Lançado há 14 anos para venda no mercado japonês, o Prius foi o primeiro carro híbrido lançado comercialmente por um grande fabricante de automóveis. Uma jogada ousada da Toyota. Naquele momento da história, carros híbridos eram apresentados nos salões internacionais apenas como uma possibilidade ainda em estudo. Talvez uma tendência – na época desacreditada por muitos – para o futuro do planeta. Por isso, o mundo se admirou com a decisão da Toyota de iniciar as vendas do modelo. Mas o tempo mostrou que os japoneses não estavam atropelando o desenrolar natural dos acontecimentos. O carro híbrido é hoje uma realidade global. Uma solução imediata para a redução da emissão de poluentes oriundos da queima de combustíveis fósseis.

Hoje, quando muitas marcas ainda desenvolvem seus sistemas elétricos, a Toyota já oferece um carro maduro (com 2,3 milhões de unidades vendidas), já em sua aperfeiçoada e desenvolvida terceira geração. O Prius mostra que os japoneses não brincam em serviço, oferecendo um carro espaçoso, confortável, silencioso, com design futurista e, o que é melhor, com um consumo de combustível extraordinariamente baixo e, consequentemente, muito menos poluidor do que qualquer outro carro de propulsão convencional oferecido no mercado mundial. Fruto colhido por seu pioneirismo.

Agora a Toyota anunciou a comercialização do modelo no mercado brasileiro a partir do segundo semestre do próximo ano. Um grande passo dos japoneses na ocupação dos espaços que o crescimento de nosso mercado está criando. Para fazer as primeiras avaliações de como a “novidade” se comporta em nossas ruas e estradas, fomos à Costa dos Corais (Alagoas), onde a Toyota apoia um programa de preservação ambiental. Após rodarmos pelas estradas do Estado nordestino, avaliamos novamente o modelo híbrido pelas ruas e rodovias do Estado de São Paulo.

Essa terceira geração do Prius já havia sido avaliada por MOTOR SHOW (edição nº 320 de novembro de 2009), na ocasião de seu lançamento na Europa. Agora pudemos sentir o desempenho do carro em solo brasileiro, com nossa gasolina e sofrendo o impacto das irregularidades e buracos de nosso asfalto nos sistemas de suspensão e direção. Um duro golpe que, pelo menos aparentemente, o Prius conseguiu absorver com tranquilidade. No Nordeste, enfrentou muito calor e pistas de perfil bem irregular. No Sudeste, encarou temperaturas mais amenas, piso rodoviário em melhores condições e centros urbanos com trânsito mais caótico. O Prius passou bem por todas as condições de uso, sempre mantendo sua característica principal: a fantástica economia de combustível.

OS HÍBRIDOS PIONEIROS

Mercedes S400 Hybrid e Ford Fusion Hybrid (que usa tecnologia Lexus, do grupo Toyota) chegaram quase juntos ao Brasil. No alemão, o motor elétrico incrementa a potência do gasolina. Já no Ford, ele é o propulsor principal, como no Prius

Em estradas de pista dupla, mantendo-se velocidades ao redor dos 110 km/h e rodando somente com o motorista, o híbrido chegou a fazer 20 km/l. Na cidade, as médias de consumo se mantiveram próxima dos 25 km/l. O consumo menor na cidade é decorrência de sua particularidade construtiva: a central eletrônica que comanda a operação entre o motor a combustão e o elétrico, prioriza a propulsão elétrica para os arranques e velocidades inferiores aos 50 km/h, poluindo menos o ar nos grandes centros urbanos. Ajuda muito o fato de o carro aproveitar as desacelerações e frenagens para gerar ainda mais carga elétrica para as baterias. O aproveitamento energético do Prius nas utilizações urbanas é fantástico. Na estrada, para as velocidades elevadas, é preciso que os dois motores operem em conjunto, elevando o consumo. Mesmo assim, com ótimo perfil aerodinâmico Cx de 0,25; pneus de baixo arrasto de rolamento; pouco peso e uma transmissão CVT eletronicamente comandada, que acerta sempre a relação de transmissão para o momento, carga no acelerador e velocidade, o consumo na estrada foi sempre surpreendente. Sucesso inegável da tecnologia que a Toyota empregou em seu carro ecológico. Para se ter uma ideia, o grandalhão Prius tem média extra urbana semelhante à do pequeno Fiat Uno Economy avaliado nesta edição.

No desempenho, que fique claro, ele não é nenhum campeão. Faz de zero a 100 km/h em 10,4 segundos e atinge os 180 km/h de velocidade máxima. Não dá para dizer que é um desempenho sofrível, mas certamente não empolga. De qualquer maneira, se considerarmos que seu objetivo é a economia de combustível e o cuidado com o meio ambiente (95% do carro é reutilizável; 85% é reciclável e 95% dos componentes da bateria de longa duração podem ser reaproveitados), o Prius cumpre sua função. E pode até ser apontado como um indicador de carro do futuro. É preciso apenas que as autoridades brasileiras se sensibilizem com esse tipo de iniciativa e deem incentivos fiscais para quem vende, produz e adquire veículos híbridos ou elétricos. Dessa forma, os maiores investimentos que os fabricantes destinam ao desenvolvimento desses veículos – e que estão embutidos no preço final ao consumidor – diminuiriam significativamente.

Os impostos atuais de importação e aquisição do carro, fariam com que o Toyota Prius custasse por aqui algo em torno dos R$ 110 mil. Muito caro para um veículo desse porte, em que pese sua altíssima tecnologia. A isenção de alguns impostos poderia fazer com que esse preço chegasse a interessantes R$ 70 mil, bastante viável. E esse incentivo poderia também dispensar os modelos do rodízio nos grandes centros urbanos, uma vez que poluem pouquíssimo nosso ar. Esses são alguns exemplos de iniciativas já tomadas por outros governos no mundo e que incentivarão os híbridos.Não seguiremos esse caminho?

Posição de dirigir elevada e volante levemente horizontal são características do Prius, que oferece conforto e ergonomia. A partida é feita por botão e o câmbio traz apenas as opções drive, neutro e park, além de um modo de freio-motor (B), que recupera mais energia sempre que se desacelera. Abaixo, o painel digital

O raio X mostra o esquema construtivo. Os dois motores, a combustão e elétrico, cam na frente, ligados por um cabo de alta tensão ao pacote de baterias (constantemente resfriado como mostra a ilustração abaixo), ao lado da bateria de 12 volts

Toyota Prius

MOTOR híbrido paralelo (gasolina quatro cilindros em linha, 1,8 litro, 16V, comando variável, start stop + elétrico) TRANSMISSÃO automática continuamente variável, modo freio-motor, tração dianteira DIMENSÕES comp.: 4,46 m – larg.: 1,75 m (sem retrovisor)- alt.: 1,51 m ENTRE-EIXOS 2,700 m PORTA-MALAS 445 itros PNEUS 195/65 R15 PESO 1.390 kg ● GASOLINA+ELÉTRICO POTÊNCIA 98 cv a 5.200 rpm + 81 cv a 1.150 rpm. Potência combinada: 138 cv TORQUE 14,5 kgfm a 4.000 rpm (motor a gasolina, elétrico não disponível) VELOCIDADE MÁXIMA 180 km/h 0 – 100 km/h 10,4 segundos CONSUMO cidade: 25,5 km/l – estrada: não disponível CONSUMO REAL cidade: 25 km/l – estrada: 19 km/l (durante a nossa avaliação)

Com design futurista, o Prius já contabiliza mais de 2,3 milhões de unidades vendidas no mundo