Uma situação que causa estranheza nos Estados Unidos é a ausência de marcas francesas operando no país. E se hoje é muito difícil (quase impossível) ver um carro francês rodando pelas ruas e estradas da nação governada por Donald Trump, fica mais difícil ainda imaginar que um dia alguma montadora tenha fabricado por lá algum modelo do país europeu. Mas foi isso que a Renault fez nos anos 1980. Conheça a seguir a história dos Renault projetados e fabricados nos Estados Unidos.

Fundada em 1954, com a fusão dos fabricantes Nash-Kelvinator e Hudson, a American Motors Corporation (AMC) produziu alguns veículos de sucesso, como os Rambler Classic e American (que serviriam de base para o argentino IKA Torino), o utilitário Jeep Cherokee e os esportivos Javelin e AMX. Mas nunca foi capaz de ameaçar o domínio das três grandes (Chrysler, Ford e General Motors) no mercado dos Estados Unidos.

Solução

No final dos anos 1970, a situação do Grupo era ainda mais complicada. Apesar de lucrar com as vendas dos Jeep e de veículos militares para as forças armadas americanas, os seus automóveis de passeio enfrentavam a concorrência reforçada pelos compactos europeus e japoneses, que começavam a fazer sucesso no mercado local. Sem recursos para renovar a sua linha, a Américan Motors viu em uma sociedade com a Renault, em 1979, a chance de retomar o caminho do crescimento. Em troca de 22.5% do controle acionário do grupo americano, a então estatal francesa ganhou o direito de vender os Renault nas concessionárias da AMC.

Parecia ser um bom negócio para ambos os lados. A AMC ganhou fôlego financeiro e a Renault, um parceiro importante no maior mercado automobilístico da época. Em 1982, a empresa francesa adquiriu 49% das ações da AMC e se tornou o principal acionista do grupo. O passo seguinte da Renault foi investir US$ 150 milhões na fábrica de Kenosha (Wisconsin) para produzir uma linha de modelos exclusivos para os EUA: os Renault Alliance, Encore e GTA (baseados nos franceses Renault 9 e 11) e Medallion (baseado no Renault 21), que foram adaptados ao estilo americano sob o comando de Richard Teague, então vice-presidente de design da AMC.

Crise

Foi ai que começaram os problemas para a sociedade Renault-AMC. Sob pressão do governo, que não queria ver o fabricante do então recém-lançado utilitário militar Humvee nas mãos de uma empresa estrangeira, a American Motors vendeu a lucrativa divisão AM General. Combinado a isso, os carros feitos em Kenosha não tinham a mesma qualidade dos concorrentes das marcas japonesas e, com os preços dos combustíveis voltando a baixar, boa parte dos americanos largaram os compactos e voltaram a comprar os grandes carros de passeio e utilitários com motores V8. Os Renault americanos começaram a encalhar nas concessionárias.

Enfrentando problemas em seu país natal, a Renault começou a cavar um caminho para fora da sociedade. Em 1987, a Chrysler concordou e comprar as ações da AMC nas mãos da montadora francesa, por US$ 1,5 bilhão. Um ótimo negócio para a Chrysler, que incorporou a lucrativa Jeep ao seu portfólio de marcas. Já os Renault americanos foram descontinuados praticamente de imediato. As exceções foram o Medaillon (fabricado até 1989) e o Premier, projeto baseado no Renault 25 e que estava praticamente pronto na época da mudança de sociedade. Foi produzido até 1991, com o nome de Eagle Premier.

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