caso isso ocorra, o consumidor poderá ver o produto ficar mais caro. Nas contas da associação, os pneus importados, que hoje tem uma participação de mercado de 37%, podem sofrer uma alta de até 25% em seus valores.

Ela diz que o pleito acontece após um período de queda de preços no setor. Em 12 meses, o pneu ficou 7,75% mais barato, de acordo com o IPCA.

“Os efeitos do aumento tarifário seriam muito danosos para os elos da cadeia produtiva. O setor de transportes teria de repassar mais custos para os produtos fretados”, diz Ricardo Alípio, presidente da Abidip.

Na visão da Abidip, as alegações da Anip são frágeis e genéricas, além de carecer de dados regionais do Mercosul e evolução de índice de preços, como o da borracha, por exemplo.

Além disso, a Anip omite em seu pedido junto ao governo que suas associadas importam pneus de suas fábricas nos Estados Unidos, Japão, Europa e Argentina.

Segundo a Abidip, as importações de pneus aumentaram com a retomada econômica do pós-covid e para suprir a demanda brasileira devido à insuficiência da capacidade produtiva local.

Atualmente, há quatro regras de proteção à indústria nacional de pneumáticos em vigor. Duas para pneus de automóveis vindos da China, Coreia do Sul, Tailândia e Taipé Chinês e duas para pneus de carga vindos da China, Coreia do Sul, Japão, Rússia e Tailândia.

E agora?

Questionado pela MOTOR SHOW, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirma que o pleito está em análise no âmbito da Camex (Câmara de Comércio Exterior), seguindo os ritos padrão. “Ainda não há previsão de data para a decisão do colegiado.”