O hatch branco está na linha de partida, pronto para acelerar. De longe, um grupo aguarda, ansiosamente, a largada. Ele parte, rapidamente chega a 64 km/h e mantém a velocidade constante. Poucos instantes depois, se choca contra uma barreira de metal. Estamos em um crash test, que simula o choque entre dois carros idênticos, em sentidos opostos, ambos a 64 km/h.

Uma cena espetacular para quem não está acostumado a presenciá-la, mas que, na verdade, é totalmente comum no desenvolvimento de um novo modelo de carro. O que torna este teste em particular muito mais interessante é o fato de que se trata de um carro totalmente elétrico, o Renault Zoe (que já foi nossa cobaia também no Polo Norte, onde suportou o frio intenso). Como as baterias de lítio resistem a fortes impactos? Há risco de incêndio ou explosão? E como se comporta um carro elétrico, com nada menos que 280 quilos extras das baterias, em um acidente?

Toda inovação tecnológica leva a novos problemas. No caso dos veículos elétricos, as dúvidas relativas à segurança podem ser fundamentais na decisão de compra. Assim, é essencial que os grandes fabricantes estejam na vanguarda do desenvolvimento, pois eles têm, além do maior interesse, meios e recursos para investigar as novas tecnologias. E é justamente isso que a Renault está fazendo nesse teste, que acompanhamos com exclusividade. Tivemos ainda a oportunidade rara de acompanhar a avaliação final do Zoe em um centro técnico de Lardy, a cerca de 50 quilômetros de Paris, onde o fabricante desenvolve e testa todos os seus veículos, e onde criou novos laboratórios específicos para os carros elétricos.

O peso total do Zoe, de 1.400 kg, é bastante elevado para um carro de seu porte (quatro metros de comprimento), mas o espaço menor que o motor elétrico ocupa e a ausência do sistema da caixa de câmbio deixam mais espaço para a deformação frontal da carroceria. Além disso, há longarinas especialmente desenvolvidas para absorver mais energia. Durante o teste, o impacto sofrido pelos manequins (os dummies) ficaram abaixo dos estabelecidos pela lei – que são iguais aos dos carros comuns. O habitáculo do Zoe não se deformou, as portas se abriram com facilidade e as baterias não foram afetadas. Dentro do compartimento onde elas ficam, de aço ultrarresistente, existe um interruptor que isola os 400 volts de tensão do resto do carro: ele é ativado simultaneamente com os airbags, pois é comandado pela mesma central eletrônica. Assim, os ocupantes ficam protegidos da possibilidade de um choque elétrico. Para o sistema de refrigeração das baterias, a Renault escolheu usar o ar – e não a água – eliminando assim a chance de um curto-circuito.

Com esse crash que acompanhamos ¬ fica provado que, se bem armazenadas e protegidas, as baterias de íons de lítio não oferecem risco extra em caso de acidentes