Foi uma grande festa no Autódromo de Indianápolis, em Indiana (EUA). A mundialmente famosa corrida 500 Milhas de Indianápolis comemoravam 100 anos em 2011. Eu cobria o evento como jornalista e todos os vencedores ainda vivos das provas estavam lá. Eles dariam algumas voltas com carros vencedores da prova ao longo desses 100 anos. A fila de carros fazia praticamente a volta em todo o circuito, composto por duas retas enormes e quatro curvas ligadas por duas retas curtas. É como se fosse um oval com comprimento total de um pouco mais de 4 km. 

Na ocasião, uma grande festa de vencedores. Dentre eles, nosso bicampeão mundial de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi, que obrigatoriamente tinha que estar presente, afinal foi vencedor das 500 Milhas de Indianápolis em 1989, repetindo o feito em 1993. Emmo, como carinhosamente ficou conhecido pelo público norte-americano, era um verdadeiro “expert” quando o assunto era corrida de F-Indy.  

Estar com o nosso campeão nos dias que antecediam a corrida era um verdadeiro inferno: não era possível andar um metro sem que um fã parasse o piloto para pedir um autografo, foto, ou ambos, como acontecia na maioria das vezes. Coisas de quem se destaca e é simpático a todos. No sábado que antecedia a corrida (feita aos domingos), as equipes faziam disputas de qual seria mais rápida nas trocas de pneus, junto com um hipotético abastecimento.   

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Emerson Fittipaldi e Douglas Mendonça – Foto: acervo pessoal do autor

Nesse mesmo sábado, alguns jornalistas brasileiros presentes tiveram uma oportunidade rara: dar uma volta pelo circuito de Indianapolis com um Chevrolet Camaro conversível, pilotado por ninguém menos que Fittipaldi. E lá fui eu para dar uma dessas quatro voltas, previstas pela organização da prova. Seria uma para cada jornalista brasileiro. Nos ajeitamos no carrão americano sem capota, com cintos atados e tendo que desfilar frente aquelas arquibancadas que explodiam de tanta gente.  

Saímos dos boxes. O povo das arquibancadas ovacionava e assobiava quando viam Emmo ao volante do Camaro. Já no final da primeira curva, Emerson acelerava forte o motorzão V8. Descemos a reta longa a cerca de 100 mph, ou pouco mais de 160 km/h. Fittipaldi, nessa descida de reta, foi me dando algumas dicas de quando ele venceu naquele circuito: as bandeirolas do percurso mostravam a direção do vento, e dessa forma ele sabia se o vento ajudaria seu carro a chegar mais rápido na curva 3. Assim ele também controlava a frenagem. 

Se as bandeirolas estavam indicando um vento de frente, isso mostrava que o carro chegaria mais lento ao início da curva 3, permitindo ao piloto frear um pouco mais dentro da curva, compensando a menor velocidade por conta do vento. Volta após volta, nosso campeão visualizava as bandeirolas para saber se o vento estava mudando, obrigando-o a adaptar suas pilotagens para aquele momento. Uma técnica refinada, que certamente contribuiu para a sua primeira vitória em 1989. 

Papo vai, papo vem e já estávamos chegando na tal curva 3. Eu, meio assustado, pensei: “acho que já passou do ponto para frear esse carro…”. Nesse momento, Emmo freou levemente o Camaro, fez a trajetória de tomada da curva, tangenciou e o carro deu uma leve escapada de traseira. Fittipaldi seguiu olhando para mim e conversando. Automaticamente, cruzou os braços em um contraesterço do volante, recolocando o pesado Camaro na trajetória. Acho que ele nem percebeu esse movimento para correção de trajetória que fez, sem nem interromper a conversa que estava tendo comigo. Coisa de piloto profissional, e dos bons! 

Emerson Fittipaldi e Douglas Mendonça – Foto: acervo pessoal do autor

Depois dessa demonstração de habilidade do nosso campeão, não resisti e fiz a piada: “você leva jeito para esse negócio de pilotar, hein? Já pensou em fazer isso profissionalmente?”. Bem-humorado, ele prontamente me respondeu: “Você não é o primeiro a me dizer isso! Eu acho que levo jeito pra pilotagem!”. Depois de risos, entramos para os boxes, enquanto o pessoal das arquibancadas seguia gritando e festejando. Impressionante o carisma de nosso campeão junto ao grande público norte-americano.  

Houve outra oportunidade, lá mesmo, em Indiana, em que saímos para jantar em um grupo de jornalistas brasileiros. Junto, dirigentes da GM do Brasil, além de Emerson. Entramos no restaurante, e logo um dos norte-americanos presentes reconheceu o nosso campeão: ficou em pé aplaudindo e gritando, repetidamente, “Emmo! Emmo! Emmo!”. Em poucos segundos, todo o restaurante estava fazendo o mesmo. De fato, um campeão mundial.