Quem pensa que um modelo elétrico em uma cidade cosmopolita como Paris não chama a atenção está enganado. Nos dias em que avaliei, com exclusividade, o Citroën C-Zero pela capital francesa, não faltaram olhares curiosos, comentários e abordagens. Em um final de noite, parei para um café no Mabillon, restaurante descolado no Boulevard Saint Germain, e estacionei o modelo bem na porta. O porteiro puxou conversa por meia hora. Era a véspera da devolução do carro à Citroën. Na noite seguinte, já sem o curioso automóvel, voltei ao mesmo café. O garçom veio até mim e perguntou: “Você não é aquele cara que estava com o carro elétrico ontem?”.

Uma recarga rápida de 80% pode ser feita em 30 minutos

Logo que retirei o C-Zero do escritório da marca, fiquei surpreso com sua agilidade. Sem trancos para partir nem para mudar a marcha (sua transmissão é automática com apenas uma velocidade), o modelo é equipado com um motor de 47 kW (ou 67 cv), que são entregues logo a 2.500 rpm. O torque de 18,4 kgfm está presente de zero a 2.500 rpm. Ou seja, não fica nada a dever a modelos 1.4 e 1.6 quando o assunto é fôlego para andar na cidade. Sua potência é transmitida às rodas traseiras por meio de um redutor monovelocidade. A alimentação do motor é feita por baterias de íon-lítio, implantadas no centro da carroceria. O resultado é zero ruído e zero emissão, justificando o nome C-Zero.

Já na saída, o computador marca 127 quilômetros de autonomia. Preocupante. Eu não poderia fazer nenhuma viagem sem ter certeza de que encontraria uma tomada de 220V. É como ir de São Paulo a Campinas e precisar reabastecer para voltar, considerando que precisará pernoitar, porque o tempo para a recarga é de seis horas (o carregamento rápido em tomada especial garante 80% de carga em 30 minutos). Resolvi não sair de Paris. É para isso que o C-Zero existe: uso urbano. Então, fiquemos nele.

Para quem mora em uma cidade bem servida de transporte público e tem uma garagem com tomada à disposição, quase 130 quilômetros de autonomia são mais do que suficiente para resolver a imensa maioria dos problemas de mobilidade. Estatísticas comprovam que, na França, 70% dos percursos feitos de carro durante a semana ficam abaixo de 30 quilômetros. A média global é de 40 quilômetros. Mas como estava testando o carro, não poderia deixar de recarregá-lo. Fui a uma dessas estações de recarga que ficam dentro de garagens subterrâneas. Por pouco mais de uma hora de estacionamento e pela energia elétrica paguei € 4 (cerca de R$ 9). O carro ganhou apenas dez quilômetros de autonomia. Obviamente, se eu fosse um morador local, o procedimento caseiro sairia bem mais em conta. O uso do carro é igual ao de qualquer outro veículo. Basta girar a chave e, imediatamente, um sinal sonoro informa que a partida foi dada. O medidor de combustível é substituído por um indicador de carga da bateria. Por fora, o modelo lembra as minivans maiores da linha Citroën, como C4 Picasso e Grand C4 Picasso, mas seu comprimento é de apenas 3,48 metros. Não tem a pretensão de ser um modelo superespaçoso, mas cumpre, com louvor, o papel de transportar quatro pessoas. Sua distância entre-eixos é de 2,55 m. O porta-malas também não é dos mais amplos – tem apenas 166 litros, seguindo sua vocação urbana.

Citroën C-Zero

Motor elétrico, baterias de íons de lítio

Transmissão automática, monovelocidade, tração dianteira

Dimensões comp.: 3,48 m – larg.:1,48 m – alt.: 1,61 m

Entre-eixos2,550 m

Porta -malas 166 litros (860 litros com os bancos rebatidos)

Pneusnão disponível

Peso 1.120 kg

• ELETRICIDADE

Potência 67 cv a 2.500 rpm

Torque 18,4 kgfm de zero a 2.500 rpm

Velocidade Máxima 130 km/h 0 – 100 km/h 15 segundos (estimada)

Autonomia 130 km

Tempo de recarga tomada convencional: seis horas – posto de carregamento rápido: 30 minutos para uma recarga de 80% da capacidade

O nível de itens é de um médio brasileiro bem equipado: direção elétrica, ar, vidros elétricos, CD com Bluetooth e entrada USB e ABS nos freios. A aceleração de zero a 100 km/h se equipara à de um carro 1.0 (cerca de 15 segundos) e a máxima é de 130 km/h. Comercializado desde o último trimestre do ano passado na Europa, o C-Zero foi desenvolvido em colaboração com a Mitsubishi (na base do japonês i-MiEV) e chega ao consumidor por € 35.350, com direito a um bônus de € 5.000 do governo. Na prática, ele custa, na França, € 30.350 ou cerca de R$ 70.100. Um valor alto, mesmo para os europeus.

No painel, o básico: nível da carga, eficiência da direção e velocidade

Depois de devolver o C-Zero à Citroën, saí andando em direção à estação Saint Ouen do metrô parisiense e uma pergunta não saía da minha cabeça: como seria se todos (ou quase todos) os carros fossem iguais a ele?